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Entrevista Bola Branca

Enzo Martínez. Com Coates como referência, amigo de Darwin Nuñez quer continuar em Tondela

01 abr, 2021 - 10:00 • Eduardo Soares da Silva

O defesa-central de 22 anos está emprestado pelo Peñarol ao clube da Beira Alta, mas não pondera regressar ao Uruguai. Em entrevista a Bola Branca, Enzo Martínez recorda a formação partilhada com Darwin Nuñez, as ambições de manutenção do Tondela e os objetivos de ser convocado pela seleção e chegar a um grande clube europeu.

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Enzo Martínez, defesa-central de 22 anos, chegou a Portugal no verão passado para reforçar o Tondela por empréstimo do Peñarol, mas já nem equaciona um regresso à América do Sul.

O jovem uruguaio admite as diferenças entre o Tondela e o gigante uruguaio, clube com 50 campeonatos conquistados e cinco Copa Libertadores, e recorda as dificuldades para convencer a direção dos "manyas" para permitir a sua saída para Portugal. Enzo Martínez despediu-se do Peñarol a 15 de setembro, contra o Colo-Colo, na Libertadores, e estreou-se em Portugal a 3 de outubro, contra o Sporting de Braga.

Em entrevista a Bola Branca, o defesa-central puxa a fica atrás e recorda a infância em Artigas, pequena cidade do norte do Uruguai, onde cresceu com Darwin Nuñez, avançado do Benfica com quem fez toda a sua carreira até 2019, quando o reforço mais caro da história do futebol português trocou o Uruguai por Almería.

Com os olhos colocados na seleção do Uruguai e Sebastián Coates como referência, Enzo Martínez mantém foco total em garantir a manutenção esta temporada no Tondela, clube que ocupa o 11º lugar da I Liga, mas apenas com mais cinco pontos do último classificado, numa reta final de campeonato que espera muito renhida.

O Enzo é de Artigas, uma pequena cidade no norte do Uruguai, quase na fronteira com o Brasil. Como começou o Enzo a jogar futebol?

Comecei a jogar no "baby football" do Wanderers de Artiguas com quatro anos. Comecei a jogar aí, fiz toda a formação aí até aos 14 anos, depois fui para o Peñarol fazer um teste, fui com o Darwin Nuñez, fomos juntos e fiquei na equipa até ao ano passado, quando vim para o Tondela. Estive uns oito anos no Peñarol.

Como foi a mudança de Artiguas para Montevideu?

Foi um bocado complicado como acho que é com todos. Era pequeno, fui para um sítio que não conhecia, não ia quase à capital. Tinha mais gente do interior, e outros jogadores que já conhecia e tornou-se mais fácil a adaptação.

Quando e como foi a estreia pela equipa principal do Peñarol?

Foi muito boa a estreia, foi no mesmo dia que o meu 20º aniversário, contra o Progreso e estava muito feliz. Entrei num jogo na primeira parte e acabei o jogo. Foi uma estreia muito bonita que fica para recordar para o resto da minha vida.

Porquê te chamam de "El Topo" [toupeira] no Uruguai?

Quando cheguei ao Peñarol para fazer os testes, o treinador-adjunto deu-me essa alcunha e ficou, até hoje em dia me chamam de Topo.

O Enzo afirmou-se na equipa principal na temporada seguinte, em 2019, mas perdeu espaço depois quando chegou o Lema, por empréstimo do Benfica. Correto?

Estava a jogar e decidiram contratar o Lema. Sabia que vinha de um clube grande, tinha experiência e teria de ser eu a sair e esperar um pouco mais. Sempre mantive-me focado no trabalho para melhorar e correu tudo bem.

O Enzo chega ao Tondela, que é um clube de uma dimensão mais pequena e de uma cidade pequena, vindo do Peñarol, que é um dos maiores clubes do Uruguai. Sentiu essa diferença?

Não foi muita diferença, adaptei-me o mais rapidamente possível para o meu bem. É uma experiência nova para mim, quando cheguei a Tondela todos me trataram bem, fizeram-me sentir parte desde que cheguei e adaptei-me. Cheguei e na mesma semana fiz a estreia contra o Braga, tudo facilitou a adaptação.

Mas no Peñarol jogava para ser campeão e o Tondela tem o objetivo de garantir a manutenção. É uma experiência em que nunca tinha estado...

Sim, é diferente, no Peñarol temos a obrigação de sermos campeões todos os anos e aqui temos a obrigação de garantir a manutenção. É uma experiência nova, mas tudo bem.

Como surge esta oportunidade de assinar pelo Tondela?

Surgiu de um dia para o outro e tudo aconteceu numa semana e meia. Falaram comigo para saber se tinha vontade de vir e eu queria trocar de ares. Estava complicado para o Peñarol me deixar sair, mas tudo aconteceu. Fiz o meu último jogo na Libertadores contra o Colo-Colo do Chile e uma semana depois estavam à minha espera a ver se me deixavam sair. Falei com eles para me deixarem vir e consegui.

O Peñarol não queria permitir a saída porquê?

Queriam que eu continuasse porque estávamos na Libertadores, a jogar competições importantes. No Peñarol damos muita importância à Libertadores e ao campeonato uruguaio e por isso estava complicada a minha saída.

Tinha outras propostas na altura?

