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O evangelho do “salva-te a ti mesmo” não é o Evangelho da Salvação, diz Papa

20 out, 2020 - 15:43 • Filipe d'Avillez

"O cristão não pode deixar de se sentir responsável pela sorte do próximo", considera o Papa, sobretudo pelos mais pobres, “os mais parecidos com Jesus”. Francisco falava durante a homilia no encontro internacional pela paz, que se realiza em Roma, com a presença de representantes das principais religiões do mundo.

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O Papa Francisco alertou esta terça-feira para o perigo do homem ter como prioridade salvar-se a si mesmo, sem se preocupar com os seus irmãos.

Francisco falava durante a homilia no encontro internacional pela paz, que se realiza em Roma, com a presença de representantes das principais religiões do mundo.

Durante a celebração ecuménica que reuniu os cristãos presentes, incluindo o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, a principal figura do mundo ortodoxo, o Papa comentou a passagem do Evangelho que narra a crucificação de Jesus e a forma como os vários presentes, que observavam o desafiaram a salvar-se a si mesmo, descendo da cruz.

Tal atitude é o contrário daquilo que Cristo vinha fazer à terra, explicou Francisco. “O ‘evangelho’ do salva-te a ti mesmo não é o Evangelho da salvação. Antes, é o evangelho apócrifo mais falso, que coloca as cruzes aos ombros dos outros. Ao contrário, o Evangelho verdadeiro assume as cruzes dos outros”, explica o Papa.

Francisco continuou dizendo que muitos dos que procuravam Jesus no seu tempo queriam apenas resolver problemas pessoais, quando o seu verdadeiro problema era a falta de amor. “Deus vem não tanto para nos livrar dos problemas, que sempre reaparecem, como sobretudo para nos salvar do verdadeiro problema: a falta de amor. Esta é a causa profunda dos nossos males pessoais, sociais, internacionais, ambientais. Pensar apenas em si mesmo é o pai de todos os males”.

Encontro inter-religioso pela paz. Papa garante que “com a ajuda de Deus, é possível salvarmo-nos juntos”
Encontro inter-religioso pela paz. Papa garante que “com a ajuda de Deus, é possível salvarmo-nos juntos”

O tema deste encontro inter-religioso é “Ninguém se salva sozinho” e esta mensagem, considera o Papa, está prefigurada na forma como Jesus deu a sua vida pela humanidade. “No Calvário, aconteceu o grande duelo entre Deus que veio salvar-nos e o homem que quer salvar-se a si mesmo, entre a fé em Deus e o culto do eu, entre o homem que acusa e Deus que desculpa. E chegou a vitória de Deus; a sua misericórdia desceu sobre o mundo. Da cruz, brotou o perdão, renasceu a fraternidade.”

“Os braços de Jesus, abertos na cruz, assinalam uma mudança radical porque Deus não aponta o dedo contra ninguém, mas abraça a cada um. Pois só o amor apaga o ódio, só o amor vence completamente a injustiça. Só o amor dá espaço ao outro. Só o amor é o caminho para a plena comunhão entre nós”, acrescentou Francisco.

A chave para a vida do cristão é, por isso, fixar-se em Cristo e com Ele sentir-se responsável pelo próximo. “Quanto mais estivermos agarrados ao Senhor Jesus, tanto mais seremos abertos e ‘universais’, porque nos sentiremos responsáveis pelos outros.”

“E o outro será o caminho para nos salvarmos a nós mesmos: cada um dos outros, cada ser humano, seja qual for a sua história e o seu credo, a começar pelos pobres, os mais parecidos com Jesus”, concluiu o Papa.

O evento prosseguiu com um encontro entre os representantes de todas as religiões, em que Francisco responsabilizou a classe política pela construção da paz. No final do encontro todos os presentes assinaram uma declaração conjunta pela paz.

[Notícia atualizada às 19h34]

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