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​A pandemia e o sistema financeiro

“Crise coloca mais em risco a banca do norte da Europa”

28 set, 2020 - 15:24 • José Pedro Frazão

No programa “Da Capa à Contracapa” da Renascença, que debateu os caminhos da banca em Portugal, o economista Ricardo Cabral, do Instituto Superior de Economia e Gestão, sustenta que o sistema bancário europeu vai precisar de recapitalizações públicas à margem das intervenções do Banco Central Europeu (BCE). Já Nuno Cassola, que trabalhou duas décadas no BCE, diz que a resposta à pandemia não vai passar pelas receitas do passado no setor da banca.

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Os impactos das crises financeiras anteriores vão ainda moldar as respostas da banca europeia à atual crise pandémica, tendo em conta a acumulação de ativos dos bancos nos últimos anos. Na tese do economista Ricardo Cabral, professor e investigador do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), a pandemia vai criar mais pressão sobre a banca do norte da Europa, ainda que essas economias estejam mais bem preparadas para os choques, porque a sul foram impostos requisitos de capital e de liquidez mais elevados.

“A nível de capital, os bancos do norte da Europa podem ter muito mais ativos que os bancos do sul. Perante uma crise destas, em que essencialmente vai levar a um choque numa generalidade de ativos, quem está mais em risco é a banca do norte da Europa, como a da Holanda, Alemanha ou da Suécia. A margem para absorver choques é menor. Claro que essas economias não dependem por exemplo tanto do turismo, poderão ter um choque relativamente menor em relação à Covid do que a economia portuguesa”, afirma Cabral num debate sobre a banca portuguesa, a propósito do livro “Por Onde Vai a Banca em Portugal?”, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, da autoria dos economistas Jorge Braga de Macedo, Samuel da Rocha Lopes e Nuno Cassola.


Para este último economista, cujo percurso profissional passou pelo Banco Central Europeu nas últimas duas décadas, a natureza única da atual crise pandémica, baseada na sua incerteza, levará a respostas que não estão ligadas a receitas do passado.

“Pode-se dar o paradoxo de agora o supervisor vir dizer afinal os bancos podem usar todas as almofadas de capital que foram constituindo ao longo do tempo precisamente para serem utilizadas quando há necessidade. Não podemos aplicar neste caso receitas que foram aplicadas no passado. Esta é uma crise em que ninguém sabe ao certo se vai durar seis meses ou um ou dois anos. É uma situação de emergência em que se justifica claramente a suspensão da aplicação de regras e de práticas que foram pensadas para um contexto diferente”, sustenta Nuno Cassola, no programa que a Renascença emite em parceira semanal com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Já Ricardo Cabral lembra que os bancos só entram em crise financeira a partir do momento em que o emprestador de última instância (no caso, o BCE) corta-lhes a liquidez, o que, antecipa o economista, não deverá acontecer desta vez.

“O Banco Central Europeu vai diminuir os requisitos de capitais e os governos vão apoiar com outras figuras que não existem no quadro da União Bancária, ou seja, por recapitalizações públicas. Senão é o sistema bancário europeu que implode face a uma crise destas, que me parece que terá uma dimensão comparável senão superior à da Grande Depressão. As autoridades têm que adaptar a sua postura a uma realidade que mudou”, argumenta o economista do ISEG.

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