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​Carlos Matias Ramos

Quanto custa um aeroporto?

25 mar, 2021 • Opinião de Opinião


Ex-presidente do LNEC Carlos Matias Ramos responde ao presidente da ANA sobre custos do aeroporto.

No dia 17 de março o Presidente da ANA, Dr. Luís Arnaut, deu uma entrevista à Rádio Renascença, na qual o entrevistado se revelou igual a si próprio.

Não se limitou às afirmações habituais de desinformação sobre o processo que conduziu à existência da solução aeroportuária no Montijo, distorcendo os factos.

Na sequência de uma pergunta concreta e objetiva da jornalista Eunice Lourenço, da RR, sobre as diferenças existentes entre as estimativas de custo de construção do aeroporto no Montijo e no Campo de Tiro de Alcochete (CTA), o entrevistado, em vez de responder à questão direta que lhe foi colocada, optou pela injúria a quem apenas cometeu o "crime" de emitir opiniões sustentadas e escreveu artigos onde ponho a nu, salvo melhor opinião, a verdade dos factos.

Ao contrário do que o entrevistado afirmou, nunca o chamei de mentiroso. Tenho suficiente educação para, na falta de argumentos, não utilizar ofensas a quem tem opiniões contrárias.

O artigo no Expresso do dia 12, que tanto o terá incomodado, foi intitulado "Aeroporto de Lisboa. Das declarações do presidente da ANA à verdade dos fatos".

Nesse artigo, com as limitações de espaço naturais em jornalismo, analiso as declarações do Dr. Luís Arnaut e apresento factos. No que se refere ao novo aeroporto de Lisboa (NAL) reproduzo os valores que constam de relatórios solicitados pela ANA e que o seu presidente não pode ignorar.

No que se refere ao Montijo pedi, em diversas ocasiões, que fossem disponibilizados os estudos projetos da ANA que possam justificar, do ponto de vista técnico, as afirmações que o Dr. Luís Arnaut repetidamente propala e que têm sido replicadas em alguma comunicação social. Eu e muitas pessoas interessadas na verdade não os temos, apesar de repetidamente terem sido solicitados. Não serão segredo de Estado.

O Dr. Luís Arnaut, em vez de, como referi, dar resposta à questão concreta que lhe foi colocada, optou pela injúria, pelo ataque pessoal e por afirmações demagógicas especulando sobre quem comunga das mesmas opiniões. A demagogia não é uma atitude séria. Integra a fuga à resposta à pergunta que lhe foi colocada.

Injúria concretizada na frase que passo a citar "Há algumas pessoas, como o ex-presidente do LNEC Matias Ramos, que discutem de uma forma quixotesca esta questão dos custos (…), mas que nunca construíram um aeroporto nem do Lego".

Utiliza depois outros "mimos" afirmando que eu há 11 anos, após ter deixado a presidência do LNEC, fiquei afastado do conhecimento.

Estranha forma de responder. Em relação a este "mimo", informo o Dr. Arnaut que, depois de sair de presidente do LNEC, fui Bastonário da Ordem dos Engenheiros, tenho sido consultor em vários estudos e projetos, professor universitário, proferido várias conferências no país e no estrangeiro, tendo publicado no final do ano passado, em coautoria, um livro sobre Engenharia Civil. Não calcei pantufas.

O meu currículo fala por si e não preciso de o defender. É transparente e baseia-se numa atividade profissional sustentada na investigação e em estudos e projetos que tive o prazer de coordenar ou colaborar. Os cargos que ocupei foram, ou por eleição (Bastonário), ou por convite e não por pertencer a grupos particulares que são muitas vezes utilizados apenas para obter vantagens pessoais.

Atingi o topo da carreira de investigação sempre com base em concursos públicos. Sou autor ou coautor de diversos livros e memórias técnicas, de mais de uma centena de artigos em reuniões nacionais e internacionais e de meia centena de estudos e projetos de grandes infraestruturas no país e no estrangeiro. É fácil consultar o meu currículo.

Tive sempre uma única preocupação. Desempenhar, com lealdade, as funções que me eram confiadas no serviço público. Fi-lo sempre com o único propósito. A defesa dos interesses do país e nunca o interesse pessoal. Fui sempre reconhecido inter pares, sendo membro efetivo da Academia de Engenharia. A resposta dada pela Ordem dos Engenheiros, em comunicado, ao conteúdo da entrevista do Dr. Luís Arnaut, é esclarecedora.

