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Reportagem

De Chaves a Fátima. Peregrinos iniciam caminhada com "todos os cuidados" para fintar a Covid-19

02 out, 2020 - 16:30 • Olímpia Mairos

A viagem é longa. São 357 quilómetros feitos por etapas de aproximadamente 40 quilómetros, que começam bem cedo, pela manhã, e a “andar bem” leva dez dias a concretizar.

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Saíram de Chaves às 5 horas da manhã. Vão em grupo, motivados pela fé e amparados uns pelos outros, na superação das dificuldades.

A viagem é longa. São 357 quilómetros feitos por etapas de aproximadamente 40 quilómetros. Começam de madrugada e a “andar bem” leva dez dias a concretizar.

Em ano de pandemia o grupo é bem menor do que o habitual. São apenas sete a caminhar e um no apoio logístico. A peregrinação acontece em outubro, porque em maio, devido ao estado de calamidade, não foi possível a sua realização.

“É um sonho e um dever para nós. Já não passamos sem ir a Fátima todos os anos. E como em maio não foi possível, estamos agora a realizar a peregrinação. Não queríamos deixar passar o 2020 sem ir a Nossa Senhora”, conta à Renascença o presidente da Associação de Peregrinos Flavienses.

São várias as razões que os peregrinos apontam para a realização da viagem: o cumprimento de uma promessa, o agradecimento de uma graça recebida, a fé, o sacrifício e também o convívio.

Fernando Moura, de 53 anos, peregrino de Fátima há 17 anos, foi a primeira vez por promessa, agora, diz, o que o move é a “fé e a gratidão a Nossa Senhora”.

O presidente da Associação de Peregrinos está no caminho “cheio de alegria e entusiasmo” e acalenta o desejo de participar nas celebrações de 12 e 13 de outubro, mesmo se o número de peregrinos vai ser limitado, devido ao plano de contingência do santuário.

“As nossas previsões são de chegarmos no dia 11 e esperamos ser contemplados no limite dos seis mil peregrinos”, diz.

Movidos pela fé e pela gratidão

Paulo Marques, de 54 anos, vai “este ano com promessa”, mas salienta que o que o faz peregrinar “é a fé” e confidencia à Renascença que, em maio, foi muito difícil ficar em casa.

“Aqueles dias foram mesmo muito difíceis, mas como é a fé que nos move, conseguimos superar, alimentando o desejo de fazer a peregrinação mais tarde. E aqui estamos agora, em direção a Fátima”, afirma o peregrino.

Paulo explica que “o caminho é longo, exige sacrifício, mas nada se compara à alegria de entrar no recinto e poder agradecer o caminho e as graças recebidas ao longo do ano”.

Elisa Afonso, de 61 anos, é de Montalegre, está a caminho de Fátima pelo nono ano. Vai pela fé e pelo convívio que se gera dentro do grupo, apesar de este ano o grupo ser bem menor.

“Este ano talvez seja um pouco mais difícil, porque vamos agora e as temperaturas são diferentes de maio e um bocadinho mais triste, porque estou habituada a grupos grandes e este ano olho para trás e não vejo vir o grupo, o que é um bocadinho desanimador… Mas vamos lá chegar”, diz à Renascença.

Também Isabel Costa, de 51 anos, vai de Montalegre a Fátima “para agradecer as graças recebidas”. Vai pelo segundo ano consecutivo e tirou férias para esta altura, para fazer o caminho até à Cova da Iria.

“Estamos a atravessar uma fase muito complicada devido à pandemia e vamos lá agradecer e pedir para que as coisas melhorem”, conta.

Para Isabel, “o mais difícil são mesmo os quilómetros, porque o companheirismo e a entreajuda entre os membros do grupo é qualquer coisa de extraordinário, é força e alento que ajuda a superar tudo”.

Pelo caminho os peregrinos rezam, brincam, contam histórias e convivem.

Zeferino Morais, de 56 anos, estreia-se como peregrino. Vai “cumprir uma promessa” e segue “confiante em superar as dificuldades do caminho”.

