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Ciclone Idai. “As pessoas ainda se estão a levantar”

14 mar, 2021 - 13:00 • Henrique Cunha

"O ciclone Idai ainda está muito presente na memória e nos discursos."

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Moçambique continua a precisar de ajuda, dois anos depois da passagem do ciclone Idai. "As pessoas ainda se estão a levantar”, diz à Renascença Isabel Fernandes, da HELPO, organização não-governamental para o desenvolvimento a trabalhar desde 2008 em Moçambique.

"Passados estes dois anos, é preciso continuar a ajudar porque tem havido mais ciclones e ainda no mês de Janeiro passaram aqui dois ciclones que fizeram mais efeitos adversos nestas comunidades”, relata a responsável que coordena um dos projetos desenvolvidos pela HELPO, o Respi, que apoia milhares de grávidas e crianças.

"O ciclone Idai ainda está muito presente na memória e nos discursos e as pessoas ainda continuam, muitas delas, a viver nas suas tendas", aponta, acrescentando: "A ajuda externa vai ser necessária por muito tempo."

Este domingo, assinalam-se dois anos sobre a passagem do Idai, ciclone que atingiu a região centro do país, sobretudo as províncias de Sofala e de Manica.

A tragédia mobilizou os portugueses no apoio às vítimas e a HELPO centra a sua ação na saúde nutricional materno-infantil e sublinha o muito que ainda está por fazer.

"O Respi foi um dos projetos que foi aprovado através de um financiamento do instituto Camões e é o único que está a ser implementado na região de Manica”.

A intervenção está centrada em duas unidades de saúde do Posto Administrativo do Dombe que servem mais de 62 mil habitantes. De acordo com Isabel Fernandes, “o objetivo é melhorar as condições de saúde - principalmente ao nível da nutrição, água e saneamento - das crianças abaixo dos cinco anos e das mulheres gravidas e lactantes”.

“Temos dois eixos muito fortes: o eixo de apoio às unidades de saúde, onde damos apoio técnico de saúde para dar melhores respostas às necessidades, e também estamos a contruir infraestruturas. Estamos a construir um bloco de internamento para as crianças desnutridas porque as crianças não têm um sítio só para elas quando precisam de ser internadas e ficam com adultos com diferentes patologias, sendo que o internamento está em fase de conclusão”, revela a responsável.

A HELPO é uma organização não governamental para o desenvolvimento com atividade desde 2008 em Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, chegando, atualmente, a cerca de 57 mil crianças.

A HELPO atua em 101 focos de intervenção, através da construção de escolas, bibliotecas, creches, centros de nutrição, cantinas escolares, sistemas de aproveitamento de águas pluviais, formação comunitária, educação para a saúde, assistência e formação contínua. A ONGD financia estas atividades através de diversos programas, nomeadamente, Programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância, donativos livres, projetos financiados por agências internacionais e empresas.

O coordenador nacional da Helpo em Moçambique, Carlos Almeida, refere que “a organização apoia mais de 13 mil pessoas, em nove reassentamentos na Província de Manica, centrando a sua ação na saúde nutricional materno-infantil”.

Em declarações à Renascença, Carlos Almeida afirma que a HELPO tem de continuar a privilegiar a saúde e a educação, pois “ a educação é a base de tudo e este investimento em educação em Moçambique tem um peso completamente diferente do que tem aqui em Portugal”.

Eu dou sempre o exemplo das meninas que, se deixam de estudar nos meios rurais aos doze anos, quando chegam aos 13 anos são mães, numa altura em que os seus corpos não estão preparados, quando elas não sabem sequer que há outra alternativa”, refere.

“Se as meninas tiverem acesso à escola e estudarem durante mais tempo entram mais coisas na cabeça e pode ser que se salve uma geração”, acrescenta.

A Helpo está desde 2008 a trabalhar em Nampula e em Cabo Delgado e o socorro às vítimas do Idai foi um novo desafio que levou a organização a outras zonas do território.

Quando passam dois anos do Idai em Moçambique, Carlos Almeida recorda o cenário que encontrou poucos dias depois da passagem do ciclone: “Eu tive oportunidade de chegar juntamente com a equipa de nutricionistas no inico de abril, alguns dias depois da passagem do ciclone, e aquilo que vimos foi um cenário perfeitamente catastrófico e pessoas muito traumatizadas e ainda a sofrer as consequências daquele grande evento.

A Helpo “inicialmente, começou uma missão de emergência que estava prevista ter a duração de três meses, mas, fruto dos bons resultados de uma campanha, que, na altura, organizamos, foi possível estender essa missão de emergência por seis meses”.

Carlos Almeida recorda que “a campanha decorreu muito bem - quer a recolha de bens, quer a de recolha de fundos - e agradece “à Rádio Renascença, que se aliou à iniciativa”.

No terreno, o objetivo da Helpo é de acordo com Carlos Almeida ajudar as populações a serem “autossuficientes e capazes de identificar casos de desnutrição” e para isso continua a organizar “formações ao nível de segurança alimentar”, até porque “às vezes as populações têm acesso a alimentos que não sabem que são valiosos e às vezes até por questões culturais não os consomem quando a terra pode dar muitas coisas boas”.

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