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Mário Ferreira apresenta queixa contra Cofina e "Correio da Manhã" na ERC

28 set, 2020 - 20:53 • João Carlos Malta

O maior acionista da Media Capital, que detém a TVI, acusa o presidente da Cofina, Paulo Fernandes, de orquestrar uma campanha para o denegrir e de tentar manipular o mercado para baixar o valor do grupo de Queluz de Baixo. A gota de água foi a notícia publicada pelo CM em que Mário Ferreira é acusado de recorrer a “amigos” para tomar conta da TVI.

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O empresário Mário Ferreira, que com a saída dos espanhóis da Prisa se tornou o maior acionista da Media Capital, interpôs esta segunda-feira uma queixa formal na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) contra o grupo Cofina e o diário "Correio da Manhã".

Mário Ferreira fala de “uma pouca vergonha” que dura desde maio, altura em que comprou 30,22% do grupo que detém a TVI.

“Nós durante bastante tempo tivemos como estratégia estarmos calados, e deixarmos que sejam as entidades reguladoras a pôr termo a esta pouca vergonha, e à utilização despropositada de meios próprios para denegrir a imagem de alguém que está a fazer um negócio que eles gostariam de fazer”, acusa à Renascença o empresário, que também é dono da Douro Azul.

A guerra aberta entre os dois grupos de comunicação social conheceu esta segunda-feira mais um capítulo, com o "Correio da Manhã" a publicar duas páginas tituladas “Mário Ferreira e amigos tomam conta da TVI”. No texto são referidos vários dos nomes dos futuros acionistas da Media Capital, que resultam da dispersão dos 64,7% que a Prisa detinha. No mesmo artigo diz-se que a maior parte dos novos acionistas são do Norte, e, por isso, relacionados com Mário Ferreira.

O empresário não tem dúvidas em definir que tudo o que se está a passar é muito grave”.

Há uma clara manipulação da Cofina e dos seus acionistas para tirar valor à Media Capital, para eles comprarem barato. Nem sequer o escondem, porque assumem publicamente que estão interessados em comprar [a Cofina fez uma segunda OPA em agosto]”, refere. "Como viram que perderam essa oportunidade, tentam denegrir a imagem de quem comprou 67% acima do que eles ofereceram, naquela OPA ridícula.”

Mário Ferreira indica que, desde que avançou sozinho para a compra da Media Capital, os meios de comunicação social do grupo liderado por Paulo Fernandes já publicaram mais de 250 artigos em que, segundo ele, o objetivo é sempre o mesmo: manchar a sua reputação.

"Cofina nervosa"

Para o homem que, através da Pluris Investments, SA, controla 30,22% da Media Capital, os novos investidores do grupo “estão a deixar a Cofina nervosa”, em particular “o seu grande líder”.

E aponta mais uma vez armas a Paulo Fernandes. “Ele, sim, é o culpado de toda esta vergonha deste tablóide [Correio da Manhã].

Em março deste ano, a Cofina abortou a Oferta Pública de Aquisição (OPA) que tinha lançado à Media Capital. À época, Paulo Fernandes e Mário Ferreira eram grandes amigos. Mas os contornos com que o processo decorreu não agradaram ao líder da Douro Azul, que a solo avançou para a compra da dona da TVI, investindo 10,5 milhões de euros.

Foi o momento-chave que fez a guerra entre os dois grupos estalar. A escalada não mais parou desde aí.

Em relação ao trabalho publicado pelo "Correio da Manhã" esta segunda-feira, em que está descrita uma alegada teia de amizades entre Mário Ferreira e os novos acionistas, Ferreira dispara: “Parece que o 'Correio da Manhã' e o grupo Cofina, obviamente liderados pelo engenheiro Paulo Fernandes, gostam deste tipo de notícias, notícias falsas e de sensacionalismo.

Mário Ferreira admite que conhece alguns dos empresários que, com ele, estarão na nova estrutura acionista da Media Capital, mas refere não haver “nenhum amigo do peito” entre eles. “São empresários honrados e de bom nome, nome esse que o engenheiro Paulo Fernandes e o seu grupo, com a sua artilharia própria, estão a tentar denegrir”, repete.

Entre os novos acionistas da Media Capital estão Paulo Gaspar, presidente da Trium, João Serrenho, da CIN, ou os artistas Tony Carreira e Pedro Abrunhosa.

