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Reações à morte de Carmen Dolores, uma “mulher de causas”

16 fev, 2021 - 16:22 • Redação, com Lusa

Atriz morreu na segunda-feira aos 96 anos. Durante seis décadas, brilhou na rádio, no teatro, no cinema e na televisão.

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Carmen Dolores morreu aos 96 anos, depois de uma vida dedicada ao teatro, ao cinema e à televisão. A atriz é recordada como um "exemplo" para os seus pares, "respeitada" por todos, rigorosa, elegante e com uma "carreira distinta" que atravessou seis décadas de grandes transformações na cultura e no país.

Ruy de Carvalho despede-se da “grande amiga” Carmen Dolores com “enorme dor”, refere o ator numa mensagem publica no Facebook.

“Foram muitos os sonhos, muitos projectos. Muitas décadas de amizade e amor ao Teatro Até um dia, minha querida Carmen Dolores”, escreve Ruy de Carvalho.

"Um exemplo de saber estar na profissão"

Em declarações à Renascença, o encenador João Lourenço despede-se da amiga e da atriz que era um exemplo para os seus colegas.

João Lourenço lembra a despedida de Carmen Dolores dos palcos. Foi na peça de teatro “Copenhaga”, em 2005.

“Quando voltámos a fazer a peça em 2005, ela disse-me que era a última vez que iria representar. Para mim, tinha um valor muito especial, porque eu estrei-me com ela no teatro, quando era ator, foi a primeira pessoa com quem falei, que me agarrou a mão. Ela dizer-me que se ia despedir depois destes anos todos…”, afirma o encenador.

“Eu não vou falar dela como atriz, porque as pessoas interessadas por cultura lembram-se do que ela fez, mas como pessoa também. Era uma pessoa muito especial e marcou-me durante a carreira sempre como um exemplo de saber estar na profissão, da maneira como se preparava, trabalhava e lidava com os demais. E foi sempre uma amiga e uma pessoa que admiro. Foi muito importante. Foi sempre um exemplo”, sublinha.


“Não conheço ninguém que não gostasse da Carmen"

O fundador do Teatro Experimental de Cascais Carlos Avilez considera que “o teatro está de luto com a morte de Carmen Dolores”, que morreu na segunda-feira, aos 96 anos.

Carlos Avilez disse à agência Lusa que “adorava a Carmen Dolores”, por quem tinha “uma grande amizade e um grande respeito”, classificando-a como “uma pessoa única” e uma “mulher de causas”.

“Não conheço ninguém que não gostasse da Carmen, fala-se dela e a classe inteira tinha um respeito e uma admiração enorme pela Carmen. Ainda bem que chegou a ser homenageada em vida”, afirmou.

O ator e encenador destacou ainda “a magnifica voz que a Carmen tinha”, a sua “autoridade humana”, a “sensibilidade” e a “elegância na forma de ser”.

Tendo trabalhado com Carmen Dolores “como ator”, em 1956, e feito com ela em Cascais “duas peças”, Carlos Avilez revelou ter sido “sempre um grande admirador” da atriz.

“Ainda a semana passada falei com ela. Embora tivesse 96 anos, não esperava [a sua morte]”, acrescentou.


É com uma enorme dor que me despeço de ti, minha grande amiga.. Foram muitos os sonhos, muitos projectos. Muitas décadas de amizade e amor ao Teatro Até um dia, minha querida Carmen Dolores.

Publicado por Ruy de Carvalho em Terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Marcelo enaltece "rigor e elegância"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamenta a morte da atriz Carmen Dolores, enaltecendo "a sua carreira distinta", com "rigor e elegância" no teatro e em momentos importantes do cinema português.

Numa mensagem de pesar publicada no site da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa recorda que, "em 11 de julho de 2018, a sala principal do Teatro da Trindade, em Lisboa, passou a chamar-se Sala Carmen Dolores" e que nessa ocasião entregou à atriz as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, "uma das muitas distinções que lhe foram conferidas".

"Esse reconhecimento, expressivo, simultâneo e constante, do público, dos pares e dos responsáveis políticos, é tão significativo quanto justo, tendo em conta o talento de Carmen Dolores, a sua carreira distinta e uma certa ideia de estar em palco e de estar no espaço público", considera o chefe de Estado.

Ministra destaca "serviço de exceção" à cultura

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta a morte da atriz Carmen Dolores, uma “voz inesquecível” cujo talento “ajudou a transformar o teatro em Portugal” e que prestou um “serviço de exceção à cultura portuguesa”.

“Uma atriz comprometida com a arte de pensar e de agir, num processo completo, que encantou o público, mas educou também e deu a conhecer, através da sua voz única, a diversidade e a riqueza da literatura portuguesa”, lê-se numa nota de pesar assinada por Graça Fonseca.

Para a ministra da Cultura, a atriz “transformou o seu trabalho e o seu talento num legado único e num serviço de exceção à cultura portuguesa”, tendo-se tornado também numa “referência da arte de dizer poesia”.

“Carmen Dolores pertence a uma geração de atores que transformou o teatro em Portugal, entregando-lhe um saber e uma prática assentes numa relação de compreensão pela palavra, e a importância das suas consequências”, prossegue a nota.

Graça Fonseca sublinhou que o seu percurso “é marcado por exemplos onde o poder da interpretação não se extingue na relação entre o ator e o espetador, mas se prolongou numa luta constante entre a liberdade e a censura, entre a força e determinação em fazer vingar ideais e valores de defesa da dignidade humana, entre o político e a ação individual”.

O diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, destaca o "extraordinário talento" e a "enorme dignidade e elegância" da atriz Carmen Dolores.

"O extraordinário talento de Carmen Dolores andava de mãos dadas com uma enorme dignidade e elegância", escreve Tiago Rodrigues, na sua página oficial, no Facebook, recordando os anos de atividade da atriz, o seu papel pioneiro no teatro independente, em particular através do Teatro Moderno de Lisboa, e o modo como desde o início da carreira esteve ligada ao Teatro Nacional D. Maria II.

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