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Governo não quer Novo Banco a vender e critica Deloitte por atraso na auditoria

30 jul, 2020 - 23:23 • Filipe d'Avillez , com Lusa

Apenas vão ser apresentadas conclusões parciais. A auditoria, que custou três milhões de euros ao banco, deveria ter sido concluída em maio, mas, devido à pandemia, acabou por ser adiada para final de julho.

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O Ministério da Economia criticou esta quinta-feira, em comunicado, a consultora Deloitte pelo atraso na entrega do relatório da auditoria feita ao Novo Banco.

Enquanto esse relatório não for entregue não serão realizadas operações de venda de carteiras de ativos improdutivos por parte do banco, por sugestão do Governo, a que o fundo de resolução acedeu.

Na sexta-feira vai realizar-se uma reunião do Comité de Acompanhamento Operacional da auditoria ao Novo Banco, “órgão que é composto pelo Fundo de Resolução, pelo Novo Banco, enquanto entidade auditada, e pela Deloitte, enquanto auditor independente selecionado para a realização da referida auditoria”, refere o comunicado.

“Na sequência da insistência do Governo para se concluir a auditoria, o Ministério das Finanças, que não integra o mencionado Comité de Acompanhamento Operacional, foi informado de que, nessa reunião, o auditor independente apresentará as conclusões preliminares de um conjunto de secções integrantes do relatório de auditoria, para efeitos do exercício de contraditório pela entidade auditada e solicitação de eventuais esclarecimentos adicionais por parte do Fundo de Resolução”, pode ler-se ainda no comunicado.

“O Ministério das Finanças lamenta que, nessa data, o auditor independente não apresente ainda a versão final e definitiva do relatório de auditoria e aguarda que esse relatório seja concluído e dado a conhecer ao Governo e aos partidos representados na Assembleia da República no mais curto prazo possível”, diz o ministério.

Dada a circunstância, o Governo considera que não devem ser realizadas operações de carteiras de ativos improdutivos. “Na sequência das preocupações expressas pelo Governo, o Fundo de Resolução informou hoje o Ministério das Finanças que partilha do mesmo entendimento, tendo já comunicado ao Novo Banco que este não deve realizar tais operações até à conclusão do processo de auditoria”, conclui o documento enviado à Renascença.

O Novo Banco, que ficou com parte da atividade bancária do BES na sequência da resolução de 2014, foi vendido em 2017 ao fundo norte-americano Lone Star, que detém 75% do seu capital, sendo os restantes 25% propriedade do Fundo de Resolução bancário, entidade gerida pelo Banco de Portugal.

O "Expresso" noticiou no sábado que António Costa enviou uma carta à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, onde pede a suspensão da venda de ativos do Novo Banco até que esteja concluída a auditoria que está a ser feita pela Deloitte.

Segunda a carta, a que a Lusa teve posteriormente acesso, o chefe do Governo fala das acusações feitas no parlamento pelo presidente do PSD, Rui Rio, sobre as vendas de ativos pelo Novo Banco para sustentar o pedido para que o Ministério Público desenvolva "os procedimentos cautelares adequados à proteção dos interesses financeiros do Estado" até que a auditoria esteja concluída.

O jornal "Público" noticiou, no início de julho, que o lote de quase 200 imóveis vendido em agosto de 2019 com um desconto próximo de 70% a entidades ligadas ao fundo de investimento Cerberus teve perdas de 328,8 milhões de euros e que esse fundo é o principal acionista do banco austríaco Bawag PSK, que era liderado por Byron Haines até meados de 2017, pouco antes de este assumir o cargo de chairman do Novo Banco (presidente do Conselho Geral e de Supervisão).

Já na terça-feira, o "Público" noticiou que a venda de outro conjunto de imóveis feita em outubro de 2018 (projeto 'Viriato', como designou o Novo Banco) foi feita a entidades de um fundo registado nas ilhas Caimão em que se desconhecem os donos, com preço significativamente abaixo do registado (os imóveis estavam registados no balanço do banco por 631 milhões de euros e foram vendidos por 364 milhões), tendo o Fundo de Resolução coberto perdas de centenas de milhões de euros. Além disso, o negócio foi feito com dinheiro que o Novo Banco emprestou ao fundo para este fazer esta aquisição.

Um dia depois, o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, afirmou em comunicado estar disponível para prestar todos os esclarecimentos ao parlamento “até em agosto”, na sequência das notícias sobre operações de venda de imóveis.

“O Conselho de Administração [CA] Executivo do Novo Banco regista – sem classificar – a circunstância de estar neste momento a ser publicamente comentada uma operação realizada, anunciada e auditada em 2018, a escassos dias de ser concluída a auditoria especial sobre esse período e antes de ouvidos os respetivos intervenientes, com base num artigo de jornal”, adiantou o comunicado, indicando que o banco não “contraditará estes comentários até à divulgação dos resultados da auditoria em curso”.

No mesmo comunicado, o CA “reafirma que as operações realizadas sobre imóveis sempre o foram de acordo com os princípios de boa conduta e práticas bancárias adequadas e seguramente na estrita obediência da lei e dos contratos assinados em 2017, incluindo a gestão partilhada dos ativos protegidos que eventualmente podem gerar perdas a suportar pelo seu acionista Fundo de Resolução”.

[Notícia atualizada às 23h55]

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  • J M
    31 jul, 2020 Seixal 17:32
    Ups! Saiu uma notícia sobre o escândalo imobiliário que omitimos no relatório. Adia. Adia a entrega senão ficamos mal na fotografia, o Ramalho tem até ao início de Setembro para cozinhar a tramóia. Nós Deloitte somos uma empresa "independente, honesta e dedicada", temos de justificar os três milhões de euros que cobrámos ao banco. Não se pode esconder tudo ao Ministério das Finanças.

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