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SNS sob pressão

Fotogaleria. Filas de ambulâncias no maior hospital do país, onde voluntários preparam “comida de conforto”

29 jan, 2021 - 10:42 • Lusa

Apenas 15% dos doentes transportados em ambulância para o Santa Maria justificam urgência hospitalar. A ministra da Saúde pediu aos hospitais de Lisboa que abram já nesta fase todas as camas possíveis.

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Cerca de 30 ambulâncias estiveram esta manhã paradas à porta das urgências do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o maior de todo o país.

“Esta fila é para doentes covid ou suspeita de covid. Isto já ultrapassa aquilo que é aceitável em termos de dignidade. Um doente estar oito horas deitado numa maca não é fácil”, disse o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH), em declarações à agência Lusa.

Na quinta-feira, a SPEPH tinha já alertado para a desadequação de protocolos e orientações, que “deveriam ser adaptados à situação que o país atravessa”, com o agravamento da pandemia de Covid-19 durante o mês de janeiro.

Carlos Silva, o vice-presidente da entidade, adiantou que será feita, a partir de hoje, uma pré-triagem aos doentes, de forma a minimizar o número de ambulâncias à porta do hospital.

“É minimamente aceitável e irá minimizar a espera e o número de ambulâncias no local, mas vamos continuar com o mesmo problema: o envio das ambulâncias em excesso. Por isso, consideramos que os protocolos dos meios de emergência médica devem ser alterados”, salientou.

De acordo com uma nota informativa do o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), “Quase metade dos utentes são transportados de ambulância, mas destes só 15% apresentam situações que justificam o recurso a uma urgência hospitalar”.

“Os restantes 85% são triados com prioridade verde ou azul, representando uma sobrecarga evitável, na medida em que o local de atendimento previsto para estas situações são os centros de saúde, que dispõem de um atendimento específico para estes doentes”, lê-se no mesmo comunicado.


Sensibilizados com os profissionais e utentes que esperam horas dentro de ambulâncias à porta do Hospital de Santa Maria, um grupo de voluntários decidiu confecionar “comida de conforto”, preparando-se para entregar 100 doses, esta sexta-feira.

Com familiares e amigos na linha da frente do combate à pandemia da Covid-19, Sofia Magalhães, autora do Blog da Spice, dedicado a receitas mais saudáveis, teve a experiência pessoal de perceber o impacto de uma simples refeição na vida de quem está mais atarefado. Daí surgiu a ideia de alargar o gesto de “miminho” à comunidade e “tentar levar um bocadinho de conforto a quem nesta fase está a dar o litro”, nomeadamente no Hospital de Santa Maria.

Com a ajuda da equipa da WEAT - Gastronomic Hubs, um espaço de vários tipos de cozinha para vários tipos de negócio gastronómico, que se localiza na Doca de Alcântara, em Lisboa, a ‘blogger’ juntou um grupo de voluntários para confecionar as refeições.

Depois do contacto com o Hospital de Santa Maria, o grupo propôs-se a fazer 50 refeições. O objetivo foi cumprido no primeiro dia de ação, que foi na quarta-feira, e as refeições “voaram”, conta à Lusa Sofia Magalhães, referindo que, além dos profissionais de saúde, a iniciativa pretende chegar a “todo o pessoal” que trabalha no hospital, nomeadamente bombeiros, seguranças e auxiliares.


Apostando na “comida de conforto, que aqueça o corpo e a alma, e que sacie um bocadinho quem está nestas situações”, a autora do Blog da Spice gostava de “escalar este modelo, de conseguir muito mais refeições, de reunir os apoios logísticos, de fornecedores, de pessoal, de tudo para fazer isto acontecer”, esperando ainda “servir de inspiração” para que a ideia seja replicada noutras zonas dos país.

Entre as cinco bancadas de cozinha do espaço da WEAT - Gastronomic Hubs, o chef Miguel Castro e Silva diz que se juntou ao grupo “um bocado por acaso”. Nas funções de ajudante de cozinha, o voluntário considera que a comida é “um mimo, uma lufada de ar fresco, de carinho”.


Quanto ao número de voluntários, há “imensa gente” a querer participar, mas a organização do espaço, para manter a segurança sanitária, não permite muitas pessoas ao mesmo tempo, explica o gerente do restaurante Badochas, ressalvando que o movimento solidário quer ter o serviço de apoio “constantemente a funcionar”, o que pode acontecer através da rotação das equipas.

Em relação ao futuro do projeto solidário, o grupo de voluntários perspetiva expandir o apoio, assim que tenha mais capacidade de recursos, por ter “perfeita noção de que há vários hospitais que têm, neste momento, necessidades de comida”.

Como uma verdadeira linha de montagem, os voluntários colocam as refeições em caixas e sacos, como nos serviços 'take-away', para fazer chegar ao hospital pelas 19h00.


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