Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

A arte religiosa no feminino nos olhares de Paula Rego e Josefa d’Óbidos

19 dez, 2020 - 13:20 • Maria João Costa

Na Casa das Histórias, em Cascais, a exposição intitulada "Paula Rego / Josefa de Óbidos - Arte religiosa no feminino" mostra, até 23 de maio, 115 obras de Paula Rego, algumas delas inéditas, e 21 pinturas de Jose de Óbidos.

A+ / A-

A separar Paula Rego de Josefa de Óbidos estão três séculos de distância, no entanto, as duas artistas têm pontos em comum no seu trabalho. A prová-lo está a exposição “Paula Rego/Josefa de Óbidos- Arte religiosa no feminino”, que abriu ao público este sábado na Casa das Histórias, em Cascais. Até 23 de maio, a mostra revela o diálogo entre os trabalhos das duas artistas e alguns inéditos de Paula Rego.

Em entrevista à Renascença, a curadora e diretora da Casa das Histórias Paula Rego refere que ambas as artistas têm “na genealogia artística feminina e na história da arte um papel fundamental”. Catarina Alfaro destaca que, quer Paula Rego, quer Josefa de Óbidos no seu tempo, abordam temáticas comuns, como “o protagonismo das mulheres na narrativa da religiosidade católica”.

Esta exposição, diz Catarina Alfaro, foi proposta pelo autarca de Cascais sensibilizado pelo presidente da Fundação D. Luís I para o tema. A vila tem na sua igreja matriz uma “das séries mais importantes de Josefa de Óbidos”, diz a curadora, que acrescenta que se trata de um conjunto de obras “dedicadas a Santa Teresa d’Ávila e ao seu pensamento místico”.

A série de Santa Teresa do Convento de Nossa Senhora da Piedade, de Cascais, é datada de 1672. Este núcleo da artista barroca é “complementado por obras que diferenciam a artista pelo seu olhar feminino, nomeadamente o tratamento de algumas personagens principais da religião católica, como Santa Catarina, que Paula Rego também lhe dedica atenção.

No entanto, Paula Rego e Josefa de Óbidos têm posições diferentes perante a religião. “A Paula Rego afirma que nunca teve uma edução religiosa”, explica Catarina Alfaro. A curadora sublinha, no entanto, que “houve sempre um interesse por parte de Paula Rego naquilo que a religião católica tinha de misterioso e que a fascinava”.

A historiadora de arte indica ainda que o que mais interessa a Paula Rego são as histórias e nesse sentido, é a história de “Virgem Maria” a que mais foca a sua atenção. “As séries que Paula Rego dedica à vida da Virgem mostram o lado mais humanizado, nomeadamente o momento do parto”, conta Catarina Alfaro.

“O sofrimento de Maria, quando perde o seu filho e o tira da cruz” está retratado numa obra inédita que pertence à coleção privada de Paula Rego e que poderá ser vista nesta exposição organizada pela Fundação D.Luís I em conjunto com a autarquia de Cascais.

Quanto a Josefa de Óbidos, a artista começou por trabalhar na oficina do seu pai. “Desde muito cedo, ela acompanha o pai para Coimbra onde ele recebia encomendas religiosas”. Tal como Paula Rego, também ela trabalhava num atelier e, em 1660, relata Catarina Alfaro, “torna-se autónoma do ponto de vista financeiro, emancipa-se, o que era incomum para a época”. O espaço de atelier era para Josefa de Óbidos “um espaço de afirmação da sua identidade”, refere a curadora.

Também para Paula Rego, o espaço do atelier é o epicentro da sua criação. “Quando a Paula Rego ia para o seu atelier, havia a indicação que a vida familiar não podia entrar”, lembra a diretora da Casa das Histórias que acrescenta que essa separação entre a vida privada e o trabalho “possibilitou a sua autonomia enquanto artista e enquanto mulher”.

“Ainda hoje existe essa relação quase mágica com o seu atelier”, explica Catarina Alfaro que lembra que é no espaço de trabalho que Paula Rego trabalha a partir dos modelos vivos e de outros objetos e personagens que cria para desenhar.

Em Cascais, a exposição “Paula Rego / Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino” mostra 115 obras de Paula Rego, entre pintura, desenho, gravura e escultura, em sete salas do museu e 21 pinturas de Josefa de Óbidos no espaço de exposições temporárias.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+