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Myanmar. Cardeal Charles Bo apela à população para não pegar em armas

26 mar, 2021 - 11:04 • Olímpia Mairos

Desde o golpe militar a 1 de fevereiro já morreram 320 pessoas, na sua maioria civis.

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O cardeal Charle Bo, em carta dirigida aos manifestantes que protestam contra o golpe militar em Mynmar (antiga Birmânia), lança um apelo emotivo implorando para que ninguém se desvie dos caminhos da paz.

Admitindo que houve “violência brutal contra o povo e que torna cada vez mais impossível a manifestação pacífica”, o cardeal exorta os opositores ao golpe militar a mostrarem contenção.

Na carta, cuja cópia foi enviada à Fundação AIS, o cardeal reconhece a “dor, raiva e trauma” dos manifestantes, implorando a que ninguém siga o caminho da violência.

“O vosso impressionante movimento ganhou atenção, solidariedade, admiração e apoio a nível mundial, devido à sua natureza pacífica, até agora”, escreve o líder da Igreja Católica em Myanmar, em carta citada pela fundação pontifícia.

Na missiva, o cardeal Charles Bo explica que “todas as tradições religiosas aderem à não-violência porque toda a violência é intrinsecamente má”.

“A violência traz maior violência”, reforça.

Esta não é a primeira vez que o líder da Igreja Católica apela à não-violência. No domingo, dia 14 de março, dia em que se calcula terem sido abatidas pelas forças de segurança pelo menos 78 pessoas, o cardeal Charle Bo tinha pedido para se evitar a todo o custo o derramamento de sangue.


320 pessoas morreram nos confrontos

Na conferência de imprensa da passada quarta-feira, dia 23 de março, na capital, em Naypyidaw, o porta-voz dos militares, General Zaw Min Tun, afirmou que tinham sido mortos 164 manifestantes, no entanto, os números divulgados pela Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP) de Myanmar indicam que o número de vítimas mortais da violência da polícia e dos soldados de Myanmar, desde o golpe de Estado de 1 de fevereiro, aumentou para 320, sendo a maior parte civis mortos durante manifestações de protesto contra os militares.

A AAPP, organização não-governamental birmanesa, indica num relatório divulgado hoje que 90% de 195 vítimas foram abatidas com disparos de armas de fogo na cabeça, sobretudo nas cidades de Rangum e Mandalay, e em povoações dos estados de Shan e Kachin.

A primeira vítima da violência da polícia e do Exército registou-se no dia 08 de fevereiro, tendo a maioria das mortes ocorrido no mês de março.

A revolta ganhou uma força maior pelo facto de algumas das vítimas serem crianças. A última terá sido uma menina de sete anos que foi morta na cidade de Mandalay, quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes, em mais um dia de protestos, tornando-se, assim, na mais jovem vítima da repressão após o golpe militar do mês passado.

A 1 de fevereiro, o exército do Myanmar prendeu a chefe do governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.

Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes.

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