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Ministro brasileiro diz que países mentem sobre Amazónia para derrubar Bolsonaro

22 set, 2020 - 08:39 • Marta Grosso com Lusa

Augusto Heleno falava perante o Supremo Tribunal Federal, na véspera do discurso do Presidente na Assembleia Geral da ONU. De agosto de 2019 a julho deste ano, desapareceram mais de 8.700 quilómetros quadrados de floresta primária na Amazónia.

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O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) brasileiro, Augusto Heleno, acusa os governos de outros países e personalidades estrangeiras de mentirem sobre a devastação da Amazónia com a intenção de derrubar o Presidente, Jair Bolsonaro.

“Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalidades estrangeiras, sem um passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso no seu objetivo principal, obviamente escondido, mas evidente para os não inocentes, que é prejudicar o Brasil e derrubar o Governo de Bolsonaro", disse Augusto Heleno, general na reserva do Exército brasileiro.

A afirmação foi feita numa audiência pública virtual inédita, convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir a política ambiental do atual executivo, especialmente a falta de ações para mitigar a crise climática, e na qual várias autoridades se pronunciaram.

O ministro do GSI aproveitou a sua intervenção para se referir à pressão que o Brasil tem sofrido nas últimas semanas devido aos incêndios na Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, por governos, organizações não-governamentais (ONG), bancos internacionais e até pelas próprias empresas brasileiras.

Apesar dos incêndios na Amazónia terem diminuído em relação a 2019 – este ano os fogos foram mais graves no Pantanal – o número ainda é alto, situação que justificou os ataques dos ecologistas a Bolsonaro, que é acusado de incentivar os fogos devido à sua retórica antiambientalista e pelas suas políticas de exploração da floresta.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou na sexta-feira o seu repúdio à ratificação do acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) por questões ambientais, entre as quais citou uma política ambiental omissa face à destruição da Amazónia.

Nesta terça-feira, várias ONG lançaram uma campanha para boicotar os produtos cárneos que a União Europeia importa do Brasil, considerando que os produtores promovem a desflorestação da Amazónia para aumentar as suas áreas de pastagem.

Augusto Heleno, que não citou qualquer país em particular, mas afirmou que alguns brasileiros unem forças com "estrangeiros que nunca colocaram os pés na Amazónia e só a conhecem em fotografias" para apresentar o Brasil como o "vilão" da desflorestação e do aquecimento global.

"Pior, usam falsos argumentos, fabricam e manipulam números e acusações infundadas para prejudicar o Brasil”, disse o ministro, para quem essa campanha é liderada por grupos internacionais incomodados com o Governo de Bolsonaro.


Mas é uma instituição brasileira que revela os números negros da deflorestação. Entre agosto de 2019 e julho deste ano, desapareceram mais de 8.700 quilómetros quadrados de cobertura florestal primária das imagens captadas pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) do Brasil.

Nos 12 meses anteriores, tinham desaparecido 6.800 km2.

Augusto Heleno considera que há grupos com interesses políticos no Brasil com aliados externos, que alegam que o Governo de Bolsonaro nada faz para combater os crimes ambientais, porque até hoje não admitem a "alternância de poder" – em referência à ascensão de Bolsonaro (vinculado à extrema-direita) após 13 anos de governos de esquerda.

O governante indicou ainda que não há "comprovação científica" de que o aumento das queimadas na Amazónia foi causado por omissões governamentais: “Esses são fenómenos naturais, cuja ação humana é incapaz de impedir", frisou.

As audiências para discutir a política ambiental brasileira, que se prolongam até terça-feira, foram convocadas pelo juiz Luis Roberto Barroso, instrutor de um processo no STF iniciado por quatro partidos de esquerda, que questiona a decisão do Governo de não usar os recursos milionários que possui num fundo criado para mitigar as alterações climáticas.

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Quando o Brasil atravessa uma crise ambiental, o Ministério do Meio Ambiente criou nesta terça-feira, oficialmente, uma secretaria específica para os temas da Amazónia, que terá a competência de coordenar as políticas de prevenção e controlo da desflorestação ilegal, incêndios florestais, queimadas, de uso sustentável e de redução da degradação da vegetação nativa em todos os ecossistemas do país.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento na Amazónia brasileira aumentou de modo acentuado no ano passado, e mais uma vez. As estimativas mostram que as clareiras aumentaram em pelo menos 28% neste ano, entre agosto a julho, em comparação com o ano anterior.

É a segunda subida acentuada ocorrida durante o mantado de Jair Bolsonaro.

De acordo com a NASA (Agência Espacial Norte-Americana), o estado de Rondónia, no oeste do Brasil, já foi lar de 208.000 quilómetros quadrados de floresta, mas tornou-se numa das partes mais desmatadas da Amazónia.

Este é o balanço das últimas três décadas:

  • 4.200 quilómetros quadrados desmatados em 1978;
  • 30.000 em 1988;
  • 53.300 em 1998.

Em 2003, estima-se que 67.764 quilómetros quadrados de floresta tropical tenham sido desmatados.

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