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Reunião do Infarmed

Especialistas recomendam medidas de confinamento por 60 dias e mais testagem

09 fev, 2021 - 10:00 • Filipe d'Avillez Redação

DGS confirma que o pico da terceira vaga foi atingido a 29 de janeiro e um especialista recomenda medidas de confinamento por 60 dias. Até agora Portugal recebeu 503 mil vacinas. Presidente da República, primeiro-ministro, presidente do parlamento e partidos ouvem epidemiologistas por videoconferência.

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André Peralta, da Direção-geral da Saúde

"Iniciámos uma trajetória descendente da epidemia em Portugal. Taxa de notificação com pico a 29 de janeiro com 1.669 casos por 100 mil habitantes (cumulativo a 14 dias). Agora cerca de 1.200, ao dia de hoje já será menor."

Revelou que o decrescimento é generalizado pelo território e pelas faixas etárias .

A nova variante do Reino Unido ocupa grande parte do território nacional. Ainda assim, o médico da DGS garante que o “nível de confinamento parece suficiente para inverter as tendências”, mesmo nas regiões dominadas pela estirpe britânica.

"Prevalência da nova variante em Lisboa e Vale do Tejo e Litoral alentejano e Coimbra."

Baltazar Nunes, Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge

"R de 0,82 indica redução clara da incidência. Podemos verificar que o R encontra-se abaixo de 1 em todo o continente e açores, na Madeira 1.13, que indica fase de decrescimento. Redução é clara e iniciou perto do início das medidas de confinamento."

Houve uma redução muito mais acentuada de transmissibilidade após introdução das medidas em finais de janeiro.

Baltazar Nunes diz que são precisos 60 dias confinamento para reduzir significativamente a ocupação em unidades de cuidados intensivos.

"Precisamos de manter estas medidas de confinamento por um período de dois meses para trazer o número de camas ocupadas em cuidados intensivos abaixo das 200 e a incidência acumuladas a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes", resume.

Jorge João Paulo Gomes, Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge

"Todas as variantes têm uma mutação em comum, é por isso que são mais agressivas", explica Manuel Carmo Gomes, referindo-se às variantes do Brasil, Reino Unido e África do Sul. Contudo, acrescenta, "as variantes do Brasil e África do Sul têm ainda outra coisa em comum, a mutação 484, associado a alguma fuga ao sistema imunitário."

As boas notícias são que as previsões apresentadas na última reunião do Infarmed apontavam para uma maior incidência da nova variante nesta altura do que aconteceu de facto.

O cientista explica que na segunda semana de janeiro encontraram 16% variante do Reino Unido, quando a previsão apontava para 14%. Encontraram-se apenas dois casos da variante África do Sul, ambos com historial de viagem, perfeitamente monitorizados, com rastreio de contactos e a situação controlada

Mais preocupante foi o facto de se terem encontrado 6.3% de casos de variante com mutação semelhante à mutação da Califórnia. Foi um dado surpreendente e preocupante, por causa do potencial de maior transmissibilidade. “Em novembro tínhamos encontrado dois ou três casos, mas agora encontrámos 6.8%. Estamos a acompanhar.”

Manuel Carmo Gomes, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Na sua opinião foi decisiva a ação do Conselho de Ministros de adotar medidas mais restritivas que levaram a maior desaceleração de novos casos.

"A grande desaceleração ocorreu no final de janeiro, o que correspondeu à implementação das medidas", diz Carmo Gomes, avisando, porém, que "para determinados confinamentos o R desce mas depois tende a estabilizar. O número de casos vai descer, mas a velocidade a que desce pode parar de aumentar. Estamos a estimar que teremos uma redução a metade do número de casos a aproximadamente 14 dias, pelo que poderemos chegar aos 3.000 casos dentro de duas semanas ."

Propõe uma reflexão sobre a estratégia a adotar. "A resposta gradual aos indicadores epidémicos, é insuficiente. Necessitammos de uma resposta agressiva, com critérios objetivos. Temos de estabalecer linhas vermelhas e se forem ultrapassadas temos de agir de forma muito agressiva relativamente à epidemia", diz.

O cientista considera que a melhor arma para combater a Covid é a testagem e não o confinamento e propõe três linhas vermelhas que, caso sejam ultrapassadas devem levar a uma resposta firme em termos de aumento de testagem.

Um valor de R que não ultrapassa 1,1, ou que não o ultrapassa durante demasiados dias.

Uma percentagem de testes positivos que não chegue aos 10%, devendo mesmo rondar os 5%

Uma incidência que não ultrapassa o nível de capacidade de gerir doentes Covid e não Covid, “eu sugiro os 2000 casos por dias, o que equivaleria a 1500 hospitalizações e 200 camas UCI.”

“Precisamos de regras claras, conhecidas por todos, sobre quando se deve confinar e quando não se deve confinar”. “Estamos longe de poder desconfinar”, considera.

Henrique Barros, Universidade do Porto

“É possível perceber que nas temperaturas máximas, por cada grau, diminui 7% a incidência média diária. Há um efeito da temperatura que pode chegar a mais de 20% de diminuição dos caos.”

