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Passos Coelho arrasa Governo: “Fuga às responsabilidades”, "inação", “populismo e facilitismo”

18 dez, 2020 - 19:43 • Paula Caeiro Varela , com redação

Antigo primeiro-ministro regressou aos holofotes mediáticos para fazer uma radiografia ao país. Do caso do SEF à TAP, da educação à economia, Governo de António Costa alvo de duras críticas de Passos Coelho, que deixa uma pergunta: "que Portugal é este que não consegue fugir à cauda da Europa?"

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O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho quebra o silêncio para acusar o Governo de António Costa de “fuga às responsabilidades” no caso da morte do cidadão ucraniano, “populismo e facilitismo” nos resultados na Educação e falta de respeito pelos contribuintes na reestruturação da TAP.

O regresso de Passos Coelho aconteceu, esta sexta-feira, na conferência “Globalização em Português: Revoluções e Continuidades Africanas”, no âmbito das comemorações dos 150 anos do nascimento do empresário Alfredo da Silva, criador do Grupo CUF.

Numa radiografia ao Portugal de 2020, o antigo líder do PSD apontou o caso da morte do cidadão ucraniano Ihor Homenyuk, à guarda do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), como um exemplo de “incompreensível inação” por parte do Governo.

“A procura de um bode expiatório nota-se, também, de um modo muito grave no que tem acontecido no caso extremamente preocupante de homicídio de um cidadão estrangeiro quando estava à guarda do Estado.”

“Depois de meses de incompreensível inação após os factos serem conhecidos, e com a autoridade do Estado seriamente abalada e a confiança nas instituições públicas beliscada, tudo tem servido para procurar disfarçar o indisfarçável: a superior dificuldade em admitir as falhas graves incorridas ao não se ter atuado prontamente”, acusa Passos Coelho.

O social-democrata identifica uma “incompreensível relutância em defender o Estado da fuga às responsabilidades dos seus dirigentes, que preferem lançar o opróbrio injusto sobre a toda a força de segurança em causa, nomeadamente apontando para o seu esvaziamento funcional, em vez da simples e pronta assunção de responsabilidade”, frisou.


TAP uma fatura para “demasiados contribuintes”

A entrada do Estado na TAP e o plano de reestruturação da empresa para fazer à face à crise espoletada pela pandemia de Covid-19 também merecem fortes críticas de Passos Coelho.

“A TAP prepara-se, se Bruxelas der autorização, para canalizar o que lhe falta na saúde, na educação, na ciência ou na ajuda à economia, para injetar na TAP redimensionada, com milhares de despedimentos inevitáveis, menos aviões e atividade, sem no entanto explicar ao país que apenas o fará porque reverteu uma privatização que vários governos tentaram, mas só um conseguiu concretizar”, afirma.

Para o antigo primeiro-ministro, “esta fatura que o Governo se prepara para endossar vai ser suportada por muitos anos, por muitos governos e demasiados contribuintes, a quem o Estado não vê hoje com respeito e parcimónia”.


“Ausência de humildade para corrigir políticas”

Pedro Passos Coelho também acusou o executivo de António Costa de “populismo e facilitismo” na polémica à volta dos maus resultados obtidos pelos alunos do 4.º ano a Matemática, no TIMMS - Trends in International Mathematics and Science Study.

“Um dos casos lastimáveis de fuga às responsabilidades e ausência de humildade para corrigir políticas que, manifestamente, se revelaram desadequadas. A manterem-se, estas políticas educativas trarão um prejuízo grande para a formação dos jovens portugueses”, atirou.

“O facto de o atual Governo ter preferido culpar o Governo que chefiei, e que já terminou funções há mais de cinco anos, por estes resultados que incidem sobre o percurso escolar de alunos que iniciaram os seus estudos já no âmbito das reformas introduzidas pela atual equipa governativa, além de ridículo, apenas serve para sublinhar como o populismo e facilitismo podem animar o debate político”, afirma o social-democrata.

Passos Coelho alerta que esta maneira de estar apenas servem para “desqualificar as políticas públicas e por impor um ónus sobre as gerações futuras, que enfraquece o país e que acabará por gerar maiores desigualdades e injustiças e sociais e económicas entre os portugueses”.

"Que Portugal é este que não consegue fugir à cauda da Europa?"

O antigo primeiro-ministro, que governou durante a intervenção da troika, alerta que Portugal está cada vez mais na cauda do pelotão europeu.

