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Entre-os-Rios, 20 anos depois

Engenheiros alertam: "Falta informação sobre inspeções a obras públicas"

04 mar, 2021 - 07:00 • José Carlos Silva , André Rodrigues

Duas décadas volvidas sobre o colapso da ponte de Entre-os-Rios, Carlos Mineiro Alves lamenta que não haja muita informação publicada sobre manutenção de obras públicas, mas reconhece que, desde 4 de março de 2001, "a atenção mudou". O problema, diz, é que "o Estado deixou de ter pessoas capazes no terreno" e, "quando um Estado é fraco, expõe-se a que coisas destas aconteçam".

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O bastonário da Ordem dos Engenheiros considera que, 20 anos volvidos sobre a tragédia da ponte de Entre-os-Rios, ainda subsiste um défice considerável de informação publicada sobre vigilância e inspeções a obras públicas.

“Se fizer uma procura nos sites dos grandes donos de obras públicas, é capaz de haver alguma informação sobre as obras que estão em curso. Agora sobre estas questões que estamos a falar, que são as observações e a monitorização, efetivamente, não há”, reconhece Carlos Mineiro Aires, em declarações à Renascença.

Entre as razões para que tal suceda, o bastonário da Ordem dos Engenheiros refere que “o Estado deixou-se enfraquecer ao longo dos anos, sobretudo porque foi cortando gorduras”, mas “chegou a um ponto em que deixou de rejuvenescer os quadros, deixou de ter pessoas capazes no terreno para acompanhar as coisas e, portanto, quando um Estado é fraco, expõe-se a que coisas destas aconteçam”.

Apesar disso, diz, a tragédia de 4 de março de 2001 permitiu retirar ilações positivas. A primeira das quais, a de que “a falta de manutenção nas infraestruturas é um risco para os cidadãos, em primeiro lugar, um risco para a sociedade, obviamente, e já está à vista que os acidentes podem acontecer em qualquer altura”.

Por outro lado, “apesar de um acidente ou de outro que, pontualmente, possa ocorrer”, como quedas ou deslizamentos de taludes em estradas nacionais, Mineiro Aires diz que “a atenção mudou”.

“Dias e noites muito negras em Entre-os-Rios”

À data da queda da ponte Hintze Ribeiro, em março de 2001, Carlos Mineiro Aires era presidente do Instituto da Água e passou horas a fio no terreno.

“É uma data de muito má memória para mim”, recorda.

“Na altura, eu era presidente do Instituto da Água, estive no terreno e até cheguei a ser incomodado em relação a um assunto a que, na minha perspetiva, como o tempo veio a provar, era alheio” acrescentou.

A memória da tragédia é algo com que o bastonário viverá sempre.

“Passei dias e noites muito negras em Entre-os-Rios. É uma coisa que nunca mais se esquece”, conclui

A queda da ponte Hintze Ribeiro, que liga os concelhos de Penafiel e Castelo de Paiva, aconteceu na noite de 4 de março de 2001.

O colapso de um dos pilares atirou ao rio Douro um autocarro com 53 passageiros e mais seis ocupantes de três automóveis.

Não houve sobreviventes.

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