Tempo
|
A+ / A-

​Chefe da diplomacia europeia não quer uma nova guerra fria EUA/China ou um bloco ocidental contra Pequim

10 mai, 2021 - 15:08 • José Pedro Frazão

Em entrevista à Renascença, Josep Borrell admite que haverá " algum tipo de conflito" entre a China e as outras potências mundiais, mas rejeita a ideia de uma frente composta por Estados Unidos e Europa contra o país liderado por Xi Jinping. O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros apela à China para entrar no xadrez global cumprindo as regras internacionais e coloca o processo negocial iraniano como a prioridade atual da relação entre a Europa e a nova administração norte-americana.

A+ / A-

Vai mesmo haver uma cimeira União Europeia- Estados Unidos em junho, à margem do primeiro encontro da Nato com a presença de Joe Biden como Presidente norte-americano. Em entrevista à Renascença, o chefe da diplomacia europeia diz que já não há problemas entre Bruxelas e Washington.

Quanto à China, é preciso que venha a jogo com as regras internacionais, defende Josep Borrell, desaconselhando a ideia de um bloco comum EUA/UE contra Pequim.

Há um tempo novo em Washington. Qual é o assunto mais urgente da agenda da nova relação transatlântica entre a União Europeia e os Estados Unidos?

Neste momento não temos nenhum elemento conflituante aberto com os Estados Unidos. Passámos de um desencontro generalizado a uma relação excecionalmente positiva. Acabo de estar em Londres com o Secretario de Estado norte-americano Blinken. Não temos conflitos e em vez disso há campos de cooperação muito importantes.

O primeiro é o acordo nuclear com o Irão. Estamos a negociar em Viena com uma participação muito intensa do Serviço de Ação Externa da União Europeia. Se só se conseguisse resolver isso, o mundo seria já um lugar muito mais seguro. Também temos que nos pôr de acordo em relação à nossa relação com a China. A relação com a China será o grande fator que definirá o mundo de amanhã.

A estratégia passa por um bloco com a Europa e a América contra a China?

Não. Não gosto nada da estratégia de blocos e contra-blocos. Fala-se muito que a Rússia está a aproximar-se da China e que vai ser formado um bloco de países autoritários contra os democratas. Eu não quero uma Internet balcanizada, dividida em pedaços, nem quero uma nova guerra fria.

Pelo contrário, creio que temos que procurar campos de cooperação. Nós só temos que defender os nossos valores e os nossos interesses. No plano dos valores, coincidimos muito com os Estados Unidos, somos duas democracias e economias de mercado. Os interesses nem sempre são os mesmos. Por isso creio que se pode ter uma relação com a China que necessariamente passa por encontrar pontos de cooperação.

Receia um conflito mais grave entre os Estados Unidos e a China?

Bom, está escrito na história que as potencias emergentes entram numa certa classe de conflito com as potencias dominantes. A China é chamada a jogar um papel à altura da sua dimensão, do seu tamanho e da sua capacidade de crescer. Em 40 anos, a China fez o que ninguém fez antes em todo o mundo. E nada vai impedir que a China tenha um papel neste mundo de acordo com a sua capacidade. O importante é que jogue esse papel de acordo com as normas internacionais tidas como aceites.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+