Youtuber DavidGYT e as promessas de lucro fácil. Pedro perdeu 15 mil euros

12 mar, 2021 - 08:26 • Inês Rocha

Dono da Wevesting (antiga Global Youth Trading) prometia aos clientes que chegariam aos 5 milhões de euros de lucro em menos de seis anos, com um investimento de apenas 350 euros no mercado Forex. O youtuber ganha comissões por cada cliente que referencia ao site internacional da BDSwiss, que não cumpre os regulamentos europeus e permite taxas de alavancagem até 1:500. Só em 2019, faturou 1,2 milhões de euros. A Renascença falou com a CMVM, a Deco, a PGR e advogados especializados na área.

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É um dos visados na petição pública que já motivou a abertura de um inquérito pelo Ministério Público e terá alegadamente atraído milhares de pessoas para a sua empresa com promessas de enriquecimento fácil. David Soares, ou DavidGYT, como se apresenta nas redes sociais, tem 224 mil seguidores no Instagram e 108 mil no YouTube.

Apresenta-se como “especialista” no mercado Forex, um mercado de divisas estrangeiras, e é CEO da Wevesting, antiga Global Youth Trading (GYT).

É conhecido pelos vídeos e fotografias que publica onde exibe um estilo de vida de ostentação, com relógios de diamantes, casas e carros de luxo.


Nas últimas semanas, tem sido acusado de burlar jovens sem experiência no mercado financeiro, aliciando-os com promessas de enriquecimento rápido.

“Tenho acompanhado este tipo de esquemas desde 2019. Quase que caía nas mentiras deles”, conta à Renascença um dos autores da página “Analisador Traders”, que tem sido uma das vozes mais ativas na tentativa de expor as alegadas ilegalidades cometidas por este e outros 'influencers'.

A página fez um apelo a todos os lesados das empresas de David Soares para que partilhassem as suas histórias. Em menos de dois dias, receberam mais de 200 denúncias de pessoas que perderam dinheiro ao aderir aos serviços do youtuber.

Mas o número de lesados será bem superior. Segundo o autor da página, atualmente, no grupo privado no Telegram (onde estão apenas clientes do serviço) estão entre 5 a 6 mil pessoas. Muitos entram no grupo e acabam por sair, quando perdem dinheiro e desistem de investir.

João (nome fictício), um dos autores da página “Analisador Traders”, prefere não ser identificado por medo de represálias por parte dos visados.

“Nós estamos a pensar divulgar a nossa identidade depois de garantirmos que temos total apoio jurídico. Ao início não demos a cara porque temos medo de sofrer consequências em termos de integridade física”, afirma em declarações à Renascença.

João garante que os receios não são infundados. Conta que o autor de uma conhecida página de Instagram que colaborou na divulgação do projeto foi vítima de ameaças na própria casa por David Soares (DavidGYT) e João Barbosa (Numeiro). O momento foi gravado, em áudio, pela vítima.


Denunciar estes esquemas, para os autores da página, que se transformaram numa pequena comunidade, é “um serviço público”. "É só esse o nosso propósito”, garante João.

A Renascença enviou uma mensagem à Wevesting a pedir esclarecimentos pelo único meio disponível no site, mas até ao fecho desta edição não recebeu resposta.

David prometia ganhos de 500% ao ano com apenas 350 euros de investimento

Apesar de, nos últimos dias, David Soares ter começado a acrescentar “disclaimers” em todas as suas páginas, que indicam que “entre 74-89% das contas CFDs de retalho perdem dinheiro”, esse não era o discurso do 'influencer' antes de estar no centro das atenções mediáticas.

Numa “story” do Instagram, ainda antes de mudar o nome do negócio para Wevesting, David prometia aos seus seguidores ganhos de 500% ao ano, se seguissem as suas “trades”.

David mostrava uma tabela que indicava que uma pessoa que tivesse investido 350 euros na corretora com quem tem parceria, e que seguisse as suas indicações, ao fim de um ano teria ganho 1.960,60 euros.

