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Envelhecimento ativo

"Faço tudo o que me faz viver", diz Irene, de 88 anos

31 mar, 2021 - 11:39 • Manuela Pires

Na Universidade Sénior da Junta de Freguesia de Massamá e Monte Abraão o aluno mais novo tem 55 anos e o mais velho 91. Em altura de recolhimento por causa da pandemia, há 112 alunos inscritos para aulas à distância. E foram eles que pediram.

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Felisbela Mendes, coordenadora da Universidade Sénior da Junta de Freguesia de Massamá e Monte Abraão dá uma ajuda às alunas para ligarem o microfone e a câmara do computador. No ecrã aparecem Ricardina Bajança, 81 anos, e o marido José, com 89 anos de idade. Estão em casa, na sala de estar, e é a partir dali que assistem às aulas da universidade desde que o país voltou a confinar.

“Não foi difícil aceder à plataforma para assistir às aulas; tive ajuda da minha neta e agora já sei quais os botões em que tenho de carregar”, conta Ricardina à Renascença.

Ricardina foi professora primária. Reformada há vários anos, decidiu que ainda sobrava tempo depois de tratar da casa e, como já tinha ouvido falar na universidade sénior da junta de freguesia de Massamá e Monte Abraão, decidiu primeiro inscrever-se apenas na disciplina de Informática. Mas depois surgiram outras disciplinas.

“Para além da informática, matriculei-me na disciplina de Bens Culturais, onde anda também o meu marido, no Inglês e no Clube de Leitura. No princípio não parecia muito interessante, mas o professor fala sobre escritores e desperta-nos para vários assuntos que me passaram ao lado durante todos estes anos”, descreve Ricardina, sentada ao lado do marido.

A universidade sénior da junta de freguesia de Massamá e Monte Abraão, no concelho de Sintra, chegou a ter mais de 300 alunos, mas este ano estão matriculados 174. Atualmente, estão a assistir às aulas à distância 112 alunos, em 45 disciplinas. O aluno mais novo tem 55 anos e o mais velho 91 anos de idade.

Irene Espinha foi bibliotecária a vida inteira e, quando se reformou, passou a fazer voluntariado no Hospital de Santa Cruz. Irene tem 88 anos e diz que “é uma menina da rua e não de estar fechada em casa”. Por isso, quando, no ano passado, a pandemia a impediu de ir ao hospital, decidiu entrar na universidade.

“Dentro do que me é possível, adiro a tudo o que me faz viver, porque temos de lutar por uma vida a sério e não uma vida parada”, afirma à Renascença.

Irene começou primeiro pela Informática, depois inscreveu-se em disciplinas ligadas à saúde, porque ainda acredita que pode em breve regressar ao hospital. Irene foi a aluna que fez mais pressão junto da universidade para que mantivesse as aulas à distância.

“Tenho telemóvel, o meu neto já estragou o ‘tablet’, mas tenho aqui o computador e é muito fácil assistir às aulas”, admite.

“A situação que estamos a passar é muito difícil. O último chá que eu fui oferecer no hospital foi há precisamente um ano. A vida mudou para todos e para mim também, mas temos que dar a volta e isso eu tento”, conta Irene Espinha, que faz rasgados elogios aos responsáveis pela universidade sénior e está desejosa de regressar aos almoços e aos convívios com os colegas da universidade da junta de freguesia.

A professora que também é aluna

Mirjam Monteiro nasceu na Alemanha, mas veio para Portugal três semanas antes do 25 de abril de 1974. É tradutora, fala diversas línguas. Na universidade, é professora de alemão e aluna de holandês.

“A pronúncia é bastante difícil. Apesar de serem as duas línguas germânicas, a estrutura é muito diferente e eu tenho de pensar”, conta à reportagem da Renascença. Há apenas duas alunas a aprender holandês – a outra colega tem família na Holanda e isso motivou-a a aprender a língua.

Mirjam foi resistente às aulas pelo computador, apesar de ser alemã. Diz a sorrir que gosta muito do contacto, de estar perto das outras pessoas, mas acabou por ceder e agora reconhece que esta é uma forma de as pessoas continuarem juntas. Como professora de alemão, tem como objetivo ensinar estes alunos as noções básicas para poderem manter uma conversação.

A universidade sénior da junta de freguesia de Massamá e Monte Abraão oferece mais de 50 disciplinas, desde as línguas, ao cavaquinho Ukelele, passando pela alfabetização para adultos, a cultura africana e o yoga.

Mas uma das disciplinas mais concorridas é a Informática. José Carlos Batista é assistente técnico de telecomunicações e há cinco ano que dá estas aulas na universidade.

“Muitos alunos apareciam com computadores que nem sequer sabiam ligar. Primeiro, fazíamos jogos de cartas para os ajudar a trabalhar com o rato, depois trabalhámos com as aplicações que vêm com o Windows, como o Paint, porque eles gostam de fazer desenhos”, explica.

O professor José Carlos Batista diz que todos os seus alunos são muito interessados e têm um grande espírito de entreajuda. Com as aulas à distância, reconhece que no início foi complicado. “Levou ainda algum tempo, mas os alunos telefonavam-me e eu explicava o que tinham de fazer e agora já é facílimo. Tenho duas turmas que entram sempre bem nas aulas”, conta o professor.

A universidade sénior da Junta de Freguesia de Massamá e Monte Abraão abriu em setembro de 2008 com 115 alunos e 17 disciplinas. Em 2015, as instalações foram ampliadas e, no ano letivo 2016/2017, foram inauguradas as instalações de Monte Abraão, dando início a uma nova etapa desta universidade sénior, tendo sido também possível alargar a oferta a um maior leque da população da freguesia.

Em 2019/2020, registaram-se 67 disciplinas e 342 alunos. Atualmente, há aulas a partir de Inglaterra e até da África do Sul.

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