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​Regresso à escola em pandemia. "Vamos ter que apoiar muito os professores neste ano lectivo"

06 set, 2020 - 17:29 • José Pedro Frazão

Os professores Nuno Crato, antigo ministro da Educação e Maria Filomena Gaspar, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra admitem que o novo ano traz ansiedade a todos no contexto da pandemia. Mas concordam no papel fulcral dos professores que durante o confinamento foram sujeitos a uma sobrecarga de trabalho e podem agora ter que levar para a sala de aula uma dose extra de empatia com crianças marcadas pela pandemia.

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Um novo ano lectivo com muito de novo. É o panorama que se abre agora em setembro para a comunidade escolar, a braços com as restrições necessárias para dar início à aprendizagem num convívio com a Covid-19 na comunidade. Nuno Crato, antigo ministro da Educação, sublinha que os pais aproximaram-se mais dos professores durante o confinamento, valorizando mais o papel do professor e nalguns casos mesmo com uma relação mais direta com os professores.

"Não me cesso de admirar os professores portugueses que reagiram muitíssimo bem nesta situação. Isto não é fácil, muitas vezes à custa de 'burnout', de degradação das relações familiares porque trabalham mais horas ", reconhece Crato que dirige desde há um ano a Iniciativa Educação criada por Teresa e Alexandre Soares dos Santos.

O matemático foi um dos convidados do programa "Da Capa à Contracapa", gravado ao vivo na Feira do Livro de Lisboa, que contou ainda com a presença de Maria Filomena Gaspar, Professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. A investigadora coordenou a parte portuguesa de um estudo internacional que procurou conhecer o impacto do confinamento ao nível do chamado "burnout parental", que designa as situações de exaustão física e mental dos pais.

Famílias altamente escolarizadas também afectadas

O estudo desencadeado por investigadores da Universidade de Tilburg, na Holanda, no âmbito de um consórcio internacional, é liderado pela Universidade de Louvain, na Bélgica. A partir de um questionário online aplicado durante o período de confinamento entre 30 de abril e 20 de maio, um terço das famílias revelou que a qualidade das relações decresceu entre pais e filhos nesse período.

"Estamos a falar de familias altamente escolarizadas. Nesta amostra a maioria tinha licenciatura, mestrado ou doutormaneto. Não estamos a falar de familias de risco social. Há famílias em risco entre aquelas que achamos que não têm risco", alerta Maria Filomena Gaspar que revela no programa alguns dados preliminares da investigação do caso português.

Um outro terço de famílias teve a experiência contrária, para quem estar em casa com os filhos "foi maravilhoso e vivido como o paraíso". Nessas famílias, a qualidade das relações aumentou e os pais acompanharam bem os filhos nas aprendizagens, realizando tarefas que nunca tinham experimentado. Sobra um último terço de famílias que manteve a qualidade das relações, gerindo o dia-a-dia com os recursos disponíveis.

A importância da empatia na escola

Maria Filomena Gaspar sublinha a importância do professor na forma como as crianças vão lidar com a pandemia neste novo ano letivo. "Não podemos chegar à escola e fazer de conta que não aconteceu nada. As crianças que estão a entrar na escola agora não são iguais às crianças que sairam da escola em março", alerta a investigadora da Universidade de Coimbra que apela aos professores do primeiro ciclo para que utilizem algum tempo a tratar do problema social da pandemia que atravessa a comunidade e a vida das crianças.

A convidada do "Da Capa à Contracapa" lembra que estamos a viver "uma crise de medo", que foi experimentada de alguma forma pelas crianças no seu círculo familiar. Maria Filomena Gaspar reconhece que os professores vão ter também que lidar com mais essa preocupação, a par da necessidade de ensinar as matérias constantes nos planos curriculares.

"Isto é um peso muito grande para os professores. Vamos ter que apoiar os professores porque isto acontece com a maioria das crianças. Sei que é dificil, mas vamos ter que pedir aos professores aquilo que é fundamental na relação humana. Empatia, colocarem-se no lugar do outro e responderem às suas necessidades e em simultâneo cuidarem deles", remata a investigadora no programa gravado ao vivo na Praça da Fundação Francisco Manuel dos Santos na Feira do Livro de Lisboa.

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  • Lambam sabão
    07 set, 2020 Desapareçam! 08:29
    Os professores também andam a pedir há muito, aquilo a que têm direito, e as respostas são negativas por parte do governo, do Martelo, e da indiferença dos pais para quem os professores não passam de amas-secas para tomar conta da fedelhada ...

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