Daí, o youtuber fez uma conta simples, com base na ideia de que o crescimento seria sempre na ordem dos 500% e nunca iria errar. Por essa ordem de ideias, segundo David, a mesma pessoa que tinha investido 350 euros, passados sete anos, já teria 6,9 milhões de euros. A crescer a este ritmo, no ano seguinte teria 34,3 milhões de euros.

O 'influencer' apagou entretanto este vídeo, mas ele foi republicado em várias contas do YouTube.

André Gouveia, analista financeiro na DECO Proteste, compara esta promessa com uma promessa de ganhar a lotaria: “possível é, por causa da alavancagem. Mas a probabilidade é mínima; é muito mais provável perder o dinheiro todo”.

O analista ironiza: “se tem uma forma de ganhar 500% ao ano, passados 15 anos já tinha mais do que o PIB português”, não precisava de andar a vender cursos. São valores que não fazem sentido”.

Habituado a receber reclamações relacionadas com várias empresas deste género, André Gouveia garante que, “ano após ano, na DECO Proteste, encontramos muita gente a dizer que tem a fórmula mágica, mas todos falham”.

Pedro perdeu 15 mil euros aos 21 anos

Foram vídeos como estes, com promessas de enriquecimento fácil, que fizeram com que Pedro (nome fictício) perdesse quase todas as suas poupanças, aos 21 anos.

“Entrei no grupo do David em 2018”, conta à Renascença. “Estava com amigos, tinha acabado de fazer o 12.º ano, e um dos meus amigos disse que tinha entrado num grupo de Forex”.

Pedro começou a seguir DavidGYT nas redes sociais e deslumbrou-se com “aquele lifestyle que qualquer um quer ter”. Diz que se sentiu aliciado a entrar no grupo “porque toda a gente quer uma vida daquelas”.


Pedro decidiu aderir à Global Youth Trading. Para isso, tinha de criar uma conta na corretora que David indicava – a BDSwiss – e depositar um valor mínimo de 350 euros. Depois disso, seria só “copiar as trades” que o 'influencer' lhe enviasse, sem precisar de perceber muito do assunto.

“Enviei-lhe mensagem, ele foi todo muito atencioso, disse: 'nós ajudamos-te, fazemos já tudo'”, conta o jovem. David quis ajudar ao ponto de ser ele a criar a conta para Pedro.

“Ele criou a conta, eu não percebia nada daquilo. A conta já vinha com alavancagem, que é uma das coisas que nos faz perder imenso dinheiro. A minha conta tinha alavancagem de 1:300”.

A alavancagem é um recurso que multiplica a rentabilidade e o risco de um investimento. Com uma alta taxa de alavancagem, o investidor opera com valores muito acima do que tem em conta. Ou seja, ao mesmo tempo que aumenta a possibilidade de obter maior rentabilidade, aumenta também o risco de ter prejuízos avultados.

Na União Europeia, o máximo de alavancagem permitido no mercado Forex é de 1:30.

David não explicou nada disto a Pedro. Disse-lhe apenas: “Agora tens de fazer o depósito na tua conta".

Os primeiros 350 euros de Pedro “foram à vida em duas semanas”.

"Eu não percebia nada daquilo, comecei a seguir os sinais, acertei uma vez e de resto perdi sempre”, conta.

Quando pediu justificações ao “trader”, David Soares devolveu as culpas. “Isso foi um descuido teu, tens de entrar com lotes mais baixos”, terá dito ao cliente.

Pedro acreditou que a culpa do seu insucesso tinha sido seu, já que continuava a ver, nas redes sociais de David, ganhos sucessivos e uma vida cada vez mais luxuosa.

Pedro achou que se investisse mais, iria ganhar mais

Depois de perder os 350 euros, Pedro diz que “acalmou”, mas começou a ver que “com quantias maiores era mais difícil chegar à bancarrota”.

“Como fiquei com a ideia que a culpa de perder tinha sido minha... eu tinha juntado um bom dinheiro, para começar a construir o meu futuro. Tinha 20 mil euros e decidi investir tudo”, conta à Renascença.

Pedro dividiu o dinheiro em duas contas, uma sua e outra de “um elemento do seu agregado familiar”.

No primeiro mês, conseguiu ganhar mil euros. O que o fez pensar que o caminho era mesmo aquele.

