12 mar, 2021 - 07:00 • Marisa Gonçalves
O Parlamento da Catalunha toma posse nesta sexta-feira, quase um mês depois das eleições regionais de 14 de fevereiro, em que os partidos separatistas catalães, apesar de muito divididos, saíram reforçados, o que promete trazer de volta à ordem do dia a questão da independência daquela autonomia.
Em declarações à Renascença, Manuel Canaveira, investigador e docente de Relações Internacionais da Universidade de Lisboa, lembra que a independência da Catalunha é um assunto simultaneamente pouco pacífico e pouco conveniente, não só a Espanha.
"Todos os países da Europa têm problemas e não querem que a questão catalã venha ao de cima, porque, se assim acontecer, pode haver dentro do quadro da União Europeia uma implosão dos estados nacionais europeus e há quem acuse a União Europeia de estar a fazer tudo para acabar com os estados nacionais na Europa”, diz este especialista.
Manuel Canaveira inclui Portugal entre os países eventualmente prejudicados caso se abrisse o precedente para a independência catalã.
A razão, segundo diz, é simples: “se a Catalunha se tornasse independente, o que poderia acontecer a médio prazo era surgir uma espécie de confederação ibérica e, se isso acontecesse, Portugal perderia a independência".
O professor da Universidade Nova de Lisboa admite que poderá haver pressões para que se evitem manifestações que possam desencadear situações de desacatos, tal como aconteceu no passado.
Levantamento da imunidade irá permitir um novo exa(...)
"Barcelona é uma das cidades mais turísticas da Europa e tem uma burguesia rica e não pode admitir que haja desordem nas ruas, caso contrário, intervirá o exército espanhol", lembra este investigador, acrescentando que, apesar da autonomia económica, a região catalã nunca perdeu ligação à centralidade de Madrid; historicamente sempre esteve ligada à centralidade de Madrid, ou seja, ao reino de Espanha.
Situada no nordeste do território espanhol, a Catalunha faz fronteira com a França através dos Pirenéus.
Manuel Canaveira reconhece que "muito se fala na independência da Catalunha que coloca o Estado espanhol como o Estado que não está interessado nessa independência, mas ninguém perguntou se o Estado francês também está interessado nessa independência”.
Para a história da região fica o tratado assinado na Ilha dos Faisões, exatamente na fronteira entre a Espanha e a França, entre Luís XIV e Filipe IV de Espanha, no século XVII, “em que a Catalunha passa para a Espanha, sem qualquer pretensão francesa. Se a Espanha desse, alguma vez, a independência à Catalunha, ninguém sabe, pelo menos o Governo de Paris nunca tornou explícito, se a França aceitaria a existência de um país chamado Catalunha, que nunca existiu", conclui o historiador.