“Se somos já dos países mais antigos da política de coesão, seremos em breve, se tudo continuar como até aqui, o que mais distante se apresentará de todos os outros, incluindo os da coesão e daqueles em que as desigualdades de rendimento mais se apresentarão vincadas”, adverte.

Passos Coelho diz que está na hora de o país olhar para dentro, perguntar o que está a fazer mal para não conseguir descolar economicamente e introduzir reformas.

“Que Europa é esta que só prejudica em termos relativos Portugal? Não será, finalmente, conveniente perguntar que Portugal é este que não consegue fugir à cauda da Europa, quando praticamente todos os outros conseguem? A resposta terá de ser dada por nós próprios, olhando para dentro da sociedade portuguesa e mudando o que é preciso, mudar nas estruturas públicas e privadas, conseguir, se o assim o desejarmos, implantar regras estáveis e confiáveis, responsabilizar a sociedade civil e o Estado e cultivar um exemplo de salvaguarda e de separação de interesses que possa incutir o desenvolvimento do capital social e da confiança”, defende.

"Passividade portuguesa não tem explicação" em Moçambique

Passos Coelho aponta, também, falhas na internacionalização da economia portuguesa e atração de investimento externo. “Uma maior intensidade da inovação e do conhecimento não se fazem numa agenda externa de discursos de fachada”, sustenta.

O antigo governante acusa o Governo de negligenciar a lusofonia e de “passividade sem explicação” em relação à onda de refugiados causada pelos ataques terroristas em Moçambique.

“Não falo apenas do mundo europeu, falo também do mundo global, a começar pelo mundo global em língua portuguesa que tem andado tão arredado e distante das preocupações dos poderes públicos, ainda para mais quando há situações que bem reclamam uma outra atitude de responsabilidade e de solidariedade, como acontece perigosamente com Moçambique, por exemplo, cuja, pelo menos aparente, passividade portuguesa não tem explicação”, remata.