Mas depois disso, tudo mudou. Em duas semanas, “a pessoa da minha família perdeu os 10 mil euros e eu perdi 5 mil”.

Quando percebeu que o seu mentor não estava a acertar quase previsão nenhuma, Pedro diz que começou a fazer “ao contrário” do que ele recomendava.

“Quando cheguei aos mil euros de banca, eu pensei ‘já perdi nove mil, cada vez que ele mandar um sinal eu vou fazer completamente ao contrário’". Com esta estratégia, recuperou quatro mil euros e decidiu desistir dos mercados financeiros.

“Tenho esperança que, pelo menos, ele não consiga fazer isto a mais ninguém”

Hoje, com 23 anos, Pedro está desempregado – a empresa de marketing onde estava a trabalhar e a ter formação fechou, devido à pandemia. Perder os 15 mil euros “foi devastador”.

“Passei de ter 20 mil euros na minha conta para andar quase a contar trocos ao final do mês. Isto se chegar ao final do mês”, conta. O jovem diz não querer identificar-se para não correr o risco de que o 'influencer' apague alguma prova.

Espera que DavidGYT seja responsabilizado pelos seus atos, porque “lixou a vida a muita gente”. “Tenho esperança que pelo menos ele não consiga fazer isto a mais ninguém”, desabafa.


Mas em que consiste, afinal, o mercado Forex?

Forex é a abreviatura de “Foreign Exchange Market”. É um mercado de divisas estrangeiras, que funciona sobre a base de pares cambiais. O investidor aposta, assim, que uma moeda vai subir ou descer em relação à outra.

É um mercado muito grande, onde intervêm bancos centrais, instituições financeiras como seguradoras e entidades de crédito.

Normalmente, o investimento neste mercado é feito através de CFD’s (contracts for difference), instrumentos derivados com recurso a alavancagem.

“É como se a corretora emprestasse dinheiro para a pessoa multiplicar o seu investimento. A pessoa tem 500 euros na conta, por exemplo, e a corretora multiplica por 30 esse instrumento”, explica André Gouveia, analista financeiro na DECO Proteste.

“A moeda não varia assim tanto, mas como os ganhos são multiplicados, é um mercado que se presta muito bem ao apelo do enriquecimento rápido”, explica o especialista.

Ainda assim, este é um investimento de alto risco. Segundo a ESMA, (Autoridade Europeia para Mercados e Valores Mobiliários), a percentagem de investidores não profissionais que perdem dinheiro com CFD’s está entre os 74% e os 89%. São números ainda piores do que os subjacentes aos casinos e aos chamados jogos de azar.

O especialista deixa um conselho aos mais inexperientes: "não se metam nisso”. "É um mercado que é muito de sorte, mais do que outra coisa”.

Queixas à DECO quadruplicaram nos últimos seis meses

André Gouveia não sabe precisar os números, até porque a grande maioria das reclamações chegam à DECO por via telefónica e não são contabilizadas, mas estima que, no último ano e particularmente nos últimos seis meses, o número de reclamações relacionadas com o mercado Forex e as criptomoedas tenha quadruplicado.

“Se calhar antes recebíamos uma ou duas queixas por mês; agora recebemos duas por semana”, diz à Renascença.

Na opinião do analista financeiro, uma junção de fatores está a levar ao aumento dos casos: por um lado, a explosão da bitcoin, que se tornou um ingrediente para esquemas fraudulentos; por outro, o confinamento, que levou as pessoas cada vez mais para a internet; e a situação de crise financeira que vivemos, que tornam estas promessas ainda mais aliciantes.

Global Youth Trading faturou 1,2 milhões em 2019

Por detrás da Wevesting e da Global Youth Trading está a empresa Juventude Global, Lda., constituída em fevereiro de 2019, por David Alexandre Viana Soares, em Faro. Com três funcionários registados, só em 2019, faturou 1,2 milhões de euros, com um lucro líquido de 514,6 mil euros.

Recentemente alterou o CAE de administração de mercados financeiros para o de agências de publicidade.