Na minha atividade de consultor participei em projetos de grande dimensão no país e no estrangeiro. Fui Diretor Técnico de uma grande empresa de projetos. Sei bem o que é um projeto de engenharia civil de qualquer natureza e como se determinam custos e prazos de execução. Participei em muitos. Por isso não recebo recados do Dr. Luís Arnaut nesta matéria.

A sua afirmação que nunca "construí um aeroporto nem do Lego", e que as minhas intervenções têm sido de forma "quixotesca" revelam bem a intenção o Presidente da ANA de, na falta de argumentos sérios e justificados, utilizar palavras injuriosas.

Quanto ao Lego quero informá-lo que sou filho de emigrantes e que nunca tive um Lego ou brinquedo semelhante. Tive sim um percurso académico que, com o apoio de pessoas que não esqueço e da Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, me permitiram chegar onde cheguei.

Não o consegui pelo "berço". Na minha vida tentei sempre ser honesto, pragmático e não "quixotesco". Segui sempre o lema "com perseverança tudo se alcança". O que alcancei foi sempre transparente e com comportamento cívico de que me orgulho. Defendi sempre a necessidade de um estado forte na defesa do interesse dos cidadãos e nunca aproveitei as fraquezas de um estado fraco.

Lamento que o Dr. Luís Arnaut tenha optado pela ofensa pessoal e pelo ataque à minha dignidade profissional e, mais uma vez, se tenha refugiado em afirmações sem fundamento, e mais grave proferidas na minha ausência. Porque recusa o confronto direto e não disponibiliza os documentos (estudos e projetos) que devem existir e que refere como sendo a base das suas afirmações? São estudos que necessariamente foram elaborados pela ANA ou resultantes de contratos e que não serão, na parte técnica, segredo de estado.

O Presidente da ANA não pode argumentar que não conhece os relatórios elaborado por consultores internacionais da NAER/ANA que integram os Planos Diretores da ANA, onde constam as estimativas de custo de construção do novo aeroporto de Lisboa (NAL) no Campo e Tiro de Alcochete (CTA) e os prazos de execução.

No que se refere a estimativas de custo, o valor constante do estudo contratado pela ANA/NAER, realizado por consultores internacionais de grande prestígio, é de 1,9 mil milhões de euros. Repito, para que não haja dúvidas, de 1,9 mil milhões de euros. Este valor corresponde à solução final do NAL com duas pistas independentes, com comprimento de 4000m e com capacidade para 100 movimentos por hora (o Montijo, sem poder receber todo o tipo de aviões, terá a capacidade máxima de 24).

Não corresponde à solução da primeira fase de construção no CTA com pista única e instalações de terra e ar análogas às do Montijo. Essa comparação é que é justa. Afirmações credíveis pressupõem comparações considerando soluções análogas. Só se pode comparar o que é comparável. Não se compara um Ferrari com um carro utilitário.

Quanto ao prazo de construção do aeroporto no CTA, com duas pistas e não com uma e limitada (Montijo), é recorrente a afirmação do Dr. Luís Arnaut que será de 8 anos. O presidente da ANA tem na empresa documentos que definem o prazo para a solução no CTA com duas pistas com sendo de cinco anos. Porquê a distorção dos factos? A título informativo refiro que a construção do novo aeroporto de Istambul, com capacidade para 90 milhões de utilizadores (mais do dobro da capacidade máxima da Portela), foi construído em menos de 4 anos e meio. Para quê a distorção dos factos.

O presidente da ANA tem referido, com frequência, que a solução de aeroporto no Montijo resulta da "reciclagem" da BA6. A construção do aeroporto no Montijo não aproveitará praticamente nada do que lá existe. Aproveitará o espaço. O Dr. Luís Arnaut deve saber desta situação, mas faz afirmações que não correspondem à verdade dos factos. Expliquei isso em artigos anteriores. Demonstre que estou numa atitude "quixotesca". Mostre a solução real, sem PowerPoints, para o Montijo e apresente os seus custos. Terei o maior gosto em os analisar e em fazer o mea culpa se o que tenho afirmado não corresponder à verdade.

Uma pergunta ao Dr. Luís Arnaut. Porque foge ao confronto direto e utiliza em sua substituição a injúria, a quem no local onde as faz não se pode defender? Que eu saiba só cometi o "crime" de o confrontar com factos que, até prova em contrário, não consegue desmentir.

A terminar quero fazer um agradecimento à Rádio Renascença por me ter proporcionado a colocação no seu site da resposta possível às afirmações caluniosas do Dr. Luís Arnaut.


Carlos Matias Ramos é ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

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