Tive outras propostas quando começou a época e estive para ir para a Argentina, mas não aconteceu e continuei no Peñarol. Sabia que o Tondela era um passo importante para mim. Não é o mesmo jogar no Uruguai e na Europa, é uma vitrine diferente, uma oportunidade boa para mim, queria sair, ter outra oportunidade e uma experiência no estrangeiro. Disse logo que queria vir para viver uma experiência diferente, até porque sou jovem ainda.

As condições de treino diferem muito entre o Peñarol e o Tondela?

Há coisas diferentes sim, num clube grande há mais comodidades, temos de nos adaptar a tudo. Estou muito feliz aqui, não há problemas nenhuns e só quero melhorar.

Qual é o balanço que faz da temporada, a nível coletivo e individual?

Acho que a nível de grupo temos de melhorar muitas coisas, mas está tudo muito apertado na tabela. Se ganharmos dois jogos, subimos muito, se perdermos dois, caímos muito. Pessoalmente estou a fazer uma boa época, quero continuar a jogar assim, estou a sentir-me bem.

Estão em 11º lugar, com 25 pontos, mas só mais quatro do que os clubes que estão nos lugares de descida. Continuam a acreditar na manutenção?

Acreditamos sempre em nós, que é o mais importante. Estava a falar com o Coates e o Darwin que estamos a jogar muito bem em casa e queremos somar mais pontos fora, que é importante para nós.

Precisamente sobre esse registo, o Tondela tem as sete vitórias que somou todas em casa e ainda não ganhou fora. Como se explica este registo?

Não há uma explicação fácil, somos muito fortes em casa e fora começamos mal.. Alguns jogos começamos mal, mas não sei como acontece, temos de melhorar um pouco esse aspeto.

O Enzo é um central forte na construção e em sair a jogar, o treinador Pako Ayestarán já o elogiou por isso mesmo. Como se define e o que lhe pede o treinador Pako Ayestarán?

Sou um central com bom jogo aéreo, no ataque e defesa, e na construção tenho coisas boas. Estou a fazer uma boa época e quero continuar. O treinador pede que trate de melhorar e jogar. Vinha do Uruguai, era um futebol diferente, e quer que faça passes entre linhas para os médios ou para os avançados.

O Tondela já jogou com dois centrais e com três. É muito diferente para um central estes sistemas?

Não é muito diferente, não sinto muita diferença. Nunca tinha jogado com linha de cinco, sempre joguei com dois centrais, mas também sinto-me bem assim.

Já vamos ao Darwin Nuñez e ao Coates, mas no Peñarol foi colega de equipa do Cristian Rodríguez, que foi do FC Porto e Benfica. Falou com ele antes de vir para Portugal?

Veio ter comigo para me dizer para aproveitar quando soube que eu vinha, disse-me que era uma boa liga e uma boa vitrine. Disse para lhe ligar se precisasse de alguma coisa. Antes de vir, o Darwin já cá estava, falei com ele também para saber como era a liga.

É muito amigo do Darwin Nuñez? Já me falou que são oriundos da mesma cidade.

Sou muito amigo dele, somos da mesma cidade, fomos juntos para o Peñarol e fizemos toda a formação juntos. Fizemos praticamente a vida todos juntos. Ainda não jogamos um contra o outro, mas espero que sim. Trocámos a camisola quando jogámos na Luz, mas eu fiquei no banco.

O Darwin é o jogador mais caro do futebol português, mas tem ficado aquém das expetativas. Acha que tem tudo para ter sucesso no Benfica?

Obviamente que tem muita qualidade para subir o nível dele. Ele começou muito bem, caiu um pouco, mas tem muita qualidade e vai ser um grande jogador.

Referenciou há pouco o Coates. É uma referência para si, pela posição e pelo estatuto que já alcançou no futebol europeu e na seleção?

Sim, é uma referência como defesa-central. Tem muita experiência na seleção e joga num grande, é uma referência para mim.

Em Portugal, FC Porto, Benfica e Sporting dominam o campeonato nacional e no Uruguai é um pouco parecido, com dois clubes destacados, o Nacional e o Peñarol. Quais as diferenças?

Nesse sentido é meio parecido. O futebol aqui é muito mais de transição e de segurar a bola, no Uruguai é mais bola dividida e na força. Tive alguns colegas que me perguntaram como se jogava no Uruguai e é assim.

Com que jogadores se dá melhor no Tondela?

Dou-me bem com todos, mas estou muito com o Murillo e o Pedro Augusto, que são os outros sul-americanos do plantel.

Qual o jogador do Tondela que acha que pode dar um salto na carreira na próxima época?

Gosto muito do Tiago Almeida [lateral-direito de 19 anos], é um menino com muito futuro. Se continuar como está, acho que pode dar o salto.

Espera em breve, numa altura como estas de pausa internacional, dar uma entrevista porque está nos convocados para a seleção do Uruguai?

Sim, espero que um dia tenha essa possibilidade de ir à seleção. É um sonho de qualquer jogador representar o seu país.

Que outros objetivos tem na carreira?

Passar para uma equipa melhor, mas sempre pensar em melhorar dia a dia e jogar um dia na minha seleção.

Empréstimo é válido até ao fim da época, mas o Tondela tem cláusula de compra. O objetivo é ficar ou voltar ao Peñarol?

Gostaria de ficar no Tondela, sinto-me muito bem. Se houver essa possibilidade, gostaria de ficar. Gostaria de ficar na Europa, porque é complicado sair para um sul-americano. Agora já cá estou, se me habituar, gostaria de ficar muitos anos na Europa. Todos os jogadores querem chegar aos grandes, mas por agora ainda não me falaram de nada para a próxima época.

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