19 mar, 2021 - 16:30 • Rosário Silva
Reforçar a capacidade de adaptação das populações locais do Alentejo Central ao efeito das ondas de calor na saúde pública, é a finalidade do projeto “Além Risco”, desenvolvido pela Science Retreats, empresa criada pelo reconhecido cientista ambiental Miguel Bastos Araújo.
Inaugurado no próximo domingo, Dia Internacional das Florestas, o projeto pretende envolver os cidadãos na plantação de 50 mil árvores nos aglomerados urbanos do Alentejo Central, reduzindo o efeito de “ilha de calor” por eles criados.
“A exposição a ondas de calor pode conduzir à desidratação, ao agravamento de doenças crónicas, ao esgotamento ou golpes de calor, que podem resultar em danos irreversíveis na saúde, podendo inclusivamente conduzir à perda de vida”, assinala a descrição sumária do projeto a que a Renascença teve acesso.
O documento salienta que “as ondas de calor são um fator de iniquidade social”, atingindo, sobretudo, os mais vulneráveis, como “os idosos, as crianças, os indivíduos que se encontram acamados ou fragilizados por alguma outra patologia, os que vivem sozinhos ou os que habitem nos últimos andares dos edifícios”.
Na elaboração do projeto, a equipa liderada pelo Prémio Pessoa 2018 recorreu a modelos climáticos que preveem o aumento da magnitude, frequência e duração de ondas por todo o país, com particular incidência no Alentejo.
“Para o Alentejo Central, no horizonte 2040-70, os modelos preveem que as ondas de calor ascendam de 7 a 17 dias”, é referido, para justificar a adoção de medidas preventivas, sem as quais será inevitável o aumento da morbilidade e mortalidade humanas.
Com um tempo limitado de duração, o “Além Risco”, projeto inovador a inaugurar a 21 de março, ficará concluído a 30 de dezembro de 2022. Até lá, há um conjunto de atividades a realizar, divididas por três eixos.
O primeiro aponta para a elaboração de um manual de boas práticas que suporte a criação de espaços verdes eco-eficientes e resilientes às alterações climáticas, “adaptado às condições edáficas e climáticas do Alentejo Central, com vista a melhorar as condições térmicas dos aglomerados urbanos quando expostos a ondas de calor”.
Quanto ao segundo eixo, consiste numa campanha de sensibilização e recrutamento de parcerias para a criação de laboratórios vivos, nomeadamente para a plantação de árvores, o que está previsto no terceiro eixo, com a participação das comunidades locais, das autarquias e de outras entidades envolvidas no projeto.
Projeto inovador para perdurar no tempo
Sobre os benefícios do “Além Risco”, contactada pela Renascença, fonte ligada ao projeto antevê “impactos sociais positivos que se vão prolongar por décadas após a conclusão do projeto”, já para não falar da “transformação da paisagem urbana do Alentejo Central”, em consequência da plantação das 50.000 árvores, proporcionando “inúmeros espaços de sombra para usufruto das atuais, mas essencialmente futuras gerações.”
Outra das mais-valias do projeto, prende-se, segundo a mesma fonte, com “a reflexão que será feita, com impacto significativo na hora de desenhar novos espaços de ensombramento nas cidades no âmbito de iniciativas públicas, associativas e privadas”.
A mobilização “sem precedentes” da população alentejana para um objetivo comum, com “uma grande motivação das escolas, contribuindo para a construção de uma melhor cidadania”, é outro aspeto destacado.
“Apesar de ser limitado no tempo e na ação, acreditamos que os efeitos deste projeto inovador vão perdurar no tempo e no decurso de vida de gerações”, atesta a equipa da Science Retreats.
A inauguração está prevista para dia 21 de março, próximo domingo, a partir das 10h00, no município de Évora, seguindo-se, mais tarde, a plantação simbólica de árvores no jardim do mercado da vila do Alandroal.
Colaboram no projeto, entre outras entidades, a CIMAC - Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, as Fundações Calouste Gulbenkian e Eugénio de Almeida, a Universidade de Évora, Direção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo e a EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, tendo como parceiro a Globalmoza- Partnerships for Humanity.
O projeto é financiado pelo EEAGrants Portugal – Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu.