22 nov, 2020 - 11:15 • Manuela Pires
Já faltam poucos dias para a obra estar concluída. No interior da Igreja, ainda resta um andaime onde estão três técnicas de restauro a limpar a talha do camarim do trono.
O padre Sérgio Mendes vai dando instruções para a colocação dos bancos porque é a primeira vez que a Igreja recebe os fiéis desde o início da pandemia e todas as regras de segurança sanitária devem ser cumpridas.
“Esta Igreja tem capacidade para 180 pessoas, mas, agora, já vimos que só cabem nove filas de bancos de cada lado. Por isso, a lotação vai ficar reduzida a 80 pessoas”, relata o sacerdote à reportagem da Renascença.
Há 14 meses que a Matriz de Oeiras está em obras, para uma intervenção na estrutura do edifício do séc. XVIII, mas também para a conservação e o restauro de todos os elementos, desde a pedra à talha dourada, passando pelas esculturas e pelo restauro de18 telas.
“As telas foram removidas, colocadas em grades para a tela respirar numa caixa de ar, e foram para o atelier, onde foram recuperadas. As telas que estão junto ao teto estavam muito danificadas, já tinham rasgões e buracos”, explica António José Duarte, responsável pelo restauro.
António José Duarte, conservador e restaurador, conta que durante a pandemia o trabalho nunca parou: “Estávamos aqui 20 pessoas, lá fora tudo fechado, mas nós continuámos aqui como se estivéssemos numa bolha."
E durante este tempo, quando estavam a rebocar as paredes do exterior, que descobriram o altar original da Igreja. “A equipa de restauro considerou que era uma peça culturalmente importante e com interesse e que valia a pena restaurar”, conta o padre Sérgio Mendes.
O sacerdote contactou o Patriarcado para aferir sobre a possibilidade de colocar o altar no seu lugar original. “Não é impedimento para a celebração hoje, porque não será nesse lugar que vamos celebrar, mas é uma peça que enriquece a Igreja”, argumenta o padre, que recebeu "luz verde" por parte da diocese.
A Igreja Matriz de Oeiras assinalou, o ano passado, 275 anos de história. Foi construída em 1744 e acabou atingida pelo terramoto de 55 desse século. “Aqui na capela-mor, foram feitas sondagens e encontrámos ainda vestígios da pintura do séc. XVIII, com elementos vegetalistas, mas só na base, junto à sanca, porque o teto deve ter colapsado”, detalha António José Duarte.
A Igreja, em estilo maneirista com decoração barroca, tem ao longo das paredes 18 telas, a maior parte sobre a vida de Nossa Senhora, mas há uma imagem que está no altar, mais próximo da assembleia: trata-se da Senhora da Atalaia, com vestes vermelhas e um manto azul.
O padre Sérgio Mendes, que chegou a esta paróquia há dois anos, conta que esta foi a pintura que mais o impressionou porque “desde 1504, que Oeiras organizava uma peregrinação de barco até ao Montijo, até à senhora da Atalaia”.
“Ao longo destes meses, perdeu-se o contacto à porta da Igreja, as conversas no adro no fim da missa”, relata o pároco, que, nos últimos meses, tem celebrado as missas no salão paroquial da Figueirinha. "Por estranho que pareça", sente que se ganhou proximidade: " As pessoas vêm ter comigo e dizem que gostam que ir ao salão porque agora conhecem-se melhor uns aos outros."
“As pessoas que vêm tornam-se mais próximas, porque, como temos poucos lugares, é preciso uma inscrição prévia e os voluntários que acolhem as pessoas já as conhecem pelo nome”, explica. As pessoas sentem-se “mais pertença da comunidade e mais preocupadas umas com as outras”.