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Campanha “Olhe pelas suas costas”

Pela saúde dos miúdos, escolha bem a mochila

01 set, 2020 - 09:01 • Ana Carrilho

A mochila não deve transportar mais do que o correspondente a 10% do peso da criança. Indicador que, frequentemente, é ultrapassado. Os efeitos não se sentem logo, mas deixam marcas num corpo em desenvolvimento. Uma das razões que contribui para que 70-80% da população tenha lombalgias, ou seja, dores nas costas ao longo da vida.

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A Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral quer contribuir para que todos tratemos melhor das costas. Porque a Covid-19 não faz desaparecer todos os outros riscos.

As aulas começam daqui a duas semanas e por esta altura, muitas são as famílias que andam numa roda viva com a compra de livros e material escolar para os seus filhos. Os mais pequenos, sobretudo, desejam ter por companheiros nas mochilas os heróis da TV e regra geral, as marcas respondem aos seus desejos. A preços mais ou menos acessíveis é possível levar para a escola a mochila “desejada”. Mas será que é realmente “uma companheira saudável”?

Os especialistas frisam que as crianças não devem carregar mais do que o equivalente a 10% do peso corporal. “Se pesa 30kg, são três quilos; se pesa 40, são 4kg, explica à Renascença o médico ortopedista José Miguel Sousa. “Mais do que isso provoca um trauma repetido na coluna, em desenvolvimento, e estamos a sobrecarregá-la de forma inadequada”.

Retrato de uma boa mochila e sua correta utilização

José Miguel Sousa, membro da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral deixa alguns conselhos a ter em conta na hora de comprar um dos acessórios mais importantes do material escolar. E de como o usar.

A mochila deve ser adequada ao tamanho da criança. “Às vezes compra-se maior para caber tudo, mas não é o que se pretende porque isso só vai sobrecarregar mais as costas”. Deve ter uma base semi-rígida no dorso para apoio lombar e com vários compartimentos para uma distribuição mais homogénea do peso. O tamanho da mochila não deve ultrapassar o nível superior dos ombros e deve ser colocada no centro da coluna. Deve ter duas alças largas e almofadadas para evitar contraturas musculares.

O uso da mochila apena sobre um dos ombros é incorreto, “provoca uma carga desproporcional e ficamos desequilibrados”, adverte o ortopedista, deixando o conselho para crianças e adultos, já que essa é uma prática muito comum. E frisa que deve ser usada com as duas alças colocadas, tanto quanto possível, justas ao dorso. Melhor ainda, são as que permitem apertar também à frente, na cintura ou na zona peitoral.

Os livros mais pesados devem ser colocados na parte de trás, mais encostados ao dorso.

O trolley pode ser uma boa opção, mas apenas se o percurso até à escola for plano e sem escadas. Caso contrário e se por exemplo, a criança tiver de apanhar transportes, com subida e descida de escadas, ainda é pior, torna-se muito mais pesado, alerta o clínico.

Há mais riscos para além da Covid

O objetivo da campanha “Olhe pelas suas costas” é alertar as pessoas de todas as faixas etárias para a importância de cuidarmos da nossa coluna.” Ainda por cima, com esta fase que temos passado de confinamento”.

Neste início de ano letivo, a prevenção dos riscos de contágio da Covid-19 dominam as preocupações de pais, professores, Direção Geral de Saúde e governo. Mas José Miguel Sousa frisa que é preciso não esquecer os outros riscos, nomeadamente, o sedentarismo e a obesidade infantil. Ambos com impacto na saúde da coluna vertebral.

Os dados da OMS -Organização Mundial de Saúde – referem que, em média, as crianças têm um peso 30% acima do ideal, com risco de obesidade e 80% dos adolescentes não tem hábitos regulares de prática de exercício físico. Por outro lado, um relatório da Direção- Geral de Saúde (DGS) avança que, em média, as crianças portuguesas passam 9 horas por dia em comportamentos sedentários.

15% dos adolescentes portugueses sofrem de dores nas costas e estima-se que 60% das crianças já tenham sofrido deste tipo de dores em alguma fase da sua vida. A lombalgia – dor nas costas – pode atingir 70-80% da população ao longo da vida. E esta incidência da dor na população infantil está a aumentar, diz José Miguel Sousa. “Queremos reduzir a agressão das estruturas da coluna, nomeadamente dos discos (que vão ficar mais sobrecarregados) e de algumas articulações, tentando evitar a sua degeneração, que é o que vai acontecer com o tempo. Muitas vezes não é um problema que ocorre de um dia para o outro. Estamos a falar de alterações no tempo, de uma coluna em desenvolvimento, e que podem ter consequências graves, mais à frente, na nossa vida”.

A atividade física é, por isso, muito importante. Mas com as restrições decorrentes da pandemia, nalgumas escolas a disciplina de Educação Física poderá mais difícil de lecionar. Difícil, mas não impossível. “Enquanto o tempo o permitir, devem ser privilegiadas as atividades ao ar livre e com algum distanciamento. Há desportos que o permitem. Mais à frente, com chuva e frio, em que as aulas só poderão ocorrer dentro de pavilhões, então, muito provavelmente, os professores terão que dividir as turmas. Mas é importante que todos os alunos pratiquem exercício”, diz José Miguel Sousa.

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