Com esta empresa, David Soares já criou duas marcas distintas: logo em fevereiro de 2019, lançou a Global Youth Trading (de onde vem a siga GYT) - mas esta marca durou apenas um ano e sete meses.

Em setembro de 2020, a GYT anunciou, no seu grupo de Telegram público com mais de 10 mil participantes, que iria mudar de nome para Wevesting – mas nada mudaria, a não ser o nome.

Pedro adivinha uma explicação para esta mudança: “já se estava toda a gente a queixar, já havia muitas provas de que não havia lucro naquele grupo, e aí ele acabou com o grupo e criou a Wevesting”, conta.

A mudança trouxe ainda mais encaixe financeiro a David. “Tínhamos de tirar outra vez o dinheiro para criar uma nova conta da BDSwiss para que ele recebesse outra vez o dinheiro das comissões”, explica o ex-cliente.

A Wevesting, no seu site, oferece planos de subscrição mensais, a 29,90 euros por mês, com uma “vasta gama de conteúdos auxiliares de grande utilidade para as suas operações nos mercados financeiros”. Oferece também um curso de Forex, que varia entre os 399 e os 499 euros, conforme o formato, e dura 16 horas.

DavidGYT promove corretora não regulada pela UE

Mas estas não serão as principais fontes de rendimento da empresa: o principal rendimento vem da corretora BDSwiss, em comissões. Esta é a corretora recomendada pelo empresário a quem subscreve os seus serviços.

O programa de parcerias da corretora permite a quem referencia clientes ganhar quantias avultadas por cada investidor angariado.

No seu site, a BD Swiss promete “altas comissões” para os parceiros que trouxerem novos clientes. Os valores são calculados com base na atividade de cada cliente. David Soares pede um depósito mínimo de 350 euros a cada cliente para começar.

Com sede em Chipre, a BDSwiss está licenciada pela CMVM, o que a obriga - teoricamente - a cumprir as regulações europeias. Mas na prática, a corretora consegue ter clientes portugueses sem ser obrigada a cumprir as apertadas regras europeias. Basta redirecioná-los para o seu site internacional.

É exatamente isso que acontece quando clicamos, por exemplo, na opção “tornar-se afiliado” da corretora: o site exibe uma mensagem que explica que o utilizador vai ser redirecionado para a página internacional do mesmo, que funciona com uma licença da República da Maurícia. O aviso diz que, ao clicar em “continuar”, o utilizador confirma saber que está a visitar este site por sua iniciativa, sem qualquer encorajamento por parte da BDS Markets.

Isto significa que, num simples clique, o utilizador abdica de todas as regulações dos mercados a que tem direito na União Europeia. Passa a poder utilizar uma taxa de alavancagem até 1:500, em vez da taxa limitada a 1:30 que a UE permite.

Incentivar uso de alavancagens acima dos 1:300 é “criminoso”

A alavancagem alta é um recurso que só deve ser utilizado por investidores experientes – nunca por iniciantes, como é o caso da maioria dos clientes de David Soares. Ainda assim, é exatamente isso que o 'influencer' os incentiva a fazer – como mostra esta mensagem escrita pelo empresário:

André Gouveia, analista da DECO Proteste, classifica esta prática como “irresponsável e “criminosa”.

“Do ponto de vista do investimento, é como pôr uma criança de 10 anos ao volante de um Ferrari”, considera.

Levar pessoas inexperientes a usar alavancagens deste nível “é tratar os mercados como casinos” e “tem tudo para dar asneira”, diz o especialista.

“Mais vale jogar no Euromilhões - ao menos o dinheiro é usado para solidariedade social”, remata André Gouveia

“Partilhar sinais” de Forex: intermediação financeira ou atividade não regulada?

A intermediação financeira é uma área sob forte regulação em Portugal, já que “mexe com a proteção do investidor e a confiança no mercado”, explica à Renascença Isabel Pinheiro Torres, da Abreu Advogados. “São dois valores que é muito importante proteger porque têm uma influência na estabilidade do mercado financeiro”.

Dentro da intermediação financeira, existe a consultoria para investimento, que “nos remete mais para um aconselhamento personalizado a um cliente na qualidade de investidor”, explica a advogada, especialista em direito financeiro e societário.