Comentários
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  • José J C Cruz Pinto
    22 dez, 2020 ILHAVO 10:54
    Corrijo a gralha: seria (e é) Joseph Stiglitz.
  • José J C Cruz Pinto
    22 dez, 2020 ILHAVO 07:22
    Sempre que PPC ("um") e o "outro" vêm a público "botar discurso" e "vomitar fel", logo acordam comentaristas de serviço com as loas do costume à sua "bondade", "competência" e "sabedoria", ainda que (em boa verdade, ou pelo menos na aparência) como resposta à inevitável repulsa e irritação expressa por outros tantos comentaristas (geralmente em bem maior número). Não se encontrou ainda meio seguro e fácil de convencer uns e outros de quem possa ter ou não ter  razão, mas poderá ser útil idealizar (ou, pelo menos, tentar imaginar) como. Imaginem então - sugiro - que conseguíamos convencer os "ditos cujos" a serem entrevistados (e eu diria mesmo "examinados", com direito a aprovação ou a "chumbo") por um "júri" constituído por Amartya Sen, Paul Krugman, Joseph Siglitz e Thomas Piketty, ou outros igualmente conhecedores e respeitáveis pelo seu reconhecido mérito e currículo (muito facilmente consultável, já sobejamente avaliado, e permanentemente avaliável pelas obras publicadas), mas não mais de quatro, ou só um, ao mesmo tempo. E imaginemos, obviamente, que os temas a examinar cobririam o "desenvolvimento económico e social", a "luta contra a pobreza e a desigualdade", e a "contenção e superação de crises financeiras". Nós, os leigos - bem como os nossos "competentíssimos" e "respeitáveis" gestores, empresários e banqueiros - assistiríamos, ... sem direito a intervir, claro. E, na tribuna, como observadores credenciados, poderíamos mesmo imaginar sentados, calados, mas atentos, ... muitos dos actuais e passados  especialistas do FMI, Banco Mundial, BCE, etc. Não será talvez muito difícil imaginar o resultado: "um" ficaria a saber que não sabe nada, e o "outro" pelo menos que - para sua incontida surpresa - não sabe tudo. E, por tabela, talvez até pudéssemos nós, os leigos (em directo, ou em diferido), testemunhar a expressiva ainda que tardia concordância de boa parte dos tais observadores credenciados - como esporadicamente têm aliás vindo a confessar -, de cada vez que os entrevistadores ou examinadores, por palavras, ou por meio de "desenho", explicassem as mais simples evidências. [Qual é a parte que os defensores de "um" e do "outro" não entendem?]
  • Antônio Dias Souto
    21 dez, 2020 Santarem 02:34
    O que o Dr. Passos Coelho argumenta, infelizmente já muitos dos PORTUGUESES, deram por isso. O populismo que este governo apregoa, até que enfim, há quem coloca os pontos nos i,s em relação a todas as questões que se estão a passar no país. Todas as áreas foram tocadas e sao factos indesmentiveis que é preciso divulgar e mostrar o contrário do que este governos nos quer fazer crer com o sua máquina de propaganda...
  • Gabriel Castro Lobo
    20 dez, 2020 Costa de Caparica 23:30
    Fico pasmado com é possível que uma rádio nacional como a RR, permita que uma série de criaturas que me recuso chamar de seres humanos, virem para este espaço escrever um churrilho de asneiras, vilipendiando o homem que tirou Portugal de uma intervenção estrangeira e que retribuiu ao país a sua condição de independência financeira, que nos foi retirada pela acção do governo socialista comandado por José Sócrates. Parece impossível que os portugueses possam dizer tudo o que lhes apetece sem terem de provar nada e não serem chamados para justificar as soezes acusações. O que devia preocupar os portugueses é a razão que passados 25 anos sobre o governo de Cavaco Silva, o poder de compra dos portugueses seja hoje inferior a quase todos os 19 países que na altura pertenciam à UE. Neste momento apenas dois desses 19 estão atrás de nós, quando na altura estávamos em 11º lugar. Quer isto dizer que durante estes 25 anos fomos ultrapassados por quase todos os países que se tinham ligado à UE, vindos dos países do Pacto de Varsóvia e que tinham níveis de vida muito inferiores ao nosso. É claro que muitos ignorantes irão dizer que a culpa é do Passos Coelho, mas a verdade é que nestes últimos 25 anos o PSD só foi governo 5 anos e meio, 1 ano e meio em 2000, depois da saída de Guterres que deixou o país financeiramente depauperado e os 4 anos de Passos Coelho com o país intervencionado pela troika e pelo FMI. Portanto, a culpa é TODA do PS e actualmente a situação está a cair rapidamente.
  • Mario Lopes
    20 dez, 2020 Londres 19:37
    Esta malandro, mandou emigrar os Portugueses, entre eles milhares de enfermeiros como eu, que hoje tanta falta fazem ao SNS que é melhor que o inglês. Como há gente que ainda defende esse malfeitor, que cortou nas pensões a velhinhos e a gente sem grandes recursos, que eliminou feriados que marcavam datas históricas Portuguesas, que foi além da troika, que privatizou a TAP e deu a desbarato muitas das nossas mais valias, que sabia do que se passava no BES e contribuiu para o que se passou. Mas como alguém de bom senso pode sequer falar nesta figura maquiavélica?
  • Eurico Eugénio
    20 dez, 2020 Mação 17:30
    Já cá faltava o Passos a debitar asneiras. Estavas tão bem calado...
  • Tobias Lavrador
    20 dez, 2020 Penafiel 15:34
    Sabes Pedrocas, ele há pessoas que recebem do fino e depois não pagam um tostão à Seg. Social. Logo assim fica tudo mais complicado. Estás a ver aonde quero chegar, meu rico Pedrocas? Ou precisas dum desenho?
  • Cidadao
    20 dez, 2020 Lisboa 11:19
    Você faria melhor? Talvez apresentar um programa eleitoral que uma vez ganhas as Eleições ia parar ao lixo com a desculpa costumeira: "...encontrámos uma situação muito pior que julgávamos...", e seria substituído por um programa de terrorismo eleitoral que nunca tinha ido a votos, não? Ou o corte imediato de salários, pensões, subsidios de Natal e férias, apesar de dizer que nunca faria isso, certo? Ou talvez recomendar a emigração maciça como meio de resolver os problemas? Talvez umas privatizações ao preço da chuva e onde nunca se soube muito bem para onde ia o dinheiro, a não ser que tenha ido para ajudas à banca, não era? Se calhar umas mudanças na TSU para por as pessoas a pagar impostos para financiar as empresas? Mas você pensa, que já nos esquecemos do que fêz nos 4,5 anos que lá esteve e do que se preparava para fazer se lá tivesse continuado?
  • Lopes
    20 dez, 2020 Funchal 08:54
    O padrinho do André Ventura ainda não emigrou?
  • Ana domingos
    19 dez, 2020 Lisboa 22:19
    Some-te Passos que sinto tantas saudades tuas como duma dor de dentes

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