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Património

Vila Viçosa quer recuperar Ermida em ruínas, "uma herança histórica e cultural".

12 mar, 2021 - 19:45 • Rosário Silva

Construída em 1690, a Ermida de Nossa Senhora do Paraíso faz parte da história de Vila Viçosa e está associada às tradições pascais da população.

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A requalificação da Ermida de Nossa Senhora do Paraíso, em Vila Viçosa, no distrito de Évora, símbolo de “uma herança histórica e cultural”, está no epicentro de um trabalho de investigação de Catarina Portas e Tiago Passão Salgueiro.

Localizada a cerca de um quilómetro e meio da vila alentejana, pelo caminho do antigo Convento dos Capuchos, a Ermida, construída no século XVII, encontra-se em avançado estado de degradação, depois de vários episódios de profanação do espaço ao longo de décadas.

“Foram saqueados os azulejos, na sua grande maioria e o altar também desapareceu, em data incerta, e tanto o edifício da Ermida como os anexos estão em ruína e envoltos por densa vegetação”, indica a investigação.

“Este trabalho pretende assumir-se como um contributo que permita a reflexão sobre este património, procurando encontrar uma solução para a sua reabilitação”, explicam os autores.

“Recuperar essa memória é um dos pilares fundamentais desta iniciativa, de modo a garantir às gerações vindouras a possibilidade de usufruto deste património singular”, devolvendo “alguma dignidade ao edifício e à zona envolvente, partindo do pressuposto que já muito foi perdido de forma irremediável”, lê-se na apresentação da proposta, enviada à Renascença.

Assim, “sensibilizar as entidades competentes para a necessidade de criação de uma estratégia que permita a recuperação do edifício e dos anexos”, bem como “das pinturas murais que felizmente sobreviveram à incúria e ainda se encontram em razoável estado de conservação”, é a finalidade deste trabalho de Catarina Portas, jornalista com fortes ligações a Vila Viçosa e do investigador, Tiago Passão Salgueiro, natural de Vila Viçosa.

O documento “flexível e recetivo a todos os contributos”, pretende assumir-se como pontapé de saída para “uma estratégia mais efetiva, visando a recuperação da Ermida de Nossa Senhora do Paraíso”, podendo ser “o início de uma vida para este património que faz parte da memória histórica de Vila Viçosa”, com a colaboração e conhecimento da comunidade, organismos e instituições.

Entre as ações a realizar, em diversas fases, a proposta aponta a celebração de um protocolo com o proprietário para a “eventual cedência da parcela de terreno” onde se localiza a Ermida, pesquisa e recolha de testemunhos, projetos de arquitetura e acompanhamento arqueológico.

Os proponentes defendem também uma “avaliação do estado de conservação das pinturas a fresco” por especialistas, a “reabilitação, restauro ou reprodução dos azulejos originais do século XVII, além da regeneração de toda a zona envolvente.

É, ainda, sugerido o desenvolvimento de uma candidatura a fundos comunitários ou outros, através de “uma instituição local”, com o “apoio da Câmara Municipal de Viçosa, Direção Regional de Cultura do Alentejo ou CCDR Alentejo”, entidades que já receberem a proposta para a requalificação daquele património.

Calipolenses cumpriam tradições pascais junto à Ermida

Construída em 1690, pelo padre Manuel Rodrigues Rebelo, a Ermida de Nossa Senhora do Paraíso era o local que os calipolenses celebravam a Páscoa e as festas de Quinta-Feira da Ascensão, o que aconteceu até meados dos anos 80 do século XX.

“Este local era muito aprazível na sobretudo na primavera, o que levava os habitantes de Vila Viçosa a espairecer na dita estação, precisamente neste local, onde merendavam e jantavam”, revela a investigação.

Nas proximidades do eremitério, asseguram os autores da proposta, “podiam aquecer os seus guisados de borrego e saciar a sede na fonte concelhia, junto da ponte”, onde, nesse tempo, “o ribeiro corria com o seu agradável e poético sussurro e nas suas margens estavam as amplas nogueiras, em cujas ramadas poisavam os rouxinóis.”

Precisamente no local, realizava-se a festa em honra de Nossa Senhora do Paraíso, “graças a uma mordomia, aos devotos ou aos padroeiros, que financiavam a realização das celebrações”.

No final do século XIX, a Ermida pertenceu ao padre Joaquim da Rocha Espanca, figura incontornável pelo valioso contributo que deu para a divulgação e conhecimento da história e etnografia de Vila Viçosa.

Os autores do trabalho esperam que a requalificação da Ermida de Nossa Senhora do Paraíso possa “contribuir para o retomar dessas tradições, proporcionando a fruição pública do património que ainda assim e de alguma forma, tem resistido à erosão do tempo, não obstante as pilhagens e vandalismos ocorridos sistematicamente ao longo dos últimos anos”.

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