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Solução inovadora vai permitir "montar" uma casa com blocos de "espuma"

03 nov, 2020 - 10:33 • Olímpia Mairos

É uma montagem rápida, fácil, barata e sem gruas. Estas são as principais vantagens desta construção modular desenvolvida na Universidade de Aveiro, que usa "espuma" com um revestimento derivado da madeira ou um compósito plástico.

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A Universidade de Aveiro (UA) e a Dreamdomus desenvolveram uma solução inovadora de construção modelar, um sistema baseado em blocos multifuncionais que podem ser fabricados em diferentes tipos de materiais e ser utilizados na construção de pequenas habitações e outras instalações permanentes ou temporárias.

Em entrevista à Renascença, Carlos Relvas, investigador do departamento de Engenharia Mecânica da UA, que concebeu o novo sistema, explica em que consiste e que vantagens pode trazer à construção civil. Entre elas, destacam-se a edificação de campos para refugiados, a construção de habitações pós-catástrofes e até estruturas que em tempos de pandemia substituam as tendas onde atualmente são feitos os testes à Covid-19.

Como surgiu este sistema modular e em que consiste?

A área da construção civil tem sofrido grandes desenvolvimentos e isto é mais uma proposta. Nós acreditamos que, se conseguirmos acelerar o processo, fornecendo a quem vai construir a casa um produto já pré-fabricado e pronto a montar e a instalar, isso pode encurtar em muito o prazo de construção, fabrico e montagem.

No fundo, facilitar a vida às pessoas...

É nesse sentido que tentamos desenvolver uma proposta que envolve um bloco que tem uma geometria específica e, depois, tem todo um sistema de montagem rápido, seguro e acessível para qualquer pessoa, uma vez que está isento de erros e depois, a própria pessoa pode proceder a essa instalação.

Nesta fase, aquilo que nós temos é um produto que se destina a pequenas instalações habitacionais, quer dizer um anexo, uma garagem, um escritório ou até fazer alguns melhoramentos dentro da própria casa, criar uma parede divisória. E isto não envolve sujidade, é fácil de montar, de instalar. Nós queremos ir um bocadinho mais além, mas esta é a fase onde nós estamos basicamente.

Que tipo de materiais são usados?

Nesta altura, é bom que se diga que existem aqui duas áreas, uma que tem muito a ver com a geometria, com uma geometria específica, e todo o sistema de instalação e montagem destes blocos. Essa é uma questão. Aquilo que depois nós desenvolvemos para consolidar este conceito foi uma proposta que usa poliestireno extrudido (XPS), que é uma espuma estrutural, e depois tem um revestimento em OSB, um derivado da madeira, ou pode também ser usado um material fenólico que é um compósito plástico. Mas, como disse, esta geometria e este conceito está preparado para poder vir a utilizar outros tipos de materiais como aglomerado de cortiça, de madeira, qualquer outro compósito natural.

É evidente que nós temos algumas preocupações, quer de natureza do tipo de material, quer mesmo do ponto de vista da sua funcionalidade. Os blocos para poderem ser montados, instalados por uma pessoa em sua casa, não devem ter um peso excessivo, porque isso envolve outro tipo de ajudas e equipamentos. Nós estamos a trabalhar nesta área. Estes são, para já, os nossos pontos de partida. É também onde conseguimos chegar. O uso destes materiais que nos vão permitir também serem leves e fáceis de usar, de produzir, e permitem um conforto térmico, garantindo isolamento, o que é muito bom para a instalação.

Existe também a preocupação de facilitar a vida às pessoas...

Ao termos optado por este tipo de materiais que são leves, os blocos tornam-se também eles leves, as paredes são autoportantes, não têm um peso excessivo, o que permite que uma pessoa ou duas a possam instalar. Este tipo de montagens ou instalações, por questões de segurança, não devem ser executadas por uma única pessoa. No mínimo, uma a trabalhar e outra a vigiar, para evitar qualquer tipo de acidente ou qualquer outro tipo de questão. Poderão haver tarefas que podem envolver efetivamente a necessidade de ajuda. Não é necessário instalações de gruas, sistemas de elevação, porque os blocos, os módulos são relativamente leves, são autoportantes, uma pessoa só consegue fazer a instalação e montagem de um pequeno módulo habitacional de 3x3 metros e 22,5 metros cúbicos, o que torna acessível a uma pessoa a sua instalação.

Estamos a falar de uma solução que pode ser aplicada, por exemplo, na construção de campos para refugiados ou como resposta à criação de habitação após uma catástrofe?

A questão que se coloca, em primeiro lugar, é nós conseguirmos adaptar a natureza dos materiais para, em cada local, podermos recorrer a materiais endógenos, para não andarmos com grandes custos de transporte dos blocos; conseguirmos, de alguma forma, transferir também o processo de fabrico para algo mais próximo das zonas onde vão ser instalados. Mas, em situações limite, é possível efetivamente termos as fábricas deslocadas do sítio onde eles vão ser instalados e depois, como são muito fáceis de instalar, é possível levar isso para junto das pessoas e ter as mais variadas utilidades.

Nesta altura, infelizmente com a pandemia, nós vemos muitas instalações provisórias em tendas de apoio ou contentores. Esta é uma solução que concorre em paralelo com essas soluções, oferecendo, logo à partida, um conforto superior. Em termos de isolamento térmico, a solução que está desenvolvida é melhor e evita, depois, o dispêndio de energia para fazer o aquecimento, o arrefecimento, por causa das flutuações climatéricas.

E já pode ser usada neste momento?

Infelizmente não. Nós estamos a ultimar o nosso protótipo de apresentação, mas existem algumas dificuldades para responder a uma produção intensiva, desde já. Isso é uma parceria com a empresa Dreamdomus e é preciso reafectar recursos para conseguirmos ter isso tudo disponível no mercado, em quantidades necessárias.

Mas será possível a curto prazo?

Como investigadores, quando temos uma ideia, queremos que ela avance o mais rapidamente possível e muitas vezes não nos apercebemos de algumas dificuldades que estas questões podem envolver. Eu estou convencido que será num curto prazo.

Provavelmente só teremos uma solução disponível em massa nunca num período inferior a um ano. Deveremos ter algumas instalações protótipo, temporárias, demonstração, mas em termos de comercialização em massa, não teremos o produto disponível em menos de um ano.

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