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Reações dos partidos ao discurso de Marcelo. "Alerta ao eleitorado e aos cidadãos", diz o PSD

05 out, 2020 - 14:40 • Lusa

PSD fala de alerta para o eleitorado, BE considera que houve três ideias fortes, e CDS sublinha o apelo à transparência dos fundos europeus.

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O PSD considerou esta segunda-feira que a mensagem do Presidente da República contra as ditaduras é “um alerta ao eleitorado e aos cidadãos” e apontou Marcelo Rebelo de Sousa, num contexto de possível candidato às Presidenciais, como “referencial de estabilidade”.

“Lemos essa parte da intervenção de forma muito tranquila porque todos sabemos que há o advento das extremas direitas um pouco por toda a Europa e Portugal está na Europa. O pluripartidarismo que está já na Assembleia da República traga também os mesmos fenómenos que vemos na Europa. [A mensagem é] um alerta ao eleitorado e aos cidadãos para que saibamos valorizar o que de mais importante temos que é a liberdade e a democracia”, disse o vice-presidente do PSD André Coelho Lima.

O deputado social-democrata, que falava aos jornalistas no Porto para reagir em nome do PSD ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na cerimónia comemorativa do 110.º aniversário da Implantação da República, foi questionado sobre se interpretava as palavras do chefe de Estado contra as ditaduras como um recado ao PSD ou a partidos que possam mostrar disponibilidade para fazer acordos com outros como o Chega de André Ventura.

Sem responder diretamente à questão, André Coelho Lima disse que “se há partido que está confortável em ser um referencial de estabilidade e democracia é o PSD” e apontou Marcelo Rebelo de Sousa, ainda que salvaguardando que este não avançou como candidato às próximas Presidenciais, como “um referencial de estabilidade”.

“O senhor Presidente da República é no cenário dos candidatos presidenciais que se adivinharão – e se eventualmente o for porque ainda não anunciou – um referencial de estabilidade e de moderação. É natural que essa tónica seja acentuada para tornar claro o que distingue Marcelo Rebelo de Sousa dos demais candidatos se ele entender candidatar-se a Presidente da República.

Até ao momento são conhecidos os seguintes candidatos às Presidenciais: o deputado André Ventura (Chega), o advogado e fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves, o líder do Partido Democrático Republicano (PDR), Bruno Fialho, a eurodeputada e dirigente do BE Marisa Matias, o também eurodeputado do PCP João Ferreira, a ex-deputada ao Parlamento Europeu e dirigente do PS Ana Gomes, Vitorino Silva (mais conhecido por Tino de Rans), o ex-militante do CDS Orlando Cruz.

Hoje o Presidente da República deixou no seu discurso do 5 de Outubro uma mensagem contra as ditaduras, afirmando que não são desejadas em Portugal e que pelo mundo fora não resolveram a atual crise.

"Vamos continuar a agir em liberdade, porque não queremos ditaduras em Portugal", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na cerimónia comemorativa do 110.º aniversário da Implantação da República.

O chefe de Estado, que falava no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Lisboa, acrescentou: "E sabemos que ditaduras por esse mundo fora não resolveram esta crise, e porventura nem sequer a assumiram a tempo e com transparência".

Sem apontar nenhum caso em concreto, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que Portugal deve "continuar a agir em liberdade" e "sempre em conformidade com a ética republicana, que repudia compadrios, clientelas, corrupções".

BE diz que tem respostas

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) defendeu que o partido tem apresentado, nas últimas semanas, “algumas respostas” para a crise que o Presidente da República diagnosticou hoje no discurso do Dia da Implementação da República.

“Este discurso teve três ideias fortes. Um apelo a uma resposta forte à crise pandémica, mas também social e económica. A indicação de que estas respostas à crise não podem ser apenas para os privilegiados e, uma nota que decorre desta, uma rejeição dos compadrios e da corrupção”, analisou Pedro Filipe Soares.

Em reação ao discurso de hoje do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nas comemorações do 110º aniversário do 5 de Outubro, o líder bloquista defendeu que nessas ideias “se compreende algumas das respostas que o Bloco de Esquerda tem dado nas últimas semanas”.

“Em particular na preparação do Orçamento do Estado para 2021, porque todos percebemos que esta crise não pode deixar o país com os mesmos problemas estruturais que já tinha, não pode deixar o país com a fragilidade das relações de trabalho, que já era um problema que tinha de ser corrigido, que o reforço dos serviços públicos é a garantia que ninguém fica sem cuidados de saúde”, defendeu,

E acrescentou que “o ‘ganguesterismo’ financeiro não pode continuar a ser recompensado e que, no momento que existe uma enorme pressão económica se transforme também numa enorme crise social, ninguém pode ser deixado para trás”.

