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"FinCEN Files" mostram que organizações criminosas moveram biliões de dólares com a ajuda de bancos

20 set, 2020 - 20:02 • Inês Rocha com Lusa

Investigação jornalística a documentos "leakados" revela como alguns dos maiores bancos permitiram que criminosos movimentassem dinheiro sujo em todo o mundo.

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Uma fuga de informação de mais de 2.100 relatórios norte-americanos revela como alguns dos maiores bancos permitiram que criminosos movimentassem dinheiro sujo em todo o mundo.

Os relatórios, enviados entre 1999 e 2017 por vários bancos às autoridades norte-americanas, conhecidos como SARs (Suspicious Activity Reports), revelam detalhes sobre transferências bancárias de mais de dois biliões de dólares (2 000 000 000 000, em algarismos).

A informação está a ser avançada pelo Expresso, que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington, que fez a investigação.

Os ficheiros FinCEN incluem 2.657 documentos, entre os quais figuram 2.100 relatórios de atividades suspeitas. Esta fuga de informação mostra como decorreu o branqueamento de capital em alguns dos maiores bancos do mundo e como os criminosos utilizaram empresas britânicas anónimas para ocultar o dinheiro.

Envolvidos no escândalo estão cinco dos principais bancos do mundo: o JP Morgan, o HSBC, o Standard Chartered, o Deutsche Bank e o Bank of New York Mellon.

Os documentos foram conseguidos pelo site de informação norte-americano BuzzFeed News, que partilhou com o consórcio de jornalistas.

O site descreve esta investigação como "um vislumbre sem precedentes sobre a corrupção financeira global, os bancos que a possibilitam e as agências governamentais que acompanham seu crescimento".

Segundo o BuzzFeed News, os documentos revelam que lucros de guerras relacionadas com a drogas, fortunas desviadas de países em desenvolvimento e dinheiro roubado num esquema Ponzi (esquema em pirâmide) foram todos autorizados a fluir para dentro e para fora dessas instituições financeiras, apesar dos avisos dos próprios funcionários dos bancos.

Ainda segundo o site, os pagamentos suspeitos têm fluído em todo o mundo e em inúmeros setores, "desde desportos internacionais ao entretenimento de Hollywood, a imóveis de luxo e aos restaurantes de sushi Nobu".
O jornal vai mais longe: "as redes pelas quais o dinheiro sujo atravessa o mundo tornaram-se artérias vitais da economia global".

O caso do Banco HSBC, que permitiu transferência fraudulenta de milhões de dólares, diz BBC

Um dos envolvidos no escândalo agora divulgado é o banco britânico HSBC. Segundo os documentos agora revelados, a entidade permitiu que fossem transferidos milhões de dólares para todo o mundo de forma fraudulenta, mesmo depois de ter tomado conhecimento da fraude, divulgou este domingo a BBC.

A entidade bancária, a maior do Reino Unido, transferiu dinheiro através do seu negócio nos Estados Unidos para contas do HSBC em Hong Kong em 2013 e 2014, segundo informação de um ficheiro confidencial.

Os ficheiros agora revelados detalham qual foi o papel do banco numa fraude de investimento avaliada em 80 milhões de dólares (mais de 67 milhões de euros).

O HSBC tem sempre sustentado que cumpriu as suas obrigações legais na hora de denunciar a fraude.

Os documentos mostram também que o golpe de investimento - conhecido como esquema Ponzi - começou pouco depois de o banco britânico ter sido sancionado com uma multa de 1.400 milhões de libras (1.900 milhões de dólares ou 1.600 milhões de euros) nos Estados Unidos por operações de branqueamento de dinheiro, altura em que se comprometeu a erradicar este tipo de práticas.

De acordo com a BBC, alguns dos advogados de investidores que foram enganados nestas operações consideraram que a entidade deveria ter adotado medidas mais precoces para encerrar as contas dos responsáveis da fraude.

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