Devolveno as suspeitas ao rival, Mário Ferreira diz que “o engenheiro Paulo Fernandes também participa em empresas de pessoas que ele conhece, aliás ele e mais cinco amigos têm o controlo de três cotadas na bolsa portuguesa. Talvez isso o leve a pensar que é esse o objetivo.”

Logo de seguida, adianta que a Prisa contratou um banco de investimento para encontrar acionistas, mas num país pequeno como Portugal “é natural que alguns dos empresários se conheçam”.

Uma aberração

Mário Ferreira diz que é uma aberração pensar que foi ele a concertar com 20 empresários a compra das ações que pertenciam à Media Capital, e diz-se ainda chocado pelo facto de o "Correio da Manhã" publicar fotografias de um cruzeiro da Douro Azul em que “estão menores”, incluindo a sua filha e as suas sobrinhas. “Não se inibem de pôr estas fotos num cruzeiro de amigos e da família.”

O mesmo diz que tal só acontece porque antes era o dono do "Correio da Manhã" a frequentar esses cruzeiros. Na legenda desta fotografia, há uma alusão à participação de Diogo Lacerda Machado, amigo do primeiro ministro-António Costa e membro do Conselho de Administração da TAP, numa viagem de cruzeiro da Douro Azul.

Isso fá-lo novamente criticar com ferocidade Paulo Fernandes. “Isto demonstra bem o caráter do proprietário ou pseudo-proprietário daquele grupo de media.”

As suspeitas das sociedades de Malta

No mesmo artigo publicado esta segunda-feira pelo "Correio da Manhã", o diretor-geral editorial, Ocávio Ribeiro, escreve que “não é aceitável um dos mais relevantes grupos de Comunicação Social ficar nas mãos de um conglomerado de interesses”.

Mário Ferreira responde com uma pergunta: “Será que o diretor do CM se preocupou com isso ao olhar para os cinco empresários que investem fortemente na pasta do papel e na produção do papel. Isso preocupa-o? Será que se preocupou quando o engenheiro Paulo Fernandes me pediu ajuda para investir no aumento de capital da Cofina e me pediu 25 milhões de investimento, e eu acedi?”, pergunta.

O mesmo sublinha que “toda a gente compreende que o que se passa é o uso de artilharia editorial para influenciar interesses empresariais da Cofina, da Altri e da Ramada, e do que lhes dá jeito. Quando não dá jeito, atacam. É pena é que os nossos reguladores permitam que isso aconteçam, e nada façam...”, resume.

Octávio Ribeiro questiona ainda de onde vem o dinheiro “que parece jorrar num grupo que fechou 2019 com prejuízo de 57 milhões? Parte passa por sociedades em Malta”.

O maior acionista da Media Capital diz que o diretor-geral editorial da Cofina confunde “alhos com bugalhos”. Em primeiro, garante que “não existe nenhuma empresa de Malta na Media Capital. É tudo uma mentira”.

De seguida, diz, que o grupo teve um resultado operacional positivo de 19 milhões de euros no último ano, e que os 57 milhões de euros de prejuízo se referem ao saldo contabilístico.

Salcichas e enchidos

Em relação a Octávio Ribeiro, Mário Ferreira diz que “não conhece” a não ser “destas leituras desagradáveis dos escritos que ele para aí faz”.

“Compreendo o desespero e olhando para o que está a acontecer com a Cofina, compreendo que temam pelo futuro daquela empresa”, contra-ataca.

No editorial, o diretor-geral editoral da Cofina escreve ainda, em relação a todo este processo, que “a ERC bem sabe que não estamos a falar de uma qualquer fábrica de salsichas”. Já Mário Ferreira crê que “eles estão a tentar capturar o regulador”.

Essa é a intenção de uma grande fábrica de enchidos chamada Correio da Manhã”, define. Depois, assume que “talvez a linguagem seja excessiva”, mas, sublinha que “sem baixar o nível é muito difícil tentar responder à letra a este jornalista”.

Mário Ferreira conclui que “isto não pode continuar e terá de parar, porque o importante é credibilizar os grupos de media em Portugal”. O empresário diz que não quer deitar mais achas para fogueira, mas depois de “centenas de notícias se não respondermos… quem não se sente não é filho de boa gente”.

Atingiram o limite”, define, e deixa o aviso: “Ou as entidades reguladoras param com isto, ou terão de responder pelas vias judicias.”

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