Espanha

Tenerife não é passo atrás para Bruno Wilson. "Transferência mais cara do futebol português veio daqui"

11 set, 2020 - 10:00 • Eduardo Soares da Silva

Defesa-central deixou o Braga e assinou pelo clube da segunda divisão espanhola. Bruno Wilson recorda uma época em que trocou o Tondela para regressar ao emblema minhoto em janeiro, a pedido de Rúben Amorim, e traça os objetivos para a nova temporada.

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Bruno Wilson, defesa-central de 23 anos, trocou o Sporting de Braga pelo Tenerife, da segunda divisão espanhola, mas não encara a transferência como um passo atrás na carreira.

Em entrevista a Bola Branca, o defesa destaca a qualidade e visibilidade da competição e recorda que o reforço mais caro da história do futebol português, Darwin Nuñez para o Benfica, foi contratado na segunda divisão espanhola.

O defesa já tinha trocado o Braga pelo Tondela no arranque da última temporada. As boas exibições chamaram à atenção de Rúben Amorim, que quis recompraro defesa-central para compor a defesa do clube minhoto.

Bruno Wilson admite que a saída de Rúben Amorim para o Sporting reduziu o seu espaço na equipa, numa temporada que considera ter fechado com chave de ouro, com a titularidade na vitória frente ao FC Porto, na última jornada, jogo em que os arsenalistas garantiram o terceiro lugar da liga. O central fez um golo em seis jogos disputados pelo Braga.

Entre o sonho de chegar à seleção nacional e as memórias da estreia na I Liga, em 2016, com José Peseiro, Bruno Wilson traça os objetivos para o futuro, desde a ilha de Tenerife, nas Canárias.

Foi cedido pelo Sporting de Braga ao Tenerife, da segunda divisão espanhola. O que cativou nesta proposta?

É uma liga muito boa, que tem muita projeção e vi aqui uma oportunidade de me valorizar, jogar mais e ter mais oportunidades. O objetivo principal é poder valorizar-me

Quais são as primeiras impressões do clube e da ilha?

Muito boas. Receberam-me muito bem, é um clube grande que dá todas as condições para trabalhar. São condições de I Liga. A ilha é fantástica, sempre bom tempo, vou sempre treinar com o sol, leva-se os dias de outra forma. As condições de vida são muito boas.

Quais são os objetivos traçados? A subida é possível?

Não assumimos o objetivo da subida. Vamos jogo a jogo, queremos ganhar o máximo de jogos possíveis, valorizando jogadores e o clube. Queremos acabar o mais para cima possível na tabela. Quem sabe sonhar com a subida numa fase mais tardia da época?

O empréstimo prevê uma opção de compra. Ficar é o objetivo ou preferiria voltar?

O objetivo é estar onde me posso valorizar mais. Achei que a melhor opção neste momento era vir para o Tenerife e afirmar-me fora de Portugal, é a minha experiência fora do país. Quem sabe? O Tenerife tem opção de compra, isso é público. Se me comprarem, é porque fiz um bom trabalho e sou uma boa opção. O futebol é muito bom aqui, há muita qualidade aqui.

Integrou os trabalhos de pré-época do Sporting de Braga. Carlos Carvalhal falhou consigo sobre a saída?

Na altura não falámos sobre isso. A pré-época foi normal, em momento algum fui excluído ou algo do género. Fiz a pré-época como os outros, a lutar por um lugar, mas surgiu esta oportunidade de vir para fora e vimos esta oportunidade de sair mais valorizado ainda. Depois disso, tudo foi tratado entre o clube e o meu agente. A mim, esta hipótese também me agradou muito. Como se diz aqui em Espanha, fiquei muito 'ilusionado'.

A última época começou da mesma forma para o Bruno, a sair do Sporting de Braga para reforçar o Tondela. Já se tinha estreado, mas foi a primeira vez que teve continuidade na I Liga. Que balanço faz da experiência?

Foi muito bom. O clube acolheu-me de uma forma incrível. Saí muito valorizado, com todas as condições. Trabalhei e tive de me adaptar, porque era um estilo de jogo diferente, é outra realidade, há mais qualidade no Braga, é normal. Fiz pela minha vida e as coisas correram bem, graças também aos meus colegas, porque tínhamos um grande plantel. Consegui evidenciar-me e tive a oportunidade de ser recomprado em janeiro pelo Braga e voltar a casa, como se costuma dizer.

Com a camisola do Tondela chegou a marcar um golo ao Sporting, onde foi formado. Foi o momento alto dessa meia época?

Foi um momento crucial da época. Acho que se definiram muitas coisas aí. O futebol é feito destes momentos, foi o culminar de muito trabalho. A forma como foi o golo, no minuto em que foi, ter sido o golo decisivo e contra quem foi. Teve muito impacto e ajudou-me a ter mais visibilidade para dar um passo em frente na carreira.

Fruto dessa boa meia época, surge a oportunidade de voltar ao Braga. Foi o Rúben Amorim que quis chamá-lo de volta?

