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Ensino superior. O que prepararam universidades e politécnicos para este ano atípico?

21 set, 2020 - 08:40 • Fátima Casanova

A Renascença fez uma pequena ronda por alguns estabelecimentos. Este ano, o ensino superior público conheceu o maior número de candidatos dos últimos 25 anos. Na Universidade de Lisboa estão proibidas as praxes.

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Tal como no resto do ensino, muitas universidades estão agora a arrancar as aulas e tiveram de se adaptar às condições impostas pela pandemia de Covid-19.

São adaptações logísticas devido às regras sanitárias, mas também financeiras. Nos últimos tempos, quer as universidades quer os institutos politécnicos têm sido obrigados a grande ginástica financeira.

Por um lado, aumentaram os custos com novos equipamentos, por outro baixaram as receitas, por exemplo, com bares e residências universitárias.

Na próxima segunda-feira, dia 28, serão divulgadas as colocações no ensino superior público – este ano, houve um número recorde de candidatos, o maior número dos últimos 25 anos: mais de 62 mil estudantes.

Mas neste ano atípico, é o novo coronavírus a ter um impacto determinante na preparação das instituições de ensino. E, além de todas as novas regras, os alunos têm também de se adaptar a um regime de ensino misto.

O ministro do ensino superior quer aulas presenciais, mas as universidades e politécnicos têm outros planos para reduzir o contacto entre alunos: estão a preparar-se para avançar com um regime misto, com diferentes esquemas de organização.

É o caso da Universidade Católica. “As salas do campus foram todas equipadas com detetor de movimento e com microfones, de forma a que possamos ter uma parte dos estudantes no campus e outra parte em casa, assistindo às aulas em streaming durante um determinado período. Depois, o grupo roda e há outro grupo que vem e outro que fica em casa”, diz à Renascença a reitora, Isabel Capeloa Gil.

“Um esforço para conseguir que as instalações deem resposta às recomendações da DGS, mas acima de tudo para que os estudantes tenham ensino presencial”, acrescenta.

O esquema obrigou a um investimento superior a 200 mil euros, só em câmaras em todos os polos da Católica.

Também o Instituto Politécnico de Bragança teve de investir em meios tecnológicos. A despesa tem sido sempre a subir num orçamento apertado e que pode sofrer um revés com a falta de alunos internacionais.

A procura até aumentou, mas por causa da pandemia, as certezas são poucas, admite o presidente do politécnico, Orlando Rodrigues.

“A procura superou as vagas que disponibilizámos em muito. Tivemos nalgumas vagas, mais de três vezes o numero de candidatos do que tínhamos vagas. Agora estes alunos que selecionámos, se vão traduzir-se efetivamente em alunos, há alguma incerteza ainda com o processo de concessão de vistos, com a incerteza económica e com as viagens internacionais”, reconhece.

Para já, certa é a quebra de receitas nas residências universitárias, dando cumprimento às orientações da DGS para prevenir contágios. O politécnico perde um terço das camas disponíveis.

“Vamos ter uma redução significativa de lugares nas nossas residências. Quem não tiver lugar, vai ter um complemento de alojamento e pode procurar alojamento privado na cidade e, portanto, os alunos não serão prejudicados”, indica à Renascença.

“O inconveniente que isso trará é que implica pressão maior sobre o alojamento local o que poderá implicar maior dificuldade dos nossos alunos encontrarem alojamento. Por outro lado, isso implica uma perda de rendimento, de receitas nas residências, ou seja, os nossos custos vão aumentar, mas as receitas vão diminuir significativamente”, sublinha Orlando Rodrigues.

Feitas as contas com a quebra de receita nas residências universitárias, no próximo ano letivo entram menos cerca de 100 mil euros na conta do politécnico de Bragança.

Já em Lisboa, na maior universidade do país com cerca de 50 mil alunos, as contas têm outro peso e, desde o início da pandemia, o impacto orçamental ronda os 10 milhões de euros, diz o reitor António Cruz Serra.

“Na Universidade de Lisboa, nós temos obrigação de disponibilizar os jardins botânicos, o estádio universitário, o museu de história natural e da ciência e nestes casos, nos últimos seis meses, a receita foi praticamente nula. Além da receita das propinas dos alunos internacionais que é uma perda muito significativa”, começa por explicar.

“A última vez que tivemos o impacto estimado, o valor era de 10 milhões de euros. Vamos ver de que maneira é que esse numero possa ser corrigido durante o último mês, mas deve ser qualquer coisa desse género”, acrescenta.

Por outro lado, as despesas são sempre a somar. A adaptação às novas regras traz custos, que, por exemplo, no caso do curso de Medicina não são de desprezar.

“Nos anos clínicos da Medicina, em especial no 4.º e 5.º anos, eu estimo que em cada semestre, em equipamento individual, o custo por estudante será à volta de 300 euros. Isso significa que o valor para o país todo deve rondar os 4 ou 5 milhões de euros para poder ter, quer os nossos estudantes protegidos, mas em especial as pessoas que estão internadas”, concretiza.

Em tempo de adaptações, o reitor da Universidade de Lisboa deixa um aviso aos alunos: “não admito que haja praxes este ano na Universidade de Lisboa. Seguramente, violarão todas as normas da DGS sobre o número de pessoas com quem estamos em contacto”.

“Eu tenciono fazer um despacho em que crio condições para abrir um processo disciplinar a quem estiver a praxar e a quem se deixar praxar. Este não há qualquer contemplação relativamente a este ipo de comportamentos, seja dentro ou fora do campus universitário”, garante.

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