​Prémio Vilalva vai permitir à Igreja de Santa Isabel continuar obras de restauro

12 out, 2020 - 20:09 • Maria João Costa

No valor de 50 mil euros, o Prémio Vilalva da Fundação Calouste Gulbenkian, entregue esta segunda-feira, vai contribuir para a continuação do restauro da Igreja de Santa Isabel, em Lisboa.

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É o padre José Manuel Pereira de Almeida quem nos abre as portas de Santa Isabel, lá dentro a igreja parece não ter teto. A pintura do artista Michael Biberstein cobre toda a abóbada e revela um céu luminoso. Este é um dos elementos do restauro desta igreja que cuja construção começou antes do grande terramoto de Lisboa e que sobreviveu, como diz a conhecida expressão popular, “resvés Campo de Ourique”.

O projeto de restauro da Igreja de Santa Isabel recebeu este ano o Prémio Vilalva, da Fundação Calouste Gulbenkian. São 50 mil euros que, nas palavras do padre da paróquia, significam “um prémio dado a uma obra em progresso”.

A cerimónia da entrega do prémio decorreu esta segunda-feira na presença do Presidente da República, enquanto toda a parede esquerda daquela igreja de Campo de Ourique está coberta de andaimes.

Os discursos foram escutados ao lado do altar, que também já foi alvo de restauro e que permitiu recuperar a pedra original do lioz, que pesa seis toneladas e estava escondida na sacristia. O padre Pereira de Almeida evocou as palavras do cardeal D. Manuel Clemente, que sublinhou o lado “prestigiante” do prémio, mas destacou também o que chamou de “acompanhamentos”. São esses “acompanhamentos” financeiros que estão a permitir avançar a obra de restauro, contudo, Pereira de Almeida faz questão de lembrar que os “doadores são bem-vindos”.


Na cerimónia em que estiveram presentes alguns membros do júri, foram destacados os critérios que levaram a este prémio. O presidente do júri, em declarações à Renascença, destaca que a verba agora atribuída vai permitir o avanço nas obras “do presbitério, mobiliário e capela mor”.

António Lamas olha para este restauro “como um exemplo” e aponta “o processo colaborativo iniciado há 10 anos que, aos poucos, juntou generosidades e competências sempre muito elevadas”.

O projeto, que teve a coordenação do Padre J. M. Pereira de Almeida e do arquiteto João Appleton, deu corpo ao restauro desta igreja, da autoria de Carlos Mardel, ao longo de vários anos.

O processo foi lembrado na cerimónia pelo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa recordou que, na sua adolescência, esta também tinha sido a sua paróquia e que nela já então era discutida uma intervenção de recuperação. O agora chefe de Estado recordou que, nessa altura, a comunidade desta igreja estava dividida.


Marcelo, que destaca este restauro como “um exemplo notável” de recuperação de “património cultural português, neste caso religioso”, aponta ainda a “emoção” que sente neste “encontro entre o passado, o presente e o futuro e a homenagem a Michael Biberstein”.

Em declarações à Renascença, o Presidente da República recorda os tempos passados nesta igreja de Santa Isabel, onde na adolescência vinha e afirma encontrar agora “o retomar da mensagem do Concilio do Vaticano II”, altura em que “começou o primeiro grande esforço de restauro de Santa Isabel”, recuperação essa que Marcelo diz ter “timidamente” começado “nos pontificados de João XXIII e Paulo VI” e que “culmina agora no de Francisco.”

Recuperadas foram também as pinturas da igreja, “o mais importante conjunto de retábulos pombalinos” numa igreja, refere o Padre Pereira de Almeida.

Esta obra, ainda em curso, faz parte de um longo “sonho”, referiu à Renascença Isabel Mota. A presidente da Fundação Calouste Gulbenkian aponta este exemplo como demostrativo da reunião de muitos esforços. Isabel Mota fala de “muita colaboração” entre os vários elementos que deram corpo a este projeto de restauro e “muito conhecimento de qualidade”.

Na cerimónia, João Appleton elencou todos os nomes que permitiram por de pé este restauro onde a modernidade e o clássico estão em diálogo. Fundamental para esse encontro foi o artista Michael Biberstein, que ofereceu o projeto de pintura do teto, mas que morreu antes deste ser concretizado. A obra acabou por ver a luz do dia devido à reunião de vários apoios mecenáticos e ao acompanhamento do artista Julião Sarmento e do curador Delfim Sardo. Uma intervenção pictórica cuja “espetacularidade e requinte estético”, foi destacado pelo júri.

O Prémio Vilalva, criado em 2007 pela Gulbenkian para homenagear Maria Tereza e Vasco Vilalva, atribuiu também este ano uma menção honrosa ao projeto de reconversão e reabilitação do Prédio na Rua da Boavista, 69, em Lisboa levava a cabo pelos arquitetos Filipa Pedro e Paulo Pedro.

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