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Cartuxa de Évora renasce com nova “vocação espiritual”

07 mar, 2021 - 22:34 • Rosário Silva

“Há solidão e vazio interior e aqui será um pulmão espiritual, de ecologia global, onde as irmãs farão a oferta do que têm, no fundo, a sua experiencia espiritual”, salienta o arcebispo D. Francisco Senra Coelho.

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São de várias proveniências, sobretudo da América Latina e têm entre os 24 e 60 anos de idade. As primeiras seis irmãs, de um total de oito, do Instituto das Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará (o ramo feminino da Família Religiosa do Verbo Encarnado, criado em 1988) já estão em Évora.

Chegaram na ultima sexta-feira e visitaram, neste domingo, o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, onde vão instalar-se a partir de setembro, logo que estejam concluídas as obras, atualmente em fase de concurso. Por agora, estão alojadas numa casa preparada para o efeito, contigua à Igreja de São Francisco, na cidade de Évora.

Espalhadas pelo mundo, há cerca de 1500 irmãs desta congregação, umas com vocação apostólica, outras, contemplativa. Estão em países de fronteira, na chamada “periferia do cristianismo”, nomeadamente no Iraque ou na Síria, mas também no Egipto e na Turquia, “onde não é fácil ser-se cristão, pela liberdade religiosa coarctada, por situações de extremismo Islâmico”, sublinhou o arcebispo de Évora, na receção às consagradas.

O ramo contemplativo conta com cerca de 200 monjas, repartidas por 16 mosteiros, e a Cartuxa, na cidade de Évora, é o convento que se segue.

“Elas estão hoje a conhecer a sua nova casa, sendo que há aqui, uma componente afetiva por saberem que são desejadas e acolhidas”, referiu D. Francisco Senra Coelho.

Aos jornalistas, o prelado explicou o motivo pelo qual escolheu esta congregação, após a saída dos monges da Ordem Cartusiana, justificando-o com o facto da Cartuxa ter “uma vocação espiritual”, constituindo-se como “um pulmão espiritual” na cidade e na arquidiocese, que era necessário manter.

“Vamos fazer um acordo com estas irmãs, para fazerem aqui a sua experiência, a sua adaptação, um acordo talvez por quatro anos, renovável, para que esta casa tenha a dimensão para a qual foi criada e desejada”, acrescentou o arcebispo.

Do carisma das Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará faz parte a dimensão cenobítica, ou seja, além da vocação meramente contemplativa, as irmãs partilham momentos comunitários, privilegiando a hospitalidade.

“Faz parte da vocação cenobítica, também, o receber, ter um espaço de receção que podemos considerar como que a hospitalidade para as pessoas que queriam fazer aqui um tempo de retiro, estar aqui uma semana, uns dias, poderem, no fim de contas, ter esse espaço de acolhimento para uma experiência de inserção”, esclareceu D. Francisco Senra Coelho.

É precisamente esse espaço de acolhimento, uma espécie de hospedaria, que está a ser preparado para receber as irmãs a partir de setembro, com as obras previstas, numa operação que é da responsabilidade da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), a proprietária do Mosteiro da Cartuxa.

Segundo o prelado, “seguem-se outra ou outras fases, e aí incidirão nas celas”, embora seja uma obra a realizar “com muito cuidado, pois estamos a falar de um património classificado e parte dele, até, monumento nacional”.

D. Francisco Senra Coelho acredita que a cidade e a arquidiocese vão interagir com a nova comunidade monástica, sobretudo, num tempo em que “há muita sede de espiritualidade, de luz, de água viva e de sentido para a vida”.

“Há solidão e vazio interior e aqui será um pulmão espiritual, de ecologia global, onde as irmãs farão a oferta do que têm, no fundo, a sua experiencia espiritual”, afirma, evidenciando que “não há nenhuma finalidade, nem económica, nem turística”, uma vez que a “finalidade da hospedaria é albergar quem quer, espiritualmente, fazer uma experiência, onde a gratuidade é toda a que for possível”.

Para o arcebispo de Évora, “esta casa (Cartuxa) cumpre-se se for um espaço de espiritualidade e, sobretudo, se estiver disponível e aberto à comunidade.”

Irmãs estão “agradecidas e ansiosas”

Para as Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, a nova missão reveste-se de grande importância, tanto mais que celebram este ano, 30 anos da criação do ramo contemplativo feminino.

“É por isso um ano muito especial para todas e mais ainda por podermos começar aqui, na Cartuxa de Évora, sendo nós uma filha muito pequena da História da Igreja”, observou a irmã Maria, a responsável pela nova comunidade monástica.

De acordo com a prioresa, de origem holandesa, as irmãs estão “muito agradecidas e ansiosas” sendo “uma honra continuar uma tão grande obra espiritual”.

Na sua primeira visita, as religiosas ouviram atentamente as explicações do guia da Fundação Eugénio de Almeida que as conduziu pelos diferentes espaços do Mosteiro, nomeadamente os claustros, o jardim, uma das celas, o cemitério ou a Igreja.

“Vimos todas as fotos que existem na internet sobre a Cartuxa, mas é outra coisa estar aqui”, confessou a irmã Maria, mostrando-se particularmente impressionada com a simplicidade do cemitério.

“Pensar que estão ali os monges que aqui sofreram, trabalharam, rezaram e entregaram a sua vida, é o mais importante”, realçou.

Sobre o seu dia-a-dia, a prioresa revelou que a oração é “o mais importante da vida contemplativa”, além de realizaram outras tarefas relevantes para a vivência e subsistência da comunidade. Sobre a rotina que vão ter em Évora, a partir de setembro, a irmã Maria prefere esperar para “ver o que podemos fazer, também, com a comunidade local.”

“O mundo tem muita necessidade de Deus e imagino que quem aqui virá terá sede de Deus, por isso espero que possamos ajudar quem precisa a encontrar o sentido de vida que tanto procuram”, adianta.

Para já, as irmãs vão aproveitar para conhecer melhor a cidade e o próprio país. Entre as visitas possíveis, está uma ida ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima.

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