Para cada serviço de intermediação financeira que uma entidade esteja interessada em desenvolver, é necessário um registo na CMVM.

Para quem não cumpre, as coimas variam entre os cinco mil e os cinco milhões de euros, conforme a gravidade da contraordenação.

Mas no caso da Wevesting, não é claro se o que é oferecido é um serviço de intermediação financeira. Apesar de, nos seus anúncios, a empresa dizer que faz “mentoria individual e personalizada”, apresenta-se também como um “serviço de educação financeira”, que expõe os clientes “à estratégia de análise técnica e de investimento utilizada pelos profissionais da Wevesting”.

Pedro Duro, advogado da CS Advogados, explica à Renascença que esta é uma “zona cinzenta, para a qual os reguladores muitas vezes o que fazem é chamar à atenção, mas nem sempre têm os instrumentos necessários para diretamente sindicar o que lá se passa”.

Sem entrar em análises do caso concreto, o penalista explica que “se um grupo adere a um serviço e é considerado cliente e se essas recomendações se referem a instrumentos financeiros concretos, pode ser considerado consultoria”.

“Aí temos de ver que tipo de grupo é, como são feitas as subscrições, se está identificado um público-alvo muito concreto, que não seria mais do que o somatório de clientes individuais, para se poder considerar consultoria”, adianta.

De qualquer forma, nenhum dos profissionais da Wevesting tem qualquer registo ou autorização para exercer uma atividade de intermediação financeira.

O que diz a CMVM

A Renascença questionou a CMVM se está a par deste caso e como olha para este género de serviços.

O regulador lembra que não pode comentar casos particulares, mas diz que “tem vindo a alertar para um número relevante de propostas apresentadas a investidores que não constituem propostas de investimentos em instrumentos financeiros sob a supervisão da CMVM, mas com outros tipos de ativos, como o caso de transações em mercados cambiais, moedas digitais; ou, simplesmente, fraudes”.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários adianta que “nestes casos, estão em causa práticas que permanecem fora do perímetro das competências de supervisão e sancionatórias da CMVM. Em situações desta natureza, a CMVM transmite às entidades competentes, designadamente, para investigação de fraudes digitais, a informação relevante”.

O regulador lembra ainda que “perante uma suspeita de fraude, os investidores devem comunicar a situação à CMVM e ao Ministério Público. Caso o objeto da denúncia esteja fora do perímetro a nossa atuação, a CMVM remete-a para as autoridades competentes”.

Na última semana, o Ministério Público abriu um inquérito, dirigido pelo DIAP de Lisboa, relacionado com a petição que envolve o nome de DavidGYT e da Wevesting. A Renascença questionou a Procuradoria-Geral da República se a empresa está a ser investigada.

A PGR não adianta mais pormenores, dizendo apenas que na participação “são denunciados vários nomes e factualidades”, que estão em investigação no DIAP de Lisboa.

David Soares pode ser acusado de burla?

Uma das acusações mais frequentemente dirigidas a DavidGYT, nas redes sociais, é a de burla. Mas aliciar pessoas para investirem num mercado que não conhecem pode ser considerado burla?

O penalista Pedro Duro explica que “o crime de burla é difícil de preencher, porque o crime implica que se engane alguém e, de forma astuciosa, se determine essa pessoa a praticar determinados atos”.

Para ser qualificado como burla, "esta determinação de uma pessoa à prática de determinados atos tem de ser uma coisa muito clara”, explica o advogado.

“Tem de ser enganada de maneira a que não tenha grande margem de reflexão, tendo em conta também as características da pessoa, a dependência, a idade, para praticar o ato. Que tudo seja aparentemente condicionador”.

É aí que entra a astúcia, continua o advogado. “Há aqueles casos típicos dos burlões de rua aos idosos, esses são relativamente simples. Mas em casos de campanhas anunciadas na internet, para se aderir a determinados produtos que podem ter determinado retorno, é difícil caber no crime de burla. É possível, mas tem de se ver conteúdo concreto e a forma como as pessoas são condicionadas a chegar a determinado tipo de investimento”.

