Chega. Sem distância física, quase sem máscaras e discursos sem Covid. O retrato de uma convenção

19 set, 2020 - 20:27 • Susana Madureira Martins

O coronavírus está completamente ausente das intervenções na convenção do Chega, com André Ventura a falar para dentro e a assumir "dificuldades de comunicação" com as estruturas do partido. Diz também que, enquanto for líder do partido, "coligações nem vê-las".

A+ / A-

À entrada da tenda gigante instalada na Quinta Nova de Degebe, em Évora, onde decorre a segunda convenção do Chega, há um termómetro digital para que qualquer pessoa possa encostar a testa e saiba a temperatura corporal.

Exatamente no mesmo sítio há um dispensador de solução alcoólica. Nem é preciso tocar-lhe, é só chegar as mãos e lá vem descarga de desinfectante.

A partir daqui, a preocupação da organização com a Covid-19 parece dissipar-se por completo. Muito poucos militantes têm a preocupação de usar máscara de proteção dentro da tenda e a distância física entre as cadeiras instaladas na sala é de escassos centímetros, não permitindo qualquer espaço entre os miltantes sentados.

O mesmo acontece com os discursos. A Covid-19 ou a apresentação de propostas para solucionar a crise provocada pela pandemia estão ausentes, com o grosso das intervenções deste primeiro dia de convenção em Évora a serem marcadas por questões internas do partido.

Os militantes mostram-se, por exemplo, preocupados com a maneira como funciona a democracia interna do partido, os problemas que a distrital do Chega de Leiria está a ter com as decisões de um dos órgãos de direção nacional, o conselho de jurisdição.

Uma das preocupações de André Ventura é evitar que a Juventude Chega seja eleita e que seja a própria direção do partido a nomear os elementos desta estrutura, algo que está a criar desconforto nas camadas mais jovens do partido.

E percebendo o clima de guerrilha interna nalgumas concelhias e distritais, o líder do partido que se recandidata a um novo mandato falou pela segunda vez à convenção para assumir "dificuldades de comunicação com as concelhias".

Isto assumido, Ventura aproveitou para anunciar a proposta de criação da figura do secretário-geral e do secretário-geral adjunto, para garantir "a ligação plena ao partido, de resto, à semelhança do que já acontece com outros partidos com representação parlamentar.

Pela segunda vez neste sábado, Ventura a afastar por completo qualquer aproximação ao PSD, garantindo que, enquanto for líder, "coligações, nem vê-las", criticando que os partidos que antes o criticavam e menorizavam "querem agora colar-se" ao Chega "como lapas".

Numa intervenção com mais de meia hora e muitas vezes interrompida com aplausos e gritos de apoio ao líder, Ventura a definir de novo como objectivo levar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta nas eleições presidenciais em janeiro e a prever que o partido vai eleger em outubro para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

Ventura começou esta intervenção com uma saudação à plateia de delegados, mas ironizou avisando que não pode "esticar a mão, que eles não gostam", numa referência implícita à saudação romana conotada com as forças de extrema-direita e que o líder do Chega já ensaiou outras vezes.

O discurso terminou ao estilo inflamado que caracteriza o deputado, garantindo Ventura que no futuro as crianças de Portugal "irão estudar a história deste grande momento" e a que Ventura considera ser "a verdadeira revolução" que significa o Chega. E mais uma vez, nem uma palavra sobre a crise política e social provocada pela pandemia.

Antes deste discurso, falou aquele que é o verdadeiro ideólogo do partido, Diogo Pacheco de Amorim, que pediu a palavra na convenção para anunciar a proposta de alteração dos estatutos do partido.

Amorim quer criar mais dois orgãos de direção nacional: a Comissão Política Nacional e a criação de um gabinete de estudos do Chega e propor que "nos próximos dois anos as concelhias sejam nomeadas", algo que provocou um burburinho na sala, com Pacheco Amorim a concluir que "todas as opiniões são respeitáveis" e que esta é a sua.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Força, André!
    20 set, 2020 Chega! ao Poder 11:04
    Não só veio dar voz a uma, não tão pequena como isso, franja da população que pensa de determinada maneira - e é livre de o fazer! - como é incómodo para o establishment e para esse estropício do "politicamente correto". Acrescente-se que é o único partido que faz realmente Oposição ao governo - BE e PCP fazem "oposição" ao fim-de-semana, e votam pelo governo durante a semana, no resto CDS está morto, só que não sabe isso, e PSD tem à frente um erro de casting, alguém que se contenta em ser um "Vice" e adora o "Bloco Central". O Chega! é a pedrada no charco que "isto" há muito precisava. Tem o meu voto nas próximas Eleições.

Destaques V+