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Jovens valorizam a privacidade nos cuidados de saúde

24 mar, 2021 - 19:04 • Filomena Barros

Já não vão ao pediatra e o médico de família nem sempre é a melhor solução, afirma Helena Fonseca, da Unidade de Medicina do Adolescente do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria. Semana Internacional da Saúde do Adolescente, decorre entre 21 e 27 de março.

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Consciencializar para a importância dos cuidados de saúde para os jovens até aos 25 anos é o objetivo da Semana Internacional da Saúde do Adolescente, entre 21 e 27 de março.

Desde logo, a definição das idades quando se fala de jovens adolescentes: “o grupo etário da adolescência é a segunda década da vida, dos 10 aos 19 anos, é a definição clássica da Organização Mundial de Saúde, mas cada vez mais se tende a incluir o adulto jovem, até aos 25 anos, neste grupo”, explica Helena Fonseca, responsável da Unidade de Medicina do Adolescente do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria.

A médica defende mais atenção para uma faixa etária que tem sido esquecida, e “que se caracteriza por um potencial inesgotável, mas também por uma vulnerabilidade muito elevada, devido ao seu rápido desenvolvimento bio-psico-social que vai condicionar necessidades específicas que são distintas da criança e do adulto”.

“Nós costumamos dizer que o adolescente não é uma criança grande nem um adulto pequeno”, sublinha.

O pediatra não resolve e o médico de família pode não ser a melhor opção, porque conhecem o adolescente desde criança ou relacionam-se com a família, e isso não garante um aspeto que os jovens valorizam: a privacidade.

“No caso do médico de família, como o nome indica, é o médico “da” família, portanto, conhece os pais, os irmãos, os avós… e há, de facto, algum receio de fuga da confidencialidade. E quando o adolescente tem verdadeiramente um problema que o incomoda muito, o anonimato é algo que ele preza muito, o anonimato e a privacidade”.

Por causa do confinamento, Helena Fonseca teve de dar algumas teleconsultas e percebeu os obstáculos para conversar com os seus pacientes, apontando as “dificuldades que a maioria dos adolescentes sentia para conseguir poder falar com algum sigilo comigo, por telefone, porque havia sempre um irmão mais novo que estava ao lado ou a mãe, e eu, às vezes, tinha de voltar a ligar em horas mais convenientes, fora da hora que estava calendarizada”.

Agora já retomou as consultas presenciais, porque é importante estar cara a cara com os jovens, e, desde logo, regista mais pedidos de acompanhamento por causa de ansiedade, problemas de socialização e de aumento da obesidade.

Fechados em casa, os jovens ficaram mais sedentários e, muitas vezes, procuram respostas na internet.

No entender da médica “exatamente porque estes cuidados de saúde não estão tão acessíveis como desejaríamos, muitas vezes o jovem vai acabar por pesquisar online questões que o preocupam, que estão relacionadas com a sua saúde e bem estar, e isto verificou-se, como é óbvio, muito mais neste tempo de pandemia em que eles estão mais tempo em frente ao ecrã, e também por estarem confinados têm mais dificuldades do que em tempos comuns de recorrer aos serviços de saúde.”

Helena Fonseca defende a formação de médicos vocacionados para acompanhar os jovens adolescentes, até aos 25 anos de idade, e podem ser profissionais vindos de diversas áreas, como “um médico de família, um pediatra, ginecologista, psiquiatra, médico de medicina interna, que pudessem ter uma formação suplementar nesta área da medicina da adolescência”.

A Unidade de Medicina do Adolescente do Departamento de Pediatria do Hospital Santa Maria está a acompanhar, nesta altura, de forma regular, cerca de 400 jovens, de todo o país.

A Unidade participa na Semana Internacional da Saúde do Adolescente, que tem por mote "Como estaria o teu EU a viver esta pandemia?" e incluiu debates virtuais com alunos da Escola Artística António Arroio, em Lisboa.

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