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Paris avisa cidadãos em países muçulmanos para terem cuidado

27 out, 2020 - 14:54 • Filipe d'Avillez com Reuters

Com o aumento de críticas, apelos ao boicote e manifestações contra França em países de maioria islâmica Paris teme que os seus cidadãos sejam alvo de ataques retaliatórios.

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O Governo francês emitiu um alerta para todos os seus cidadãos que se encontrem a viver ou a viajar em países de maioria muçulmana, para terem cuidados acrescidos por causa da crescente onda de hostilidade antifrancesa que tem surgido por causa da questão dos cartoons de Maomé.

O aviso francês segue-se aos protestos e hostilidade que se fizeram sentir em países como o Paquistão, Turquia, Kuwait e Bangladesh, entre outros, depois de o Estado francês se ter comprometido a garantir a liberdade de expressão, recusando-se a condenar a publicação ou divulgação de imagens ou mensagens consideradas ofensivas para o Islão, como é o caso dos cartoons de Maomé.

A questão dos cartoons já tem vários anos, tendo na altura provocado protestos e, mais tarde, um ataque à revista “Charlie Hebdo”, que as publicou inicialmente, mas reacendeu-se recentemente quando um professor de liceu os mostrou numa aula sobre liberdade de expressão. Dias mais tarde o professor foi atacado e decapitado perto da escola por um jovem radical islâmico de origem chechena.

Na sequência do assassinato, muitos franceses têm exposto os cartoons num sinal de solidariedade.

Na Turquia o Presidente Erdogan aproveitou para criticar a França e sugerir que Emmanuel Macron tem problemas mentais e vários outros países islâmicos exigiram que França trave os insultos ou a apelar a boicotes de produtos franceses.

Esta terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros de França lançou um alerta de segurança para os seus cidadãos que se encontram na Indonésia, Bangladesh, Iraque e Mauritânia, avisando-os para terem cuidados acrescidos, evitando zonas onde se realizam protestos ou onde haja grandes aglomerações de pessoas.

“Recomenda-se o exercício da maior vigilância, sobretudo em viagem e em locais que são frequentados por turistas ou comunidades de expatriados”, lê-se.

A embaixada francesa na Turquia fez um aviso semelhante.

Enquanto a tensão aumenta entre Paris e países de maioria muçulmana, em França a comunidade islâmica optou por outra abordagem. O líder do Conselho Francês para a Fé Muçulmana, Mohammed Moussaoui, apelou aos muçulmanos do seu país para que ignorem os cartoons.

Recordando que a publicação das imagens não viola a lei francesa, disse ainda que “esta mesma lei não obriga ninguém a gostar delas, nem proíbe ninguém de as odiar”.

Moussaoui afirmou ainda que os muçulmanos devem seguir o exemplo do profeta Maomé ignorando os insultos a que são sujeitos, lembrando a tradição muçulmana que indica que uma vez em que uma multidão gozou com Maomé, chamando-o feio, ele se limitou a ignorar os insultos.

“Não está mais em linha com o exemplo do profeta ignorar estas caricaturas, considerando-as como não tendo qualquer relação com o profeta?”, pergunta o líder islâmico.

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