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Praga de gafanhotos. FAO defende resposta conjunta na África Austral

14 ago, 2020 - 09:04 • Lusa

Os “insetos deslocam-se muito depressa e podem atravessar as fronteiras em menos de 24 horas”, alerta o representante da organização em Moçambique. As pragas de gafanhotos já duram, pelo menos, desde fevereiro.

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O representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura em Moçambique (FAO, na sigla inglesa) defendeu nesta sexta-feira uma resposta conjunta entre os países da África Austral para fazer face à praga de gafanhotos na região, alertando para a sua rápida propagação.

Os “insetos deslocam-se muito rapidamente e podem atravessar as fronteiras sem que ninguém perceba em menos de 24 horas. Portanto, esta parte da coordenação regional é uma componente muito importante para travar a propagação”, disse Hernâni Coelho da Silva, em entrevista à Lusa, em Maputo.

Na África Austral, além de Maláui e Tanzânia, a praga do gafanhoto vermelho já afeta quatro distritos de duas províncias de Moçambique, nomeadamente Sofala e Niassa.

Após uma informação reportada pela FAO sobre a eclosão da praga em alguns países da região, o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural moçambicano lançou em julho um "alerta máximo" para a região fronteiriça entre Moçambique e Maláui, avançando que a praga pode constituir perigo para a segurança alimentar.

As zonas de maior risco em Moçambique são os distritos de Buzi, Gorongosa e Caia, na província de Sofala, centro de Moçambique, e Macanhelas, na província do Niassa, norte do país.

“Neste momento, a praga está na fase de eclosão e os insetos estão a procriar-se nestas zonas”, alertou Hernâni Coelho da Silva.

Com uma capacidade reprodutiva muito alta, o peso médio do gafanhoto vermelho é de dois gramas e, por dia, o inseto consome a mesma quantidade de “tudo que é verde”.

“Imagine se tivermos uma tonelada de gafanhotos vermelhos acumulados numa zona, eles podem comer as plantas em quantidades que seriam suficientes para alimentar 2.500 pessoas. Temos de estar muito atentos e tomar medidas atempadas”, frisou o representante da FAO em Moçambique.

Além de coordenar uma resposta regional face à praga, esta organização das Nações Unidas quer reforçar a capacidade técnica dos países e disponibilizar produtos necessários para a conter, mas é preciso prestar atenção às consequências para o ecossistema.

“Se forem utilizados produtos químicos que não são adequados à circunstância em que as pragas estão, poderão afetar o ecossistema no seu todo. Portanto, a padronização da resposta e o conhecimento são muito importantes”, declarou Hernâni Coelho da Silva.

Maioria da população vive da agricultura

A última praga que atingiu Moçambique data de 2010 e, pelo menos, 300 hectares de culturas diversas foram destruídos – um número consideravelmente baixo, tendo em conta que a praga chegou ao país num momento em que a colheita tinha sido feita.

Como forma de resistir aos altos índices de pobreza e à desnutrição crónica, a maior parte da população moçambicana, que vive em zonas rurais, recorre à agricultura de subsistência como único meio para fugir a fome.

Num momento em que o principal desafio é a pandemia da Covid-19, a aposta na capacitação e apoio ao pequeno agricultor continua a ser fundamental para responder aos altos índices de insegurança alimentar e a criação de cadeias de valor é vista pela FAO como uma solução.

“Perto de 66% da população vive nas zonas rurais e 90% dessa população depende da agricultura. Mas a nossa produtividade em Moçambique está ainda para além da média da produção em África”, observou Hernâni Coelho da Silva.

Com as restrições impostas pelo novo coronavírus, a FAO teme que os esforços para reforçar a capacidade dos pequenos agricultores e apoiar o setor sejam severamente afetados, havendo um plano orçado em 20 milhões de dólares (17 milhões de euros) para evitar este cenário e garantir que os agricultores estejam informados sobre as medidas de prevenção contra a pandemia.

Em fevereiro, uma praga de gafanhotos atacou a África Oriental. A Somália decretou emergência nacional e a União Europeia enviou 11 milhões de euros em ajuda. Estas pragas eram de gafanhoto-do-deserto.

A praga de gafanhotos chegou também ao Paquistão e à Índia.

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