Reportagem

Cartuxa. Viagem à casa dos monges brancos

08 ago, 2020 - 10:03 • Rosário Silva (texto e fotos)

Nos meses que separam a presença de duas comunidades religiosas, uma masculina e outra feminina, na Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, a Fundação Eugénio de Almeida (FEA), está a promover um ciclo de cinco visitas guiadas ao eremitério, a casa cartusiana do Alentejo. A Renascença fez a viagem pela história e pelo património, que deu forma física ao carisma de isolamento e silêncio da Ordem de São Bruno.

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No próximo sábado, 8 de agosto, quando o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, conhecido como Cartuxa de Évora, abrir as portas para a segunda visita, de hora e meia, de um ciclo que decorre até setembro, o grupo de pessoas inscritas vai começar por ouvir uma citação de Miguel Torga, escolhida pelo investigador, Luís Ferro, o jovem arquiteto convidado pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA), para orientar a iniciativa.

“A finalidade destas visitas guiadas é poder promover este encontro entre a cidade e o mosteiro, pois existe um enorme fascínio das pessoas pelo mesmo”, explica, à Renascença, Luís Ferro.

“Aquilo que lhes desperta maior curiosidade será o hábito dos monges, a sua forma de viver, em silencio e em isolamento, mas para além disso, também há um conjunto de arquitetos que querem ver a arquitetura do mosteiro, historiadores que querem ver que património é este, que esteve sempre à vista de todos, mas escondido e interdito”, acrescenta.

Para o investigador, existe “uma mística muito forte na comunidade, em geral”, daí a organização destas visitas guiadas.

São gratuitas e acontecem, além deste sábado, nos dias 22 de agosto (08:00) e 05 e 19 de setembro (às 19:00), cada uma com uma lotação máxima de 15 pessoas.

“O horário é propositado, pois à primeira hora do dia, às 8 da manhã, o mosteiro tem uma luz especial, e às sete da tarde, teremos o pôr do sol, uma luz mais queimada, mais dourada, que é igualmente muito bonita, o que se traduz numa experiência”, indica, o arquiteto, também autor do livro “O Eremitério da Cartuxa de Évora. Arquitectura e Vida Monástica”.

Lançada em 2019, a publicação desvenda novas especificidades do Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli - ou Cartuxa de Évora -, datada de finais do século XVI e sinal da única presença, em Portugal, dos monges cartuxos.

Aos monges, seguem-se as monjas. Apesar de algumas mudanças a efetuar no espaço conventual, Luis Ferro mostra-se convicto que a arquitetura do próprio Mosteiro se adapta ao feminino.

“Quando a arquitetura é boa, quando o suporte é bom, há um modelo muito forte de adaptação a novas utilizações. A grande lição a tirar desse edifício é, exatamente”, refere.

“Este edifício, durante as invasões francesas foi um hospital de sangue, depois da extinção das ordens religiosas foi utilizado como escola agrícola, foi uma fábrica com rolhas de cortiça e, finalmente, reconstruído e devolvido aos monges da Ordem de São Bruno. O edifício conseguiu sempre conciliar as suas várias histórias numa historia mais longa, num movimento mais largo da História”, esclarece, Luís Ferro.

O que vai ver e ouvir

Depois de citar Miguel Torga, Luís Ferro vai fazer o enquadramento da Ordem de São Bruno, assim como um resumo da historia do edifício, para que os visitantes compreendam melhor o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli (Escada do Céu), onde estão prestes a entrar.

À passagem pelo claustro pequeno, palco das festas e rituais coletivos, da vida comunitária, segue-se uma visita à Igreja. O templo guarda um detalhe. Na visita guiada que fez à Renascença, e que já pode ouvir, o investigador vai explicar esse pormenor, que se prende com a separação do espaço religioso em duas partes.

Nos últimos anos de vida da Cartuxa, a Igreja tornou-se demasiado grande para os poucos monges, que decidiram passar a fazer as orações no espaço da antiga sacristia, de resto, um dos locais que vai poder conhecer.

Para chegar ao centro do eremitério, os visitantes transpõem uma porta, na qual o padre Antão Lopez, monge cartuxo, recorda Luís Ferro, dizia: “Igrejas e mosteiros há muitos. Cartuxas, poucas. Esta, começa aqui!”

Já no interior do claustro grande, o elemento que atribui identidade do ponto de vista da arquitetura ao Mosteiro, os visitantes são conduzidos ao tanque, local de grande simbolismo, e conhecido como “Olho do Céu”.

As visitas passam, ainda pela Casa da Eternidade (cemitério) e pelas celas, de resto, o espaço que concentra maior fascínio para os visitantes ou não fosse o “abrigo do eremita”, onde cada monge avivava a “chama”, dia após a dia.

“É uma oportunidade única para a comunidade eborense e até nacional, que sempre acarinharam muito o edifício e os seus habitantes”, lembra o investigador.

“Apesar de haver um distanciamento, sempre houve uma enorme curiosidade sobre tudo o que toca o universo cartusiano, não só no sentido espiritual ou religioso, mas também académico, por parte de investigadores que estavam muito interessados neste universo”, alude, o arquiteto Luís Ferro, que este sábado, 8 de agosto, realiza mais uma visita guiada à Cartuxa de Évora.

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