“Neste momento não podemos pensar em variantes que escapem à vacinação, porque isso nos obrigaria a desenvolver uma vacina nova”, explica.

"Se a vacinação correr como previsto salvamos 3.500 vidas até ao final de setembro. Com vacinação mais rápida conseguiríamos descer muito abaixo dos 200 UCI na última semana de março", diz ainda o cientista.

"As vacinas que temos são as que precisamos e a sua atuaçao é segura. Mas se formos capazes de acelerar o processo de vacinação ganhamos em vidas e em saúde", conclui Henrique Barros.

Carla Nunes, Universidade Nova de Lisboa

O nível de confiança e de vontade de tomar a vacina está alto. A quantidade de pessoas que diz que quer tomar a vacina assim que esteja disponível está em 75%, o que é um ganho muito significativo em relação a novembro, explica.

O estado de saúde global piorou desde o início da pandemia, o estado de saúde mental teve variações. Em ambos houve recuperação recentemente, mas com padrão inconsistente, recentemente.”

“Piores estados são vistos em mulheres com menor escolaridade. Em termos de saúde global são os mais velhos e em termos de saúde mental os mais novos.”

Em termos de anos de vida potencialmente perdidos, por 10 mil habitantes, ou seja, a soma da diferença entre as idades de quem morreu e a esperança média de vida para o seu país, dividido por 10 mil habitantes, para relativizar grandes variações de população, Portugal regista 39.82 anos. É um valor semelhante a França mas inferior à Alemanha, com 19 anos e à Noruega. Portugal está, contudo, em melhor situação que países como Espanha, Inglaterra e Holanda.

Henrique Gouveia e Melo, coordenador da Task Force para o plano de vacinação

A primeira fase de vacinação, que devia terminar antes de 31 de março, vai ser prolongada para abril devido ao “problema da disponibilidade de vacinas”, revelou o novo coordenador para o plano de vacinação contra a Covid-19.

Portugal atravessa um "momento de estrangulamento de disponibilidade de vacinas. Não é um problema de distribuição nem de administração", diz o vice-almirante.

"Em Portugal já recebemos meio milhão de vacinas. 43 mil foram para Madeira e Açores. 460 mil ficaram no continente" diz.

Das 460 mil foram administradas 400 mil, estando em reserva 60 mil. É necessário guardar uma reserva, para não comprometer a segunda dose, explicou o militar. "Esta é uma percentagem muito elevada e só não é mais por uma questão de segurança", diz ainda.

Um total de 106 mil pessoas já receberam as duas doses, segundo os dados disponíveis até 8 de fevereiro.

"Atualmente Portugal está com uma média de 22 mil vacinas por dia, mas essa média vai subir no segundo trimestre para quatro vezes mais. Aí terão que se montar soluções de saúde mais rápidas".

Os problemas de disponibilidade significam que a primeira fase não estará concluída antes de 31 de março adianta Henrique Gouveia e Melo, mas a boa notícia é que se prevê que 70% da população já tenha sido vacinada até final de agosto, incício de setembro.

O coordenador salienta que toda a população estará vacinada em dezembro.

Marcelo começa a ouvir partidos

Durante a tarde iniciam-se, também por videoconferência, as audiências do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aos partidos com assento parlamentar, um passo que tem antecedido a renovação do estado de emergência. Hoje serão ouvidos os representantes da Iniciativa Liberal, do Chega, do PEV, do PAN e do CDS-PP.

Portugal continental entrou num novo confinamento geral no dia 15 de janeiro, com os portugueses sujeitos ao dever de recolhimento domiciliário, em que apenas se prevê deslocações autorizadas num quadro muito limitado, para comprar bens e serviços essenciais ou desempenho de atividades profissionais. Inicialmente, o Governo manteve as escolas com o ensino presencial, mas corrigiu essa decisão na semana seguinte e suspendeu as aulas de todos os graus de ensino face ao continuado agravamento da situação epidemiológica do país.

O Governo determinou a obrigatoriedade do teletrabalho, sempre que as funções em causa o permitam, sem necessidade de acordo das partes, prevendo que o seu incumprimento seja considerado uma contraordenação muito grave.

Ao fim de três semanas de vigência de normas apertadas de confinamento, o país tem registado nos últimos dias sucessivas reduções do número de infetados com o novo coronavírus, embora os hospitais permaneçam sob grande pressão e continuem a aumentar ligeiramente o número de internamentos e de doentes em cuidados intensivos.

Portugal registou na segunda-feira 196 mortes relacionadas com a Covid-19 e 2.505 casos de infeção com o novo coronavírus, segundo o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS).

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  • Conceição
    09 fev, 2021 charneca caparica 13:17
    Talvez agora os "peritos", que na comunicação social em geral exigem o desconfinamento, percebam que custa mas tem de ser.
  • Nelson Ribeiro
    09 fev, 2021 Setúbal 11:34
    Bom Dia gostaria de saber sobre,o meu caso já fiz 2 Cataterísmo tenho Angina do Peito,tenho 74 anos sou um pouco obeso :culpa Pandemia Quando serei Vacinado ? Muito Obrigado .Telemóvel 918832443.

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