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Juiz nomeado por Costa arquiva inquérito a acidente de helicóptero do INEM em Valongo

04 ago, 2020 - 17:35 • Lusa

Em 2018, cinco dias após o acidente, o primeiro-ministro assinou um despacho em que designou o juiz conselheiro jubilado Paulo Armínio de Oliveira e Sá como instrutor do inquérito.

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O juiz designado pelo primeiro-ministro concluiu pelo arquivamento do inquérito às entidades envolvidas no socorro ao helicóptero do INEM, que se despenhou em dezembro de 2018, em Valongo, distrito do Porto, causando a morte aos quatro ocupantes.

“O relatório exarado pelo juiz conselheiro já foi dado como concluído [e] já entregue ao primeiro-ministro com despacho de arquivamento. O documento não será divulgado por conter dados pessoais dos envolvidos e inquiridos no relatório”, respondeu hoje o gabinete de António Costa, depois de questionado pela agência Lusa, que pediu para ter acesso ao documento.

Em 20 de dezembro de 2018, cinco dias após o acidente com o helicóptero ao serviço do INEM, que colidiu com uma torre de radiodifusão na Serra de Santa Justa, o primeiro-ministro assinou um despacho em que designou, na sequência de uma indicação do Conselho Superior da Magistratura, o juiz conselheiro jubilado Paulo Armínio de Oliveira e Sá como instrutor do inquérito “aos órgãos e serviços envolvidos nas operações subsequentes ao acidente aéreo”.

O relatório preliminar da Proteção Civil, tornado público dois dias antes deste despacho, apontava falhas a várias entidades, como à NAV Portugal, que gere o tráfego aéreo, e ao 112, na gestão do socorro prestado ao Agusta A109S, ao serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e operado pela empresa Babcock, que se despenhou quando regressava à sua base de origem, em Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, após realizar “um transporte urgente” de uma doente para “um centro hospitalar do Porto”.

O acidente causou a morte do piloto e do copiloto, de 56 e 31 anos, de um médico de nacionalidade espanhola de 47 anos e de uma enfermeira de 34.

No despacho de 20 de dezembro de 2018 lê-se que o primeiro-ministro ordenou “a abertura de um inquérito à atuação dos órgãos, serviços ou unidades orgânicas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), I.P., do Serviço 112, da Navegação Aérea de Portugal-NAV Portugal, E.P.E., do Centro Coordenador de Busca e Salvamento de Lisboa (RCC Lisboa) da Força Aérea Portuguesa, da Autoridade Nacional de Proteção Civil e demais entidades envolvidas nas operações subsequentes ao acidente aéreo (...)”.

Na nota introdutória do documento, António Costa justificava que “surgiram dúvidas sobre a adoção diligente e atempada dos procedimentos estabelecidos na sequência deste tipo de ocorrências, por parte de diferentes entidades públicas”.

Nesse sentido, o chefe do Governo considerava ser “essencial definir, com precisão, os contornos fácticos e jurídicos para efeitos de apuramento de eventuais responsabilidades emergentes da atuação após o acidente, através de um inquérito único que abarque o conjunto da atuação das diferentes entidades envolvidas, permitindo esclarecer cabalmente possíveis falhas”.

No relatório final ao acidente, divulgado pela Lusa em 10 de março deste ano, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) “determinou como causa mais provável para o acidente a colisão da aeronave com a torre de radiodifusão, devido a voo efetuado abaixo das altitudes mínimas previstas na regulamentação”.

O GPIAAF apontou também falhas à Autoridade Nacional da Aviação Civil (regulador do setor), na supervisão, e ao INEM e à Babcock pelo incumprimento contratual entre este organismo público e a empresa que opera os helicópteros de emergência médica.

Dois meses e meio depois, em maio, a Procuradoria-Geral Distrital Porto (PGDP) anunciou que, por despacho de 03 de abril deste ano, o Ministério Público, no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP - Valongo, secção única), “determinou o arquivamento” do inquérito-crime ao acidente.

“O Ministério Público concluiu que os factos não afastam a cogitação de várias hipóteses como causa do acidente, sendo uma delas um agravamento inesperado do tempo meteorológico durante a travessia da serra, que tenha diminuído drasticamente as condições de visibilidade, sem que se tenha apurado em concreto, com a necessária segurança, qual delas se verificou; pelo que, face a esta incerteza, foi determinado o arquivamento dos autos”, explicava a PGDP, numa nota publicada na sua página da internet, em 26 de maio.


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  • José carlos fernande
    04 ago, 2020 Lisboa 20:09
    Esta notícia não surpreende ninguém! O Povo Portugues está habituado a ver altos magistrados da Nação, no rescaldo de calamidades, aparecerem nos Media, de ar circunspecto, anunciar que vai ser instaurado um inquérito muito sério para apurar as circunstâncias do que aconteceu! Exactamente o que o Primeiro Ministro Vista fez! E ao fim de 18 meses após o acidente que deixou a sociedade portuguesa muito preocupada com o que se dizia, à LUSA - Parabéns sos jornalistas que são dignos desse nome e prestigiam a organização - iniciou um trabalho de investigação jornalística para saber o que afinal tinha acontecido ao inquérito administrativo que o Sr PM decidiu instaurar . A resposta foi a normal: foi arquivado ! Aí foi? E porque? Antecipo que a resposta foi : sigilo ! Sigilo? O Sr PM anuncia à Nação que um St Juiz Jubilado tinha sido encarregado de conduzir um Inquérito Administrativo e depois ... Arquivado? E o Sr PM sabe disto? Os cidadãos de Portugal a quem esconderam tanta coisa - mais recentemente cláusulas da negociata do Banco Novo- merecem que lhes escondam aquilo que o Sr PM prometeu revelar? Ou - como legitimamente pensamos- a causa do acidente foram várias falhas do nível do Regulador Estado/ ANAC? Estou enganado ou muito recentemente aconteceu o acidente do Alfa Pendular? E o Regulador? Se houver relação entre as situações o Povo Português tem de saber! E os deputados eleitos pelo Povo nos questionam? Atenção que é mais racional e inteligente falar e responsabilizar

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