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Oposição democrática da Bielorrússia distinguida com Prémio Sakharov

22 out, 2020 - 11:14 • Vasco Gandra, em Bruxelas, com Redação

A cerimónia de entrega do prémio está marcada para 16 de dezembro, em Estrasburgo.

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A oposição democrática na Bielorrússia, representada pelo Conselho de Coordenação, venceu, esta quinta-feira, o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020, anunciou o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.

A decisão da conferência de presidentes do PE destaca a oposição democrática ao regime de Lukashenko, sublinhando o papel do Conselho de Coordenação, uma iniciativa de mulheres corajosas e figuras políticas e da sociedade civil.

Desta iniciativa fazem parte Sviatlana Tsikhanouskaya (principal candidata da oposição), Svetlana Alexievich (laureada com um prémio Nobel), Maryia Kalesnikava (música e ativista política), Volha Kavalkova e Veranika Tsapkala (ativistas políticas).

Mas também há figuras políticas e da sociedade civil bielorrussa, como: Siarhei Tsikhanouski (videoblogger e preso político), Ales Bialiatski (fundador da organização bielorussa dos direitos humanos “Viasna), Siarhei Dyleuski eStsiapan Putsila (fundadores do canal Telegram NEXTA) e Mikola Statkevich (preso político e candidato presidencial às eleições de 2010).

"O governo e o presidente [Lukashenko] perderam as eleições. É altura de ouvirem a voz do seu povo. Mas mais importante, gostaria de felicitar os representantes da oposição bielorrussa pela sua coragem, resiliência e determinação. Incarnam diariamente a defesa da liberdade de pensamento e de expressão que o Prémio Sakharov distingue. Permanecem fortes contra um adversário muito poderoso. Mas têm algo do seu lado que a violência nunca pode superar - a verdade. Caros vencedores, sejam fortes e não renunciem à luta. Estamos ao vosso lado", disse o presidente Sassoli que manifestou o desejo de poder acolher no Parlamento os representantes da oposição bielorrussa para lhes entregar o Prémio.

Em posições recentes a União Europeia considerou que Lukashenko carece de legitimidade democrática e não reconhece os resultados das presidenciais de agosto. A reeleição de Lukashenko, há 26 anos no poder, levou a uma onda de contestação e manifestações que o regime tem reprimido violentamente.

Numa resolução adotada em setembro de 2020, o Parlamento Europeu condenou as autoridades bielorrussas por responder com uma repressão violenta aos protestos pacíficos.

Entre os outros dois finalistas desta edição encontravam-se o grupo de ativistas de Guapinol e Berta Cáceres, nas Honduras, e Monsenhor Najeeb Michaeel, Arcebispo de Mossul, Iraque.

"Queria também deixar uma palavra relativamente à recente morte de um dos nossos finalistas deste ano, Arnold Joaquín Morazán Erazo, um elemento do grupo ambientalista Guapinol. Este grupo opõe-se a uma mina de óxido de ferro nas Honduras. É imperativo que seja aberta uma investigação credível, independente e imediata para este caso e que os responsáveis sejam responsabilizados”, afirmou o presidente do PE.

Sakharov, um Prémio em defesa dos direitos humanos

O galardão foi atribuído pela primeira vez em 1988 a Nelson Mandela e ao dissidente russo Anatoli Marchenko. O nome do prémio é uma homenagem a Andrei Sakharov, cientista russo e crítico do então regime soviético. O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é um tributo prestado pela União Europeia ao trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos. Tem um valor de 50 mil euros.

Em 2019, o vencedor da distinção foi Ilham Tohti, economista chinês de etnia uigur que luta pelos direitos daquela minoria na China. Entre os laureados já houve dissidentes, movimentos políticos, ativistas, escritores jornalistas, advogados, organizações antiterroristas, militantes pacifistas e um cartoonista.

O Sakharov já homenageou assim a luta dos que se batem pela democracia e os direitos humanos em países tão distintos como a Bielorrússia, Cuba, Venezuela, Irão, Congo, China ou Paquistão, entre muitos outros países. Alguns dos laureados, estão presos e não puderam sequer receber o prémio no Parlamento Europeu, como então o bloguista saudita Raif Badawi ou o chinês Ilham Tohti, defensor da minoria uigure.

Entre os recompensados com o Sakharov, estão também os lusófonos Xanana Gusmão em 1999 então líder da luta de Timor-Leste pela liberdade e autodeterminação, e em 2001 o líder civil e religioso angolano D. Zacarias Kamwenho defensor dos direitos humanos e do processo de paz. Justamente, há dois anos, em entrevista à Renascença, Dom Zacarias afirmava que o Prémio Sakharov serviu para despertar as atenções para o conflito em Angola.

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