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Reportagem

​Um casamento, três adiamentos. À quarta será de vez?

05 fev, 2021 - 09:36 • Liliana Carona

Nas paróquias da Sé da Guarda, em 2019 registaram-se 120 batizados e 20 casamentos. Contra 24 e sete em 2020, respetivamente. Começam as remarcações para este ano, sob um clima de medo e receio.

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A música da Christina Perri, "A Thousand Years", irá conduzir Carina na marcha até ao altar, mas a data já foi alterada três vezes, devido às limitações impostas para evitar a propagação da Covid-19. O roupão de seda da noiva tem nas costas gravado a primeira data do casamento - junho do ano passado.

“Primeiro foi marcado para o dia 13 de junho de 2020, depois 4 de outubro de 2020, e posteriormente 8 de maio de 2021, e agora decidi adiar para o dia 11 de setembro de 2021, mas desta vez há de realizar-se”, diz com confiança, a noiva Carina Teixeira, de 32 anos, mostrando as alianças, gravadas com a primeira data (13 de junho de 2020, o dia do santo casamenteiro) e assim vão ficar porque no futuro recordará a história agora contada na primeira pessoa.

“São mais de 200 convidados, tive de adiar, porque tinha muita gente reticente, com medo [da Covid-19]. Não quero as pessoas com medo, havia muita gente a dizer que não ia. Psicologicamente não é fácil, tento não demonstrar, mas é complicado”, admite a jovem que namora com Fábio desde 2007.

Não é fácil a situação, como noiva e também como mãe. Carina adiou por três vezes o batizado do filho Afonso, previsto para a mesma data, na mesma Igreja da Nossa Senhora dos Remédios, na Guarda. “Como mãe também é muito difícil, queria que o meu filho fosse batizado mais cedo”, ressalva.

A dama de honor, a prima Filipa Teixeira, 22 anos, vê a tristeza dos noivos. “Não tem sido fácil, com tanta coisa organizada, ver sempre eles a adiarem uma coisa que querem”, denota, enquanto ajuda nos pormenores, como as flutes de champanhe com as iniciais dos noivos, sob o tema do mar.

Muitos fundos prometidos, zero recebido

Se do lado dos noivos é complicado, para quem organiza os eventos, o cenário é de desespero. António Machado, 46 anos, é o proprietário da Quinta de Santo António, na Guarda, fechada há 12 meses.

“É muito tempo, não sabemos ainda quando voltamos a reabrir, e o que virá aí. Em 2019, tínhamos uma média de 100 casamentos, fora o resto dos eventos. Em 2020, estávamos com uma previsão de ocupação de 99% e nenhum se realizou”, descreve António.

“É muito difícil, se não tivéssemos fundo de maneio, não tínhamos forma de sobreviver, porque apoios zero, dizem que vêm mundos e fundos, mas não vemos nada. Há muitos noivos que ainda estão a ponderar, uns desistiram mesmo. É muito bonito falar, mas é preciso vir ao terreno, ver com os próprios olhos, as dificuldades que eu e centenas de empresários estão a passar”, revela, acrescentando que tem para 2021, 50 casamentos ‘semi-agendados’, na incerteza.

Um retrato de dificuldades, porque a pandemia além de fechar estabelecimentos, deixa feridas difíceis de cicatrizar. “Perdi a minha avó paterna, com 81 anos, no passado mês de novembro, vivia comigo, custou-me riscar o nome da minha avó da lista. Se tivesse realizado o casamento na data prevista, ainda tinha levado a minha avó comigo”, lamenta Carina Teixeira.

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