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António José Seguro acusa dirigentes europeus de "ambiguidade" e "falta de coragem política"

09 mai, 2021 - 18:33 • Susana Madureira Martins

O ex-líder do PS participou este domingo numa conferência sobre Europa em Cascais onde acusou os dirigentes europeus de "falta de coragem política", aconselhando-os a "não prometerem aquilo que não podem cumprir", deixando críticas às divergências entre os 27 estados-membros que impedem há um ano que a bazuca chegue aos cidadãos

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No dia da Europa, António José Seguro mostrou-se muito cético em relação ao futuro da União Europeia, mostrando-se mesmo preocupado com a eventual "fragmentação" desta a prazo se os dirigentes europeus não resolverem "as questões essenciais" e se continuarem a "varrer os problemas para debaixo da mesa".

O ex-secretário geral do PS, arredado da liderança do partido por António Costa nas eleições diretas de 2014, falava este domingo numa conferência organizada pela Associação Cívica "Nossa Europa" presidida pelo ex-eurodeputado do PSD Carlos Coelho, com Seguro a ser apresentado na nota de imprensa como estando "de regresso para falar de Europa".

A intervenção resumiu-se a isso mesmo e o "regresso" do ex-líder socialista foi absolutamente fugaz com Seguro a recusar falar com os jornalistas e apenas disponível para partilhar via correio eletrónico o discurso que proferiu.

Ora esse discurso foi carregado de críticas e com alvos certos: os dirigentes europeus, onde, claro está, se inclui o primeiro-ministro português António Costa que até junho irá presidir ao Conselho da União Europeia (UE).

A Costa e aos restantes líderes da UE, Seguro deixou a crítica sobre as "divergências profundas sempre que a Europa precisa de decidir e de responder prontamente aos problemas concretos das pessoas", acrescentando que essas "divisões paralisam a Europa, enfraquecem Europa e fazem com que a Europa esteja sempre a correr atrás do prejuízo".

O exemplo mais imediato apontado por António José Seguro é o Programa de Recuperação Europeu, a 'bazuca' de 1,8 biliões de euros que ainda não chegou ao terreno, sendo para o ex-líder do PS "inaceitável que a Europa, já sem a desculpa da presença do Reino Unido, ao fim de quinze meses ainda não tenha concluído o processo de aprovação do seu Plano de Recuperação Económico perante o sofrimento de pessoas e as dificuldades das empresas".

E torcendo ainda mais o parafuso de críticas, Seguro pediu que se comparassem "os cinco meses para aprovar o plano, mais dez meses para que esteja ratificado por todos os estados-membros" com "o tempo e os recursos financeiros envolvidos no plano dos Estados Unidos da América", acrescentando a pergunta "é assim que a Europa quer avançar?"

António José Seguro diz-se convicto que tudo isto acontece porque a "Europa persiste nessa sua ambiguidade e não quer responder a perguntas tão simples como que papel queremos ter no mundo", avisando que enquanto não se "responder com clareza" não se está "salvar a Europa" mas "a matar lentamente a Europa, caminhando para a irrelevância política mundial" alertando que não se pode excluir "a possibilidade da fragmentação" da UE.

Ambiguidade e duplicidade. São as duas principais críticas aos dirigentes europeus que Seguro acusa de "não quererem responder" a perguntas como "vamos ser um só mercado ou ter uma dimensão social?" ou ainda responder à questão se a Europa quer "ter uma moeda única e uma política monetária ou uma verdadeira União económica?".

O ex-líder do PS acusa os dirigentes europeus de não quererem responder a estas perguntas "porque receiam as consequências", acrescentando que os líderes dos 27 "seguem a lógica de que é preferível ignorar o problema do que criar ainda mais problemas" e referindo que "estão enganados, os maiores problemas que surgem na Europa são fruto da sua ambiguidade e da sua falta de coragem política".

Bom, crítica mais feroz e mais explícita a António Costa é difícil, sendo ele o primeiro-ministro português e também dirigente europeu, ainda com Seguro a acusar a UE e os seus líderes de escreverem "uma coisa e logo a seguir fazer outra como aconteceu o ano passado quando os líderes europeus aprovaram o mecanismo de defesa do Estado de direito associado aos instrumentos financeiros para logo a seguir se comprometerem a não o aplicarem de imediato", deixando um remoque de que "se trocaram valores por conveniências".

Na reta final do discurso que proferiu na Casa de Santa Maria em Cascais, Seguro defendeu que "se não existir um caminho claro a Europa, em vez de avançar com pequenos passos ficará a marcar passo" e de está a ser criada a "ilusão de que avançamos", sugerindo que não se criem "grandes expectativas aos europeus que de antemão sabem que não vão poder cumprir", acrescentando que "defraudar as expectativas enfraquece a confiança dos europeus nas instituições".

Perante uma plateia que incluiu o presidente da câmara de Cascais, Carlos Carreiras, o ex-ministro do CDS Luis Pedro Mota Soares e a ex-deputada do PSD e ex-militante do PCP, Zita Seabra, o ex-líder do PS referiu ainda como preocupações o desemprego dos jovens europeus em consequência da pandemia, a precariedade, a pobreza dos europeus e a questão demográfica, referindo que "se não fossem os imigrantes estaríamos pior".

Acompanhado pela filha, de blazer e sem gravata, Seguro terminou esta sessão no terraço da Casa de Santa Maria em Cascais, virado para a marina onde foi servido um "Carcavelos de honra".

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