Sim, foi o Rúben. O Braga tinha algumas lesões na defesa, era o Tormena que jogava do lado direito na minha posição e estava lesionado. O Amorim pediu ao presidente António Salvador para falar com o meu agente para me abordar sobre essa possibilidade. Ainda bem que acabou por se concretizar.

Passado pouco tempo de regressar a Braga, o Rúben Amorim vai para o Sporting. Em que medida é que a saída prejudicou-o? Com o Custódio, o Braga volta a jogar só com dois centrais, o que significava menos espaço para si.

Afetou-me um pouco, porque foi o treinador que me foi buscar. Eu encaixava que nem uma luva no estilo de jogo dele. A saída afetou-me, mas nunca deixei de trabalhar e acabei por colher os frutos mais tarde, ao jogar os últimos dois jogos.

Foi titular nesses últimos dois jogo, o último na vitória contra o FC Porto que garante o terceiro lugar...

Tenho muito boas recordações desse jogo. A fase final do jogo foi de muitos nervos e emoções, porque estavamos dependentes do resultado do Sporting-Benfica. Lembro-me do nosso jogo acabar, mas o dérbi ainda não tinha acabado. Estavamos no relvado a olhar para o camarote à espera que os nossos colegas que estavam de fora fizessem algum sinal cá para baixo. Ficamos em terceiro lugar e foi um momento de grande emoção.

Com Artur Jorge como treinador fez esses últimos jogos, um treinador que é uma figura do clube. O que lhe pedia?

Pediu-me para nunca parar de trabalhar, porque iria ter oportunidade. E assim foi. Apostou em mim e eu dei o meu melhor para ajudar a equipa. Agradeço-lhe muito a oportunidade. Correu tudo pelo melhor, conseguimos o terceiro lugar que era o nosso grande objetivo.

Foi uma época de afirmação na I Liga, mas a verdade é já se tinha estreado em dezembro de 2016, contra o Paços de Ferreira. José Peseiro foi quem o lançou.

Foi essa mesmo a minha estreia. Era novo, mas lembro-me de não me sentir nervoso. Achei que era o meu momento, que me iria afirmar e mostrar-me. Infelizmente, tive o azar de perdermos logo depois da minha estreia na Taça de Portugal contra o Covilhã. O futebol é assim, José Peseiro foi despedido e acabei por não voltar a ser aposta. Voltei à equipa B para trabalhar na mesma com o plantel.

Voltou ao Braga em janeiro, o que é interpretado como um passo em frente na carreira. Continua a achar que valeu a pena voltar, mesmo tendo feito apenas seis jogos?

Foi um passo em frente. É sempre bom estar num clube da dimensão do Braga, mesmo que não se jogue tanto. A valorização é outra. Só me valorizou mais estar no Braga e isso abriu-me portas.

Esta ida para o Tenerife, que é na segunda divisão, pode ser considerado um passo atrás. O Bruno mostrou que quando tem uma série de jogos consegue mostrar o seu potencial. É assim que encara esta oportunidade?

É mesmo assim. Não acho que seja um passo atrás, as pessoas é que nao têm noção que a segunda divisão espanhola tem um nível muito alto, vários clubes grandes e histórias e é muito competitiva. Muitos clubes lutam para subir e tem capacidade para estar na primeira liga. Foi um passo em frente. Se tudo correr bem, vou sair valorizado.

Dado o que mostrou em Tondela, acha que deveria ter saído mais cedo do Braga, até porque esteve duas épocas na equipa B?

Talvez poderia ter saído, mas acho que estava destinado para ser assim. Fui na altura certa e estava preparado. Não se concretizou antes, se fosse noutra altura poderia não ter sido assim.

É da segunda divisão espanhola que sai o reforço mais caro da história do futebol português, o Darwin Nuñez do Almería para o Benfica...

Exatamente. A partir daí vemos que é uma liga com muita visibilidade e que valoriza muito o jogador. Temos esse perfeito exemplo que o Darwin foi para o Benfica e foi a transferência mais cara do futebol português.

Domingos Duarte, que também é central, e Rui Silva são outro exemplo. Saíram para a segunda divisão espanhola e agora estão na seleção nacional.

O Domingos foi meu companheiro de equipa e ainda é meu amigo hoje. É o exemplo perfeito. Saiu do Sporting emprestado para o Deportivo, eles não subiram, mas o Granada contratou-o para jogar na La Liga e compra-o ao Sporting. Ele acaba por sair mais valorizado do que se estivesse em Portugal na I Liga num clube mais pequeno.

Nesse sentido, a seleção é um objetivo para o Bruno?

É um objetivo e um sonho. Não deixo de acreditar e acho que ainda vou mais do que a tempo.

Para terminar, o Bruno Wilson foi colega de equipa do David Carmo, que é visto como uma das grandes promessas do Sporting de Braga. Que avaliação faz dele, sendo da mesma posição que o Bruno?

É um amigo meu e é um jogador muito bom. Ainda é jovem e tem um grande potencial. Centrais de pé esquerdo chamam mais à atenção e saem mais valorizados porque há poucos. Tem todo o potencial do mundo e se continuar com o foco e profissionalismo que tem, chegará longe de certeza. O futuro só lhe vai reservar coisas boas, que é o que eu lhe desejo também.

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