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Covid-19: Nenhuma doença alérgica contraindica de forma absoluta toma da vacina

20 abr, 2021 - 13:31 • Lusa

Críticas da "desinformação" e das "notícias falsas ou erróneas" sobre o novo coronavírus, especialistas da área imunoalergologia lamentam que as pessoas tenham dificuldade em "encontrar as fontes e as orientações fidedignas de que necessitam".

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As vacinas contra a covid-19 atualmente em uso em Portugal podem ser administradas a pessoas com doença alérgica, embora alguns doentes devam fazer a toma sob vigilância em contexto hospitalar, alertam especialistas da área Imunoalergologia.

"Não existe atualmente nenhuma contraindicação absoluta [para a toma das vacinas contra a covid-19 no que se refere a doença alérgica]", disse à Lusa a médica imunoalergologista Ana Reis Ferreira.

A especialista, que é responsável pela triagem dos pedidos de consulta de Imunoalergologia para vacinação covid-19 no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), contrariou, assim, algumas ideias feitas sobre a toma da vacina contra a covid-19.

Esta convicção é partilhada por Patrícia Barreira, médica da consulta especifica de fármacos do mesmo hospital, e por Susana Cadinha, diretora de serviço de Imunoalergologia do CHVNG/E que, numa resposta escrita enviada à Lusa, referem que "atualmente, nenhuma doença alérgica contraindica de forma absoluta a toma da vacina contra a covid-19".

No entanto, as especialistas alertam que "alguns doentes deverão ser encaminhados para a consulta de Imunoalergologia para avaliação do risco e eventual administração da vacina sob vigilância, em meio hospitalar" caso manifestem determinados antecedentes.

Em causa estão situações como história de hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes, mastocitose sistémica e/ou doença proliferativa de mastócitos (células responsáveis pelas reações alérgicas), diagnóstico prévio de anafilaxia idiopática ou reações anafiláticas recorrentes e sem causa aparente, reação de hipersensibilidade confirmada a excipientes de outros medicamentos (incluindo vacinas), bem como reação anafilática (reação alérgica grave) a qualquer outra vacina, ou à dose anterior da vacina contra a covid-19.

As especialistas apontam que, nestes casos, e após avaliação na consulta de Imunoalergologia, "aos doentes que tiveram uma reação alérgica à primeira dose da vacina que contraindique a toma da segunda dose, poderá ser recomendado completar o esquema vacinal com uma vacina de outra marca".

Críticas da "desinformação" e das "notícias falsas ou erróneas" sobre o novo coronavírus, as especialistas do CHVNG/E lamentam que as pessoas tenham dificuldade em "encontrar as fontes e as orientações fidedignas de que necessitam", uma situação que pode conduzir a mitos e ideias preconcebidas também no que se refere à vacinação contra a covid-19.

"Este problema agravou-se com uma hipervalorização dos riscos das vacinas, muito inferiores aos seus benefícios, não só para a saúde dos cidadãos, mas também para a retoma económica", frisaram as médicas, aproveitando para defender a realização de "campanhas de informação validadas por grupos com demonstrado conhecimento na área", bem como a consulta de médicos e especialistas em caso de dúvida.

É o que fará Leopoldina Dias, de 72 anos, residente em Gondomar, a quem foi dito "há já tantos anos que é difícil precisar quando" que por ter uma doença de pele que é consequência de alergia a um produto chamado cloreto de mercúrio amoniacal, deve evitar determinados medicamentos, produtos e vacinas.

A septuagenária disse à Lusa que a última vacina que tomou foi a do tétano, em 18 de fevereiro de 1986, ou seja, há mais de três décadas.

"E a vacina da gripe nunca tomei na vida", disse, contando que aos 18 anos teve um acidente que a colocou quatro meses numa cama de hospital, seguindo-se anos de tratamentos e reabilitação, e, mais recentemente, um carcinoma na tiroide atualmente controlado, também a fez mostrar a garras de "mulher coragem" como lhe chamou o marido durante a entrevista à Lusa.

"Só com o acidente acho que fiquei imune a tudo. Não fico triste se não puder tomar [a vacina contra a covid-19]. O que tiver de ser, será. O meu marido [de 74 anos que já foi convocado para a vacinação] está mais preocupado que eu", descreveu.

Habituada a andar com os papeis que atestam ao que é alérgica, e nos quais se lê que deve evitar vacinas como a da febre convulsa, difteria, tétano, febre tifoide e influenza, Leopoldina Dias receava também a vacina contra a covid-19.

A este propósito, as especialistas do CHVNG/E foram diretas na resposta: "Nenhuma das vacinas contra a covid-19 atualmente disponíveis contêm timerosal ou outros conservantes com mercúrio", acrescentando que "a hipersensibilidade a este composto não constitui contraindicação para a vacinação".

Questionadas sobre outras dúvidas que poderão estar a suscitar receio por parte de algumas pessoas, nomeadamente doentes alérgicos a alimentos como ovo ou gelatina, produtos que por vezes estão presentes em algumas vacinas, ou ao látex, borracha presente em seringas e frascos, as especialistas admitem a alteração de procedimentos, mas voltam a frisar a segurança da vacina.

"Em doentes com alergia ao látex, recomenda-se que não sejam utilizadas luvas de látex pelo profissional de saúde (...). Nenhuma das vacinas contra a covid-19 atualmente disponíveis contém ovo, gelatina ou látex", referiram.

Aos asmáticos, recomendam que não suspendam a sua medicação habitual porque "a doença deve estar controlada para que a administração das vacinas seja mais segura".

Patrícia Barreira, Ana Reis Ferreira e Susana Cadinha admitem que "em alguns doentes, poderá estar indicada a administração da vacina em doses fracionadas ou pré-medicação com anti-histamínicos", contudo esta necessidade deverá ser avaliada "doente a doente pelo imunoalergologista, considerando a gravidade da reação prévia, outras doenças e a medicação habitual".

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.020.765 mortos no mundo, resultantes de mais de 141,2 milhões de casos de infeção, enquanto, em Portugal morreram 16.946 pessoas dos 831.221 casos de infeção confirmados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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PFT // JMR.

Lusa/Fim.

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