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Bolsonaro ameaçou jornalista e agora diz-se... perseguido pela Rede Globo

24 ago, 2020 - 22:08 • Redação

Um ex-assessor da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, terá feito, entre 2011 e 2016, cerca de 20 depósitos na conta de Michelle Bolsonaro no valor total de 13 mil euros. Questionado sobre tal facto, o Presidente brasileiro respondeu a um jornalista da Globo: "A vontade que tenho é de encher a sua boca de porrada".

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O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que no domingo ameaçou um jornalista após ser questionado sobre depósitos não justificados na conta bancária da sua mulher, afirmou esta segunda-feira ser perseguido pela Globo.

O governante usou as redes sociais para denunciar supostas ligações do Grupo Globo, o maior grupo de media do Brasil, com um "doleiro" (designação dada a quem efetua câmbios de moeda em mercados paralelos) preso e condenado no âmbito da Operação Lava Jato.

"O sistema Globo está-me perseguindo há pelo menos 10 anos sem provar nada", escreveu Bolsonaro na sua conta na rede social Twitter, acrescentando que aguarda "explicações da família Marinho" (dona da Rede Globo) sobre denúncias do "doleiro" Darío Messer, condenado a 13 anos de prisão na semana passada por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Bolsonaro referia-se a uma reportagem publicada pela revista Veja sobre um acordo de colaboração judicial firmado por Messer, ainda mantido em sigilo judicial, no qual o detido terá dito que realizou operações irregulares de câmbio para a família Marinho. No entanto, a própria Veja esclareceu que, de acordo com as informações que obteve, Messer não apresentou qualquer prova de um suposto negócio com os donos da Rede Globo. Estes negaram veementemente, através das suas redes de comunicação, qualquer relação com o 'doleiro'.

Bolsonaro atacou a Globo um dia depois de se irritar publicamente com um repórter daquele grupo que lhe perguntou sobre um escândalo que envolve a sua mulher, Michelle Bolsonaro. "A vontade que tenho é de encher a sua boca de porrada", disse Bolsonaro ao jornalista durante uma visita a uma pequena feira de artesanato em frente à Catedral de Brasília.

De acordo com denúncias publicadas nos últimos dias por diferentes meios de comunicação social do Brasil, um ex-assessor da família Bolsonaro chamado Fabrício Queiroz fez entre 2011 e 2016 cerca de 20 depósitos na conta de Michelle Bolsonaro no valor total de 89 mil reais (cerca de 13,3 mil euros).

Queiroz está atualmente detido em casa no âmbito de uma investigação que também envolve o filho mais velho do Presidente brasileiro, Flávio Bolsonaro, acusado de desvio de recursos públicos quando exercia o mandato de deputado estadual do Rio de Janeiro. De acordo com as denúncias, Flávio Bolsonaro exigiu que os seus assessores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro lhe dessem uma parte dos seus salários, o que é ilegal, cabendo a Queiroz arrecadar o dinheiro e depositá-lo nas contas da família Bolsonaro.

Nas redes sociais, uma mensagem rapidamente se tornou viral repetindo a pergunta a que o Presidente não respondeu: "Presidente @jairbolsonaro: por que sua esposa, Michelle, recebeu 89 mil reais de Fabrício Queiroz?"

Os ataques de Bolsonaro à imprensa são recorrentes desde que assumiu o poder, em janeiro de 2019, e têm como alvo, em particular, o Grupo Globo. O governante chegou a ameaçar não renovar a concessão do sinal de televisão do grupo quando expirar, em 2022.


Bolsonaro volta a defender uso de cloroquina

O Presidente insistiu na eficácia da cloroquina como tratamento da covid-19, durante um encontro com dezenas de médicos sobre a pandemia, que já causou mais de 114 mil mortes no país.

"A História não se vai lembrar dos fracos, covardes e das omissões", disse Bolsonaro numa cerimónia realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, com representantes de grupos de médicos que promovem o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus.

Esses medicamentos usados regularmente em pacientes com malária, entre outros males, têm gerado polémica na comunidade científica global graças aos seus efeitos colaterais e a falta de comprovação da sua eficácia contra a covid-19.

Bolsonaro defende publicamente a aplicação dessas substâncias quando surgirem os primeiros sintomas da covid-19 e diz ter usado cloroquina quando foi infetado pela doença, no início de julho.

No evento, o Presidente brasileiro afirmou que quando surgiram as primeiras notícias sobre a pandemia começou a estudar a situação e ficou sabendo que a cloroquina era recomendada nos Estados Unidos, França, Índia, apesar das dúvidas da Organização Mundial do Saúde (OMS).

Bolsonaro também recordou as divergências que teve com o médico e deputado Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, que se demitiu no início da pandemia por defender o isolamento social e por não ter aprovado uso da cloroquina contra a covid-19 no país.

"Assim como um paciente muda de médico, eu mudei de ministro", disse Bolsonaro, que mantém no comando do Ministério da Saúde o general Eduardo Pazuello, um especialista em logística sem experiência em saúde.

"Precisamos de um gestor", disse Bolsonaro ao mencionar o militar que, na qualidade de ministro interino da Saúde alterou os protocolos do órgão e permitiu o uso da cloroquina com o aparecimento dos primeiros sintomas do novo coronavírus.

Segundo Bolsonaro, o problema da cloroquina tem sido, na verdade, o debate político que surgiu na comunidade científica em relação à sua eficácia contra a covid-19. "Se não tivesse sido politizado, muitas mais vidas poderiam ter sido salvas", garantiu o Presidente brasileiro.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados e de mortos (mais de 3,6 milhões de casos e 114.744 óbitos), depois dos Estados Unidos.

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