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Confinamento geral

Governo explica "cautela" com fecho. "Quando a escola fecha, há crianças que não comem"

19 jan, 2021 - 21:42 • Lusa

Secretário de Estado defende que a escola é um espaço onde até é mais fácil prevenir o contágio por Covid-19, sobretudo para os alunos mais velhos. “São espaços muito mais controlados do que andarem pela cidade sem qualquer contenção.”

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O secretário de Estado adjunto e da Educação justificou esta terça-feira a “cautela” do Governo em manter as escolas abertas recordando que quando a escola fecha “há crianças que não comem” e situações de abuso que não são identificadas.

Convidado para a conversa online que a candidata presidencial Ana Gomes promove diariamente nas suas redes sociais, hoje sobre Educação e Cultura, João Costa disse que, apesar de os números relativos à pandemia de Covid-19 serem alarmantes, é preciso “algum sangue frio, nervos de aço” na forma como se analisam os dados.

Após declarar publicamente o seu apoio à candidata apoiada pelo PAN e o Livre, porque “nestas eleições está em debate (…) a salvaguarda maior da (...) democracia”, o secretário de Estado falou sobre o impacto que a pandemia teve até hoje nos sistemas educativos, que segundo “algumas análises” foi “ainda maior do que a 2.ª Guerra Mundial”.

O governante explicou por isso que é preciso olhar para o eventual encerramento das escolas com cautela.

“Sobretudo não olhar para o que é uma escola fechada a partir de um lugar privilegiado”, disse João Costa, sublinhando que alguns alunos não têm as condições para estudar em casa: “Não é só não terem computador, ou Internet, é não terem um espaço sozinhos em casa, terem um contexto barulhento, violento por vezes, não terem quem os acompanhe, quem os tire da cama para ligarem o computador, não terem a quem recorrer para pôr dúvidas”.

Para o governante, é preciso ver a escola “não apenas como espaço de aprendizagem, mas como espaço de proteção social”, onde “situações de abuso são muitas vezes identificadas pela atitude do aluno, um olhar triste”.

“À distância, por ‘Zooms’ e ‘Teams’ isto não se vê, não se deteta”, alertou.

Exemplificou ainda que, segundo a avaliação do próprio Ministério da Educação, “há um grande desaparecimento de alunos das comunidades ciganas após o confinamento”.

“E como são populações nómadas é muito difícil encontrá-los”, disse, lembrando que há um trabalho de prevenção do casamento precoce junto destas comunidades.

Citando a Sociedade Portuguesa de Pediatria, João Costa lembrou que algumas crianças tiveram “profundas regressões em termos de desenvolvimento” no confinamento da primavera.

E alertou que “há crianças que não comem quando a escola está fechada”, reiterando intervenção anterior no debate da deputada na Assembleia Legislativa da Madeira e mandatária da candidatura de Ana Gomes naquela região autónoma, Elisa Seixas.

Por outro lado, recordou, citando mais uma vez Elisa Seixas, a escola é um espaço onde até é mais fácil a prevenção da contaminação com Covid-19, sobretudo para os alunos mais velhos.

“São espaços muito mais controlados do que andarem pela cidade sem qualquer contenção”, disse, afirmando lembrar-se bem de como era ser adolescente.

“Há aqui muitas dimensões do que é uma escola plena, que ensina, mas também desenvolve competências sociais, proteção social”, considerou, reiterando: “Não podemos ser precipitados”.

O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje na Assembleia da República que não hesitará em fechar estabelecimentos de ensino se verificar que a variante inglesa do novo coronavírus, mais contagiosa, se tornou dominante.

A declaração surgiu menos de 24 horas depois de o primeiro-ministro ter anunciado novas medidas de contenção da pandemia, sem no entanto alterar a decisão de manter as escolas abertas e com ensino presencial.

Sem se referir em concreto à questão do encerramento das escolas, Ana Gomes sublinhou no debate de hoje o “extraordinário papel da escola pública em fazer essa transformação” da sociedade e em “dar-lhe ferramentas que são mais do que o conhecimento livresco. É o conhecimento da vida”.

“A educação para a cidadania é op que se faz em todos os azimutes na escola (…) e sem cidadãos informados, conscientes não há democracia que funcione”, sublinhou a candidata.

Já hoje, numa ação de campanha em Almada, Ana Gomes afirmou que poderá ser indispensável encerrar as escolas por os hospitais estarem “no limite”.

“Já tivemos informação esta manhã de dirigentes de escolas que não são nada alarmistas que, neste momento, acham que vai ser indispensável fechar as escolas, mas é uma decisão que cabe ao Governo”, disse.

Portugal contabilizou hoje 218 mortes, um novo máximo de óbitos em 24 horas, relacionados com a Covid-19, e 10.455 novos casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Desde o início da pandemia, morreram 9.246 pessoas dos 566.958 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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  • Filipe
    20 jan, 2021 évora 16:54
    É fácil de resolver , basta requisitarem restaurantes agora fechados em todas as localidades de Portugal e fazerem serviço porta a porta , bem como supermercados e meterem de vez o povo dentro de casa .
  • Não façam drama
    20 jan, 2021 Vão ao Teatro! 11:50
    Este dramatismo todo, de que o futuro das "crianças" estará condenado por um possível confinamento de umas 2 a 3 semanas, além de ridículo, chateia ver adultos a tentarem enfiar essas ideias na cabeça de outros adultos. Ah, o "futuro" de uma geração fica perdido pelos danos "irreversíveis" que um confinamento Total de 2, talvez 3 semanas - que serão obviamente recuperadas, basta alterar o calendário escolar para o ano durar mais 2 semanas e passar os exames para Setembro - fará? A sério? Então e apanhar o Covid, passar 9 horas na ambulância à espera de dar entrada num Hospital superlotado, onde fica acamado nas macas ao molho, atendido por médicos / enfermeiros exaustos e com possíveis problemas de saúde para o resto da Vida, não acham que isso prejudica muito mais o "Futuro de uma geração" que retardar as férias na praia por 15 dias?
  • Cidadao
    20 jan, 2021 Lisboa 08:37
    Então a ir por aí, soltem-se os presos e "prendam-se" todas as crianças e alunos nas penitenciarias portuguesas: deixam de "andar por aí" a contaminar-se, estão em ambiente "vigiadissimo", têm 3 refeições por dia... Crianças para a cadeia. Já! As tretas que o governo arranja para não ter de dizer: "mas se mandamos os miúdos para casa, os Pais também lá ficam e depois quem é que trabalha? Como vamos cobrar impostos?". Não tomaram medidas nem fizeram planeamento na devida altura. Quando tomaram, além de tarde, foram erradas. Agora estamos como estamos.

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