Prioridades que Pedro Filipe Soares disse estarem nas sugestões entregues ao Governo, “para que o OE não falhe ao essencial” e “também estão de certa forma alinhadas com as preocupações que o senhor Presidente da República hoje enunciou”.

“Este discurso, da nossa parte, tem uma materialização concreta que é este processo negocial com o Orçamento de Estado em que temos apresentado estas prioridades que são aquelas que respondem, no essencial, às urgências que as pessoas sentem na crise económica e social que está a avançar e às respostas que o país tem de dar na frente pandémica para garantir que esta segunda vaga não seja pior que a primeira”, defendeu.

Pedro Filipe Soares considerou que Marcelo Rebelo de Sousa fez “um diagnóstico que tem uma subscrição alargada na sociedade, agora a materialização das soluções, das saídas é que é algo que o senhor Presidente não elenca dando espaço para que os partidos o possam fazer”.

Neste sentido, disse que o BE está “disponível para construir um OE que não falhe no momento essencial ao país e, por isso, responde à crise, a estes problemas estruturais que abriram as portas a que a crise cavasse mais fundo, quer do ponto de vista económico e social, quer do ponto de vista pandémico”.

“Esta nossa disponibilidade não é uma disponibilidade oca, sem conteúdo, é sim uma firme convicção de que estas são as urgências às quais temos de dar uma resposta forte no Orçamento de Estado e é para isso que estamos disponíveis”, assumiu.

CDS elogia cautelas éticas para uso dos fundos europeus

O presidente do CDS-PP saudou o discurso do 5 de Outubro do Presidente da República, considerando que pediu cautelas éticas na aplicação de fundos europeus, contra a “corrupção, clientelismos e compadrios”.

“Na opinião do Presidente da República e do CDS-PP, os milhões da Europa não podem ir parar às mãos dos privilegiados, de empresas amigas do Governo, mas sim aos que mais precisam”, acrescentou.

Francisco Rodrigues dos Santos quis ainda “saudar as importantes e oportunas palavras do senhor Presidente da República", "em particular quando sublinhou a necessidade de acautelar valores éticos na aplicação de fundos europeus, impedindo a corrupção, clientelismos e compadrios”, .

No seu discurso, o chefe de Estado defendeu que Portugal deve "continuar a agir em liberdade" e "sempre em conformidade com a ética republicana, que repudia compadrios, clientelas, corrupções”.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que a atual crise provocada pela pandemia de covid-19 é uma oportunidade para mudar instituições e comportamentos que não deve ser desperdiçada, sempre sem concretizar a que se referia.

O líder do CDS-PP reiterou as críticas que já tinha feito no sábado à proposta de lei do Governo em discussão no parlamento sobre as novas regras de contratação pública, dizendo que “sob o pretexto de flexibilizar processos, não se podem dar sinais de que se está a legalizar a corrupção”.

“Portugal não precisa de um sistema capitalista para os amigos do Governo comerem à mesa do Orçamento do Estado”, disse, defendendo que o CDS foi o primeiro partido a pedir mecanismos de fiscalização que “compatibilizem máxima transparência com um mínimo de burocracia”.

Rodrigues dos Santos voltou a desafiar o primeiro-ministro, António Costa, a esclarecer se e por que razão não vai reconduzir o presidente do Tribunal do Contas, Vítor Caldeira, apontando que o Governo socialista já tem no seu “histórico” a não recondução da anterior Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, “por ser forte com os fortes”.

Questionado se o CDS não releva o apelo feito hoje pelo Presidente da República à “unidade no essencial”, Rodrigues dos Santos fez questão de separar dois planos.

“O CDS-PP orienta-se pela unidade, mas não a confunde com uniformidade de pensamento nem unanimismo pandémico”, afirmou, considerando que “visões diferentes para o país” valorizam a democracia.

O Presidente da República apelou hoje à unidade no essencial na resposta à crise provocada pela covid-19, com equilíbrio entre proteção da vida e da saúde e da economia, e sem dramatização a mais nem a menos.

"O que nos diz este 05 de Outubro é que temos de continuar a resistir, a prevenir, a cuidar, a inovar, a agir em liberdade, a saber compatibilizar a diversidade com a convergência no essencial, a sobrepor o interesse coletivo aos meros interesses pessoais", afirmou.

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