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Coronavírus

Cuidadores informais foram esquecidos durante a pandemia, queixa-se associação

16 set, 2020 - 19:49 • Pedro Mesquita , Filipe d'Avillez

Desde que se tornou possível, apenas 1300 pessoas pediram o reconhecimento enquanto cuidadores informais e destas só 74 o receberam. A associação calcula que existam mais de 800 mil cuidadores informais em Portugal.

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Os cuidadores têm sido esquecidos em Portugal durante a pandemia.

A denúncia foi deixada esta tarde, na Renascença, por Maria dos Anjos Catapirra, vice-presidente da Associação Nacional dos Cuidadores Informais (ANCI).

Desde 1 de Julho – quando foi estendido a todo o país o processo de reconhecimento de cuidadores informais – só 74 pessoas foram reconhecidas como tal, de um universo de pouco mais de 1300 que o solicitaram. Uma mera gota num oceano que a ANCI calcula ser de mais de 800 mil pessoas.

Maria dos Anjos Catapirra culpa o processo, que considera demasiado burocrático.

“O que se está a passar é que o processo é extramente burocrático, não está a chegar à maioria das pessoas que cuidam, à camada idosa, principalmente, que não tem acesso a meios de comunicação como a internet. Todo o processo de candidatura está a passar muito pela internet, na Segurança Social Direta, porque a própria Segurança Social só faz atendimentos por marcação”, explica.

“O processo reconhecimento passa por o consentimento do próprio cuidador, e quando estamos a falar de camadas idosas e de muitas pessoas com demência, ninguém tratou do maior acompanhado e esse é um processo que tem de ser tratado pelo Ministério Público e leva alguns meses”, diz ainda.

Esta quarta-feira os cuidadores informais receberam um apoio de peso. O Papa Francisco referiu o papel fundamental dos cuidadores, lembrando que muitas vezes não recebam o reconhecimento e a remuneração que merecem.

Perante esta situação a ANCI reclamou perante o Governo, mas ainda espera resposta. “Manifestámos a nossa preocupação numa carta enviada ao Ministério do Trabalho a semana passada, com um conjunto de situações que nos foram apresentadas pelos diferentes cuidadores que nos contactaram. Ainda não obtivemos resposta.”

Toda esta realidade significa que precisamente numa altura em que seria mais necessário ajudar os cuidadores informais, essa ajuda não chega a quem dela precisa.

“A ajuda não chega e eu acho que os cuidadores informais foram pura e simplesmente esquecidos durante todo este período de pandemia. Porque como não havia reconhecimento também não houve medidas para os cuidadores. Algumas foram sendo acrescentadas às medidas gerais por insistência da associação, por exemplo, quando ninguém podia sair do concelho nós insistimos e foi concedido que algumas pessoas, mediante uma declaração, pudessem ir prestar assistência aos pais que estavam noutro concelho. Durante a pandemia ninguém se lembrou que os cuidadores informais estavam fechados, sem apoios e continuam sem ter apoios nenhuns”, lamenta.

Perante tantas dificuldades, a dirigente da ANCI diz que a solução ideal seria as autarquias poderem pegar no assunto. “Tem de haver uma forma de chegar às camadas mais idosas, o ideal seria as próprias autarquias poderem agarrar e apoiar esta situação.”

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