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Postal de Quarentena – Nagorno-Karabakh

“Há vantagens em ser um país não reconhecido internacionalmente”

17 abr, 2020 - 16:38 • Lena Asryan*

O Estado de Artsakh, ou Nagorno-Karabakh, não é reconhecido por qualquer outro país e continua em estado de guerra com o Azerbeijão, que reclama o controlo do território. A pandemia está controlada nesta região que está a aumentar a sua produção agrícola com o objetivo de poder ajudar outros na crise que se adivinha.

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O isolamento político tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que o facto de estar politicamente isolado do mundo e de ser um país não reconhecido internacionalmente, significa que não temos muita atividade internacional nem movimentos de pessoas, como acontece noutros locais. Isto reflete-se também no número total de doentes com Covid-19. De momento só temos seis infetados e cerca de trinta pessoas em isolamento, que estiveram em contacto com os infetados. O lado negativo é que também estamos isolados das ajudas sanitárias mais básicas, e outras, oferecidas pela Organização Mundial da Saúde e outras organizações internacionais, para lutar contra a Covid-19.

Contudo, graças ao Governo da República da Arménia e ao grande esforço do Governo de Artsakh [Nagorno-Karabakh], já temos à nossa disposição todos os meios necessários para lutar contra o vírus e minimizar ou mesmo evitar a sua propagação.

Neste momento a situação em Artsakh é estável. As pessoas compreendem bem a seriedade da situação e fazem o melhor para se protegerem a si mesmas e aos outros. Todas as instruções da pandemia são seguidas (distanciamento social, higiene pessoal e social, desinfeção). Não há pânico, nem stress desnecessário, mas sim responsabilidade e serenidade. Como disse acima, só tivemos seis casos confirmados. Três já recuperaram e, se tudo correr bem, amanhã terão alta. Os isolados estão sob vigilância médica rigorosa e a maioria não têm qualquer sintoma do vírus. Depois de cumprirem a quarentena, e de serem testados novamente, também poderão sair.

Desde o início de março, quando se registaram os primeiros casos de Covid-19 na vizinha República da Arménia, o Governo da República de Artsakh criou um gabinete especial para lidar com o assunto, cuja primeira prioridade era prevenir a contaminação e maior propagação no território de Artsakh (desinfeção de todos os lugares públicos, controlo médico em todas as fronteiras com a Arménia) e, depois, preparar todos os meios necessários (hospitais, espaços para isolamento, material médico e equipamentos de proteção pessoal) para todos os possíveis casos de infeção. As creches, escolas, universidades e estabelecimentos de ensino foram encerrados e desde meados de março os alunos estão todos a ter ensino à distância. Foi declarado um estado de emergência com limitações de movimento, circulação e aglomerações de pessoas, mas não foi declarada uma quarentena total ou limitações para toda a população e, se tudo correr bem, evitaremos esta medida. Os bancos, mercados e todos os serviços comunitários essenciais continuam a funcionar, tendo adotado todas as recomendações de segurança sanitária necessárias. Claro que a sua atividade não está ao mesmo ritmo que antes da pandemia, mas a vida não parou completamente.

Todos os peritos internacionais falam da crise económica que se vai seguir a esta pandemia e por isso o Governo de Artsakh já está a desenvolver uma série de iniciativas importantes para tentar amenizar os efeitos da crise económica que se presume que se vai abater sobre a nossa economia, e resolver as questões de segurança alimentar. Somos um país agrícola e esta Primavera aumentámos entre três a quatro vezes os hectares de campos cultivados, para tentar ser autossuficientes e ainda poder ajudar outros países.

Claro que a situação de encerramento parcial é difícil para todos. Contudo, como disse antes, as pessoas de Artsakh compreendem a seriedade do que se está a passar e estão a seguir todas as instruções dadas pelo gabinete criado para o efeito. Estamos todos otimistas e acreditamos que em breve, e com a ajuda e esforço de todos, sairemos desta situação.


*Lena Asryan é natural de Nagorno-Karabakh, onde vive e trabalha atualmente. Tem 35 anos é arqueóloga.

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  • An
    02 mai, 2020 08:19
    Eu respeito a liberdade de expressão. Mas sinceramente não entendo por que você publica as notícias do regime separatista que ocupava os territórios internacionalmente reconhecidos do Azerbaijão. Além disso, a ocupação de Nagorno-Karabakh e as sete regiões ao seu redor pelas tropas armênias ocorreram no contexto da limpeza étnica.

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