As centenas de quilómetros até Fátima não o parecem assustar porque, diz, “há um ano que estou a fazer a preparação”.

Dos Açores para ajudar os peregrinos

De Ponta Delgada, nos Açores, veio Manuel Marinheiro, de 61 anos, para apoiar os peregrinos. O subintendente da PSP tirou férias de propósito para seguir no carro de apoio e garantir que nada falta a quem palmilha a pé o caminho.

“Fui peregrino a pé durante muitos anos e agora estou aqui para apoiar e esta é também uma forma de peregrinar”, conta à Renascença, realçando que “a fé e o espírito são os mesmos”.

“Quando vou a conduzir sozinho, penso e reflito na vida, agradeço e rezo. Também me preocupo em que nada lhes falte”, explica.

Manuel Marinheiro é aquele que arranca bem cedo com a carrinha de apoio, com o necessário para o alimento dos peregrinos. Em cada paragem, e são várias ao longo do itinerário, tira para fora os bancos, a mesa, o fogão e tudo o que é necessário para "matar" a fome e a sede aos peregrinos.

“Eu tenho que pensar em tudo o que eles precisam. Se chove ou se está frio, tenho que ir para trás para levar algum agasalho ou o guarda chuva, tenho que pensar e elaborar as refeições, mas faz-se bem”.

Os peregrinos seguem sem máscara no rosto, porque “caminhar com ela não é fácil”, mas asseguram que “a máscara vai na bolsinha” e será colocada sempre que entrarem em “algum estabelecimento de restauração ou hoteleiro e também no Santuário”.

“Vamos seguir as normas da DGS, por isso também somos um grupo mais reduzido, e iremos ter todos os cuidados necessários para conseguirmos chegar imunes”, assegura Paulo.

“Trazemos álcool gel, luvas, máscaras, vamos cumprir tudo direitinho”, acrescenta Isabel Costa.

Seis mil peregrinos no Santuário

A peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de outubro será presidida por D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

Nas cerimónias, tendo em conta o plano de contingência do próprio Santuário, só poderão participar cerca de seis mil fiéis no recinto, onde serão feitas marcações no chão, formando espaços circulares onde poderão permanecer um número limitado de pessoas coabitantes.

“De acordo com os planos efetuados, estimamos uma presença de cerca de 6.000 pessoas no recinto, numa área útil de 48 000m2, o que equivale a uma média de 8m2 por pessoa", explicou o Santuário em comunicado.

“O acesso ao recinto de oração é feito por oito entradas, com diversos meios de controlo. As deslocações no recinto só podem ser feitas nos corredores assinalados. Todos os movimentos são constantemente monitorizados através dos meios de videovigilância, de modo a permitir em tempo real, decisões que sejam necessárias para controlo de situações de potencial risco”, indicou o Santuário.

“Os peregrinos que desejarem participar nas celebrações da noite do dia 12 e da manhã do dia 13, só poderão entrar no recinto nas entradas devidamente assinaladas e daí serão conduzidos por acolhedores para as áreas de ocupação, de acordo com os critérios estabelecidos e aí deverão permanecer até saírem do Recinto de Oração. Serão estes acolhedores que monitorizarão os espaços de forma a garantir que as vias de circulação fiquem desimpedidas para uma fácil deslocação dos peregrinos", explica ainda o comunicado.

O Santuário informa ainda que será obrigatório o uso de máscara durante as celebrações, mesmo no espaço do recinto ao ar livre.

Numa mensagem em vídeo, o bispo da diocese de Leiria-Fátima disse esperar um comportamento “exemplar” e um “sentido de responsabilidade” da parte dos peregrinos que queiram participar nas celebrações no Santuário de Fátima.

“Este outubro, teremos de ter algumas restrições para que a peregrinação, no respeito pelas indicações das autoridades de saúde, não constitua um perigo acrescido de contágio”, indicou o cardeal D. António Marto.

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