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“Foi estranho, a partir da Coreia, observar o ocidente a ignorar o problema do coronavírus”

28 abr, 2020 - 06:18 • Tomás Centeno*

A Coreia do Sul é apontada como um dos grandes casos de sucesso no combate à pandemia do coronavírus. Apesar de ter sido o primeiro país a ter um surto depois da China, só morreram 243 pessoas no total, fruto da rápida intervenção das autoridades e da resposta social às medidas de precaução.

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A Coreia do Sul foi, infelizmente, o primeiro país a ter um surto grande de Covid-19, depois da China. Por isso, estando cá a viver há pouco mais de oito meses quando tudo começou, tenho de admitir que a doença desconhecida, o país e costumes novos e uma situação de negócios completamente nova, deixou-me algo preocupado. Não sabíamos o que era, nem quão grave era a situação, mas sabíamos que de repente milhares de pessoas no sul do país, associadas a uma seita, estavam infetadas e o número de mortos devido à doença aumentava diariamente.

No entanto, o que foi realmente estranho ver foram duas coisas diametralmente opostas: em primeiro lugar a reação quase militar dos coreanos, não só ao nível das autoridades, mas da população que se mobilizou e seguiu todas as recomendações à letra e, em segundo lugar, a falta de reação do mundo ocidental que continuava a agir como se nada se estivesse a passar no mundo e que nada aprendeu com o que a Ásia estava a viver.

Por um lado as pessoas todas, de um dia para o outro passaram a usar mascaras, limpar as mãos com álcool-gel várias vezes ao dia e ter um cuidado redobrado com transmissão de possíveis doenças para outros. Por outro uma civilização ocidental que ignorava os problemas do outro lado do mundo com um sentimento que quase parecia de superioridade.

Tenho que admitir que durante esses momentos houve alguma frustração, mas a verdade é que este país já tinha tido a infeliz experiência de vírus como o SARS e o MERS para saber como reagir.

Com o passar do tempo, verificou-se que as autoridades locais sabiam o que estavam a fazer, beneficiando dessas experiências anteriores, e rapidamente o número de novos casos foi controlado. À data de hoje, podemos já felizmente comunicar que o número de novos casos diários é menor que 10, quase todos vindos do estrangeiro, e a vida aqui está já quase a 100%.

Isto não quer dizer que está tudo como antes, porque não está. A forma de viver mudou para nos adaptarmos a uma ameaça invisível, mas não deixamos de fazer o que fazíamos antes.

A boa notícia para todo o mundo é que, se a Coreia do Sul for exemplo, é possível dar a volta a isto. A economia está a funcionar, as pessoas estão saudáveis e o medo converteu-se num sentido de responsabilidade social que leva toda a população a agir corretamente.

Sem dúvida alguma, para mim foi uma introdução à Coreia de que não estava à espera.


*Tomás Centeno é português e trabalha na Coreia do Sul, ao serviço da Dyson.

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