Nos últimos dias, têm sido divulgados outros casos de alegados esquemas fraudulentos promovidos por youtubers. Como o caso do serviço de consultoria de apostas desportivas de Numeiro, que o youtuber decidiu encerrar, ou o curso de criptomoedas vendido por Windoh a 400 euros, que entretanto prometeu disponibilizá-lo gratuitamente e devolver o dinheiro a quem o comprou.

Em 2019, uma investigação da Renascença denunciou que dezenas de youtubers promoviam sites de casinos ilegais, um crime punível com uma pena até cinco anos de prisão ou pena de multa até 500 dias.

Esta quarta-feira, o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) adiantou que já removeu, em colaboração com plataformas como o Youtube, “mais de uma centena de vídeos que efetuavam apelo ao jogo em sites de jogo ilegal”.

Este sábado, depois das 13h, o programa Em Nome da Lei, da Renascença, debate os casos de alegados esquemas fraudulentos a envolver youtubers. São convidados a psicóloga Catarina Ribeiro, o procurador coordenador do gabinete de cibercrime da Procuradoria Geral da República Pedro Verdelho, Carlos Poiares, jurista ligado à psicologia forense e um dos autores da página “Analisador Traders”.

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  • Tobias
    14 mar, 2021 Reino Maravilhoso 13:19
    Não me importo que os meus impostos sejam usados para "investigar" esquemas suspeitos, agora para proteger ignorância é que não. Quem não sabe ler e acredita no Pai Natal... Tivesse estudado... Ou que pense duas vezes antes de se iludir...
  • Pois
    13 mar, 2021 Lx 22:22
    Chamar lesados a pessoas maiores que perdem dinheiro porque que decidem investir em mercados como o Forex e similares de alto risco de perda associado só pode ser piada de analfabetos. Todos os dias existem pessoas que ganham muito dinheiro e outros de perdem também muito, quem tem aversão a este tipo de risco recomenda-se outros investimentos seguros como depósitos a prazo com ganhos próximos de zero ao ano.
  • Daniel
    13 mar, 2021 Oeiras 00:48
    Excelente trabalho!
  • Cidadão
    12 mar, 2021 Lisboa 23:30
    Esse redlive13 é uma piada tal como eles são e é tão mau como eles, é um pseudo-justiceiro que tenta vender um curso de 200€ a putos que não sabem pesquisar e caem em qualquer aldrabão que diz que lhes vai ensinar algo. É só triste.
  • Adelia
    12 mar, 2021 Ferro 22:08
    Excelente reportagem Renascença! Os portugueses têm que ser alertados e os culpados levados à justiça! Continuação de bom trabalho. Cumprimentos
  • M G
    12 mar, 2021 Sertã 19:13
    Coitadinho do Pedro: aos 18 anos já tinha 20 mil euros para espatifar. Coitadinha da empresa onde esta alminha trabalhava. Com irresponsáveis destes, há sempre um burlão pronto a roubar-lhes a sacola. Boa, Pedrinho: não esqueças de angariar mais 20 mil euros e depois espatifá-los no próximo professor Babanco que te bater à porta. E depois virás aqui para a RR chorar. Chora da tua própria estupidez, isso sim.
  • Tuga
    12 mar, 2021 Portugal 17:15
    Obrigado ao redlive, renascença, analisador_traders e todas as páginas que lutam contra estes vigaristas!
  • Gustavo
    12 mar, 2021 Lisboa 13:32
    Em cima deles!!!! Todos presos! Chega
  • Alexandra
    12 mar, 2021 Norte 13:06
    Tenho pena de quem perdeu tempo a escrever este texto e investigar a vida de alguém assim, é mesmo miserável denegrir a imagem de alguém por conteúdo raso!
  • Fernando Ferreira
    12 mar, 2021 Sertã 12:44
    Eu tenho Investimentos há mais de 10 anos e quase sempre tive lucros anuais. Mas esta geração mais nova olha para os mercados financeiros como olham para Apostas Desportivas. Depois queixam-se. A BOLSA Não é para as pessoas comum, é preciso ter conhecimentos Financeiros e Juízo na Cabeça

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