“Diário de Uma Pandemia” em Lisboa. “Era necessário registar estes momentos únicos”

04 set, 2020 - 06:57 • Sofia Freitas Moreira

A mostra reúne trabalhos de mais de 130 fotógrafos e fotojornalistas portugueses e inaugura a 8 de setembro, em Lisboa. A Renascença falou com o organizador, que descreve a importância de divulgar os momentos fotográficos da pandemia de Covid-19 em Portugal.

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A Covid-19 vive na memória dos portugueses há seis meses, através das centenas de imagens que, ao longo de semanas, foram chegando aos ecrãs de todos. Desde a deteção da primeira infeção no país, a 2 de março, centenas de fotojornalistas portugueses percorreram ruas e hospitais com as lentes apontadas para a nova realidade que agora se vive.

A partir do próximo dia 8 de setembro, vai ser possível observar com mais atenção os principais trabalhos fotográficos destes profissionais.

Mais de 130 fotógrafos mostram como foram os dias dos portugueses desde a chegada da Covid-19, através de fotografias que vão estar em exposição, a partir de segunda-feira, na Galeria CC11, do bairro de Alvalade, em Lisboa.

Organizada pela associação cultural CC11, a exposição fotográfica e multimédia "Diário de Uma Pandemia" proporcionará "um retrato da vida quotidiana feito pela comunidade em Portugal de fotógrafos e fotojornalistas, videógrafos e documentaristas", durante a pandemia.

“O espaço é grande, o que é bom. O que nós queremos é que as pessoas se sintam seguras e que possam visitar a exposição com o devido distanciamento social”, conta à Renascença Bruno Portela, fotojornalista e organizador do evento.


Mais do que expor o trabalho destes profissionais, a iniciativa pretende também celebrar o esforço e a dedicação destes fotojornalistas, que ao longo dos últimos seis meses, não pousaram as câmaras.

“Houve muita gente que ficou em casa. Os fotógrafos profissionais, aqueles que trabalham para as agências e para os jornais, esses continuaram a trabalhar e foram registando aquilo que lhes era marcado. Infelizmente, e é esta a nossa realidade, a maioria são trabalhadores precários. São colaboradores de jornais, revistas, ou são fotógrafos de desporto, comerciais”, explica o organizador.

A maior parte dos fotojornalistas que vão ter os seus trabalhos expostos no evento têm carteira profissional de jornalista. Por isso, Bruno diz que “nos dias em que era proibido estar na rua ou em que não se podia passar por determinados sítios, eles podiam, porque iam trabalhar. Optaram por o fazer”.

Para além de captarem o que se passava nas ruas, durante as semanas de maior pico da pandemia em Portugal, alguns decidiram também fotografar as suas vidas familiares, em casa.

“Fizeram isto sem algum interesse económico por trás. Não foi um serviço que fizeram para um cliente, foi um serviço que fizeram para a comunidade”, comenta Bruno, que justifica o trabalho destes profissionais pela necessidade de "registar estes momentos, que são muito fortes e são únicos”.

“Já seis meses depois, vamos olhar para trás e recordar o que foi aquele momento. Daqui a dez ou 20 anos, no futuro, vai ser muito importante este registo fotográfico, de como é que se viveu esta pandemia. Esse é o lugar da fotografia. Fica sempre para a posteridade”.

"Espero que as pessoas se sintam sensibilizadas por aquilo que vão ver"


A exposição é constituída por quatro módulos, divididos por dois pisos: "EveryDayCovid", "Retratos de Portugal pelas Agências de Notícias", "Dias de Pandemia pela Imprensa Nacional" e "Claro e Escuro".

"EveryDayCovid" é um projeto fotográfico sediado na rede social Instagram, que contou com a colaboração de 119 fotógrafos e fotojornalistas portugueses, entre eles, oito editores que diariamente selecionavam os registos fotográficos.

"O isolamento, o sentido de clausura, a nova realidade das máscaras, a dinâmica dentro dos hospitais, lares, momentos políticos e até funerais, são alguns dos temas retratados", avança o fotojornalista Miguel A. Lopes, que fundou o projeto juntamente com Gonçalo Borges Dias. Os dois selecionaram cerca de 90 fotografias para a exposição.

"Retratos de Portugal pelas Agências de Notícias" é uma seleção de fotografias das agências Associated Press, France-Presse, Getty Images, Lusa/EPA e Reuters.

Segundo Bruno Portela, o objetivo deste módulo é “mostrar como as agências fotografaram Portugal e como fomos vistos lá fora”.

No módulo "Dias de Pandemia pela Imprensa Nacional", será possível observar 18 capas de jornais e revistas, “uma linha de tempo desta pandemia” selecionada pelo editor João Paulo Cotrim.

“Trata-se de uma seleção de capas de jornais desse período de 18 semanas, entre o início de março, quando foi confirmado o primeiro caso de infeção em Portugal, até 16 de julho, que foi quando decidimos terminar a edição desta exposição”, explica Bruno Portela.

"Claro e escuro" é o quarto módulo, que mostra o "olhar crítico e intimista" da artista visual Luísa Ferreira, com experiência de fotojornalismo na imprensa e em agência, autora de livros e de cerca de dezenas de exposições individuais, com trabalho feito sobre a pandemia.

O organizador do evento explica que se trata de “um olhar muito pessoal da Luísa Ferreira sobre a pandemia, porque é uma pessoa que está sempre a fotografar e tem um lado crítico e outro mais intimista sobre a sua visão do que foi este momento.”

A exposição "Diário de Uma Pandemia" ficará patente até 31 de outubro, na Galeria CC11, em Alvalade, seguindo depois para Tondela, de novembro a janeiro de 2021, e para o Taguspark, em Oeiras, de março a abril de 2021.

“Espero que as pessoas se sintam sensibilizadas por aquilo que vão ver e gostava que valorizassem o trabalho dos fotógrafos. Hoje em dia, veem-se imagens por todo o lado, mas ao verem este conjunto de fotografias profissionais podem perceber a diferença. Para contar uma história fotograficamente é preciso saber, ter treino”, sublinha Bruno Portela.

Fundada no início do ano 2020, a associação cultural CC11 tem como objetivo divulgar e promover a fotografia e o fotojornalismo em Portugal.

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