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Reportagem Covid-19

"Resposta do país é excecional". Laboratório privado bate recorde de testes, filas estão a aumentar

06 nov, 2020 - 17:26 • Beatriz Lopes (texto e fotos)

Os laboratórios do Grupo Germano de Sousa são responsáveis por cerca de metade dos testes a nível nacional. Esta terça-feira, foi atingido um recorde de 6.800 testes e as filas de espera continuam a aumentar.

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Há um contraste entre o rodopio que se vive dentro do Laboratório Central do Grupo Germano de Sousa, em Lisboa, e a estagnação de quem, no jardim ou no carro, de senha na mão, aguarda fazer teste à Covid-19.

É neste laboratório que passam entre 400 a 500 pessoas por dia e, embora sejam muitas as áreas de investigação em curso, há espaços dedicados somente à Covid-19: sete receções e quatro salas de colheitas.

Com mais dois laboratórios, no Porto e em Ponta Delgada, nos Açores, o Grupo Germano de Sousa é responsável por cerca de 47% dos testes feitos em todo o país. À Renascença, José Germano de Sousa, Médico Patologista e Administrador do grupo, avança que na passada terça-feira, foi atingido um recorde de 6.800 testes.

"Temos tido um aumento gigante no número de testes nestas últimas semanas, sobretudo a partir de outubro, sendo que na terça-feira tivemos o maior número de testes desde sempre".

Desde o início da pandemia, já foram feitos nos laboratórios Germano de Sousa cerca de 480 mil testes à Covid-19 e os dados vão ao encontro do retrato que tem vindo a ser feito a nível nacional.

"No último mês, o Porto que estava com um quarto dos doentes, agora tem quase metade. Temos também consciência que a lassidão com as regras dos mais jovens tem aumentado o pico pós-verão", confirma.

De acordo com José Germano de Sousa, o número de testes de rastreio à covid-19 que dão positivo tem vindo a aumentar. Nesta altura, a taxa de positividade situa-se nos 15%, o que significa que em cada 100 pessoas que fazem o teste cerca de 15 dão positivo. Uma taxa que praticamente duplicou desde Setembro.

"A resposta do país é excecional, estamos no top 10 de rácios de testes por 100 mil habitantes", sublinha.

Tempo de espera chega a atingir três horas

À entrada do laboratório, apesar do distanciamento físico ser respeitado, a fila dos que aguardam por um teste à Covid-19 estende-se às 70 pessoas. Um sinal claro de que há cada vez mais procura, mas também mais descontentamento pelo tempo de espera que, segundo os utentes, chega a atingir as três horas.

"Tenho 50 pessoas à minha frente, estou com uma criança de quatro anos com sintomas e tenho de esperar uma eternidade aqui ao frio", critica Ana Amaro.

"Está muito desagradável, posso não sair daqui com Covid, mas saio certamente com uma gripe", acrescenta Francisco Lança.

Mas há também quem elogie a capacidade de resposta do laboratório. Matilde Serra acaba de chegar e está prestes a ser atendida. Como? Graças a um método alternativo.

"Mal chegamos, podemos dar o nosso contacto à entrada, somos avisados do tempo de espera e depois recebemos uma mensagem quando estamos apenas a quatro pessoas de sermos atendidos. O que significa que eu posso ir dar uma volta, ou mesmo ir para o carro e não ficar aqui".

A par desta solução, o grupo Germano de Sousa conta ainda com uma sala de espera, embora o espaço tenha uma lotação limitada devido às regras sanitárias.

"Para cumprir as normas de distanciamento, conseguimos que a sala tenha entre 35 e 40 lugares e já a usámos em dias de chuva, quando é impossível manter as pessoas lá fora", explica o administrador do GGS, José Germano de Sousa.

Já quanto aos tempos de espera, "não se pode inventar o que não se tem", admite o médico patologista, mas sublinha que a empresa tem feito "esforços" para dar uma resposta mais célere aos pedidos.

"É natural que num pico, às sete da manhã, tenhamos 70 pessoas à porta quando neste local passam 400 a 500 doentes por dia. É óbvio que temos picos de espera, no limite, elevados. O que temos feito é um esforço para reforçar as equipas nos locais onde as pessoas podem fazer as colheitas e também abrindo novos postos".

Testes rápidos podem dar "falsa sensação de segurança"

Na próxima semana, Portugal começará a usar testes rápidos à Covid-19. As regras são claras: estes testes devem ser usados até ao quinto dia de sintomas, nos hospitais onde não haja testes PCR (os testes da zaragatoa que têm sido usados para detetar o SARS-CoV-2) e em surtos concretos, onde é preciso isolar os casos positivos de forma rápida.

Se um doente testar negativo num teste rápido, deve fazer um teste PCR, é também por esse motivo que José Germano de Sousa alerta para a "falsa sensação de segurança".

"O teste rápido tem uma sensibilidade mais baixa do que aquela que tem um PCR. Em 100 pessoas, vão fugir sempre da positividade cerca de 20 a 30 pessoas mesmo sendo positivas. Vão perder-se na malha os doentes".

E acrescenta: "E nem pensar fazer aquilo que começa a acontecer, que é fazer testes rápidos só para libertar as angústias das pessoas, por exemplo em fábricas. Ou uma criança que tem um caso positivo na turma, faz o teste, dá negativo e depois vai lanchar com a avó".

“O que se está a assistir é à utilização generalizada. Sem controle nenhum de nada, sem ser feito por pessoal especializado e pior, sem que os resultados sejam reportados no SINAVE, a plataforma nacional de registo dos casos. Há um descontrolo absoluto.”

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