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D. José Cordeiro. “É tempo para um renascimento social e eclesial”

28 nov, 2020 - 14:23 • Olímpia Mairos

Diocese de Bragança-Miranda inicia ano litúrgico e pastoral rumo à JMJ 2023. “É preciso caminhar e que ninguém fique para trás. Vamos acompanhar-nos uns aos outros, cuidarmos uns dos outros. E temos que caminhar juntos nesta relação intergeracional”, afirma bispo de Bragança-Miranda.

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A Diocese de Bragança-Miranda abriu, este sábado, o ano litúrgico-pastoral. A iniciativa, que teve lugar na catedral, contou apenas com um número restrito de participantes devido à pandemia de Covid-19.

Assente no tema “Uma Igreja serva que educa, celebra e festeja”, o plano pastoral insere-se no projeto pastoral da diocese para o triénio de 2020-2023.

Em entrevista à Renascença, D. José Cordeiro, bispo da diocese, explica que o plano “surge na maior consciencialização de que somos Igreja, povo santo de Deus, e no caminho sinodal vindo a percorrer”.

Este ano, a diocese propõe-se “a partir da profissão da fé, do credo, a prosseguir o caminho rumo à Jornada Mundial da Juventude 2023”, explica o prelado, acrescentando que em cada ano pretendem “acompanhar uma faixa especial, este ano as crianças, os adolescentes e os jovens, a caminho da JMJ”.

“Dispomo-nos a ser uma igreja servidora. Por isso, o lema mais alargado é uma Igreja serva, que educa, que celebra e que festeja, sentindo-nos todos pertença desta igreja e deste caminho que estamos a fazer juntos”, afirma D. José Cordeiro, explicando que “os novos têm força e os velhos têm sabedoria”.

“Todos juntos é que formamos a Igreja Una e Santa que desde o batismo nos foi dada por graça”, assinala.

Tempo de muitos desafios

O plano pastoral arranca e vai desenvolver-se em tempos de pandemia. Tempos difíceis, com grande impacto em vários setores e também na vida da Igreja.

É um tempo de “muitos desafios. Todo o cuidado é pouco. Além do cuidado sanitário, também esta cidadania ativa, responsável”, observa o bispo transmontano.

O responsável pela Igreja católica na diocese de Bragança-Miranda nota que a pandemia “afeta toda a história e também nos afeta a nós”, considerando que “este tempo de tribulação é também tempo forte de oração, de esperança”.

“É um tempo para renascermos juntos, para um renascimento social e um renascimento eclesial de tantas feridas que estão, mas também de procura das curas, à procura de uma vacina para esta pandemia, e que dela possamos sair mais humanos, mais fraternos, mais sábios”, explica.

D. José Cordeiro recorda a proposta que o Papa Francisco faz a partir do Evangelho de Lucas “jovem, eu te ordeno, levanta-te”, para realçar que esta é uma proposta que serve a todos”.

“Temos que nos levantar. E daí o nosso slogan, a partir de uma expressão transmontana, ´jovem’ – todos e cada um de nós – ´bota-te a andar’. É preciso caminhar e que ninguém fique para trás. Vamos acompanhar-nos uns aos outros, cuidarmos uns dos outros. E temos que caminhar juntos nesta relação intergeracional”, exorta.

É necessário “redescobrir o evangelho como movimento de Deus em direção aos homens”

O bispo de Bragança-Miranda mostra-se preocupado com os idosos da diocese, que viram a sua situação de isolamento agravar-se com as restrições impostas com vista a evitar a propagação da Covid-19.

“É uma enorme ocupação, não é só preocupação”, afirma D. José Cordeiro, acrescentando que os dados de que dispõe “são alarmantes”.

Temos mais de 3. 000 pessoas que vivem isoladas, que vivem sós e algumas já no esquecimento, e, sobretudo, neste tempo doloroso que nos toca viver”, lamenta.

O bispo transmontano considera que as pessoas que estão nas IPSS’s, ainda que na fragilidade da idade e da doença e das circunstâncias, têm um acompanhamento mais cuidado” e mostra-se “preocupado com os que vivem mais sós”.

É uma interpelação para todos, para os vizinhos, para as pessoas nas aldeias, nas pequenas comunidades”, afirma D. José Cordeiro, adiantando que logo que possível, neste Advento e nas proximidades do Natal, quer dar sinais de proximidade e estar próximo dos mais vulneráveis.

“Não podemos viver sem esperança, precisamos de nos animar uns aos outros, cuidar uns dos outros, fazer essa missão, sendo missão. Cada um tem que ser missão onde está, levando a consolação da esperança, às vezes, apenas com a nossa presença, não são necessárias muitas palavras”, considera o bispo transmontano.

“Também ousamos dizer que, numa Igreja solidamente instalada e às vezes com sapatos de chumbo, como S. Francisco de Assis, nós somos também interpelados a introduzir a mobilidade, a ligeireza, a alegria de caminhar, a exaltação da juventude, a alegria e a paciência do mensageiro”, defende, considerando ser necessário “redescobrir o evangelho como movimento de Deus em direção aos homens”.

D. José Cordeiro lembra ainda que “a Igreja é sacramento de salvação, é presença de Deus” e que “o irmão, a irmã, o mais pobre o mais idoso, o mais só, o mais carente é também um sacramento da presença de Deus”.

“Por isso, este Natal tem também um significado muito especial porque é um Natal de maior proximidade na essência da vida e do mistério de Deus na nossa história”, explica.

A presença da vida monástica na diocese

A abertura do ano litúrgico-pastoral na Diocese de Bragança-Miranda fica marcada também pela apresentação do Mosteiro Trapista de Santa Maria Mãe da Igreja, com uma comunidade de dez monjas trapistas, com idades compreendidas entre os 36 e os 83 anos.

“É um dom divino. É o dom da graça que já está entre nós”, afirma D. José Cordeiro.

O bispo de Bragança-Miranda conta à Renascença que “as monjas estão no silêncio próprio da vida contemplativa, também para estabilizar a comunidade. Porque é tudo novo para todos nós, mas também para as irmãs, que ousaram deixar o Mosteiro de Vitorchiano, deixar a sua terra, e vir e partir para sempre aqui”.

“Estão neste período de adaptação, para que também aqui seja Natal e surja essa luz maior da graça”, observa, identificando já “muitos sinais da presença de Deus a acontecer à volta e em torno do mosteiro. E quando se abrirem propriamente as portas, logo que seja possível, mais poderá ser dado a conhecer”.

O tempo agora, diz D. José, é de, com as irmãs, “dar graças a Deus por tudo aquilo que Deus realizou para que este sonho, que é de Deus, seja fecundo, aqui nestas terras, em novas vocações, em maior contemplação, em proporcionar também, indo ao encontro deste plano pastoral, a busca de Deus para o encontrar e o comunicar aos outros”.

“Esse é também o segredo último da vida contemplativa, do silêncio, desse escavar em profundidade e aí encontrar Deus e comunicá-lo como a beleza plena, a felicidade que se constrói aqui para ser vivida por toda a eternidade